No Amazonas, a nova eleição e a política como ela é

JEFERSON RIBEIRO

30/07/2017

 

 

População vai às urnas no próximo domingo escolher governador entre candidatos tradicionais do estado

As revelações da Operação Lava-Jato, a falência administrativa do estado e um governador cassado por abuso de poder econômico na eleição de 2014 não foram suficientes para transformar a disputa eleitoral do próximo dia 6 no Amazonas. Os eleitores terão de escolher um governante tampão entre candidatos e práticas tradicionais da política.

A aposta de que o atual ambiente político poderia provocar uma renovação dos candidatos, favorecendo os chamados outsiders, gente de fora dos tradicionais círculos partidários, não se confirmou na primeira eleição estadual sob esse novo cenário.

Entre os nove candidatos registrados, os que lideram as poucas pesquisas feitas desde o início da campanha eleitoral no rádio e na TV, em 10 de julho, estão o ex-governador do estado por três mandatos Amazonino Mendes (PDT); seguido pelo senador Eduardo Braga (PMDB), investigado pela LavaJato; e pela ex-deputada Rebecca Garcia (PP), que teve seu companheiro de chapa cassado nesta semana por ser ficha-suja. PT, PSB, PPS, PHS, Rede e PPL também lançaram candidatos.

— O que surpreende é que tenhamos nove candidatos — disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes.

Ele esteve na semana passada em Manaus para inspecionar os preparativos do pleito que custará cerca de R$ 18 milhões.

O procurador regional eleitoral Victor Santos disse esperar que “o eleitor não escolha um candidato que não tenha uma vida pública limpa”.

— Prefiro não qualificar como decepcionante (a falta de novas alternativas para o eleitorado). As instituições estão evoluindo — disse ele.

Gilmar e o procurador eleitoral, contudo, acreditam que a eleição no Amazonas não pode ser tomada como parâmetro sobre o que ocorrerá em 2018.

— A circunstância dessa eleição favorece um recall. Não acho que dá para extrapolar (para próximas disputas) — disse o presidente do TSE.

 

BATALHA JUDICIAL

José Mello (PROS) e seu vice José Henrique de Oliveira (SD) foram cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no início de maio por abuso de poder econômico nas eleições de 2014. Na mesma sentença, os ministros determinaram a convocação de eleições diretas para escolha de um novo governador. Depois de idas e vindas, o STF decidiu que as eleições deveriam ser no dia 6.

— Há uma preocupação com a possibilidade de abstenção muito grande — avaliou Gilmar.

A confusão do eleitorado fica ainda maior quando ele olha para as chapas montadas para a disputa, porque adversários viraram aliados e vice-versa. Eduardo Braga, por exemplo, tem como candidato a vice Marcelo Ramos (PR). Em 2014, Braga perdeu a disputa para José Mello e tinha Ramos como ferrenho adversário, que estava no PSB e apoiou no segundo turno o governador que acabou cassado.

Rebecca tentou se lançar candidata ao governo em 2014, mas acabou compondo chapa com Eduardo Braga. Agora, é sua adversária.

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), teve, em 2016, o apoio de Braga, que indicou seu atual vice, Marcos Rotta (PMDB). Agora, porém, preferiu se aliar com Amazonino, indicando o tucano Bosco Saraiva para vice na chapa.

Em meio a essa confusão, os amazonenses vão às urnas para eleger o administrador que receberá um estado em grave quadro fiscal, com aumento de criminalidade, desemprego e que tem recebido centenas de venezuelanos, a maioria indígena, fugindo do país em crise.

O globo, n. 30673, 30/07/2017. PAÍS, p.7