Título: Novo vazamento em três meses
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 01/02/2012, Brasil, p. 6

Petrobras confirma o derramamento de 160 barris na Bacia de Santos (SP). O acidente é o terceiro desde novembro

Uma equipe da Agência Nacional de Petróleo (ANP) começa a apurar a dimensão do vazamento de óleo identificado, na manhã de ontem, na região do pré-sal da Bacia de Santos, em São Paulo. Segundo a Petrobras, que explora o poço acidentado, uma coluna de produção, instrumento usado para transportar o recurso do fundo das rochas até o navio, rompeu, resultando na dispersão de cerca de 160 barris de óleo. Somente com a chegada dos técnicos da ANP será possível avaliar o tamanho do estrago, bem como verificar se o sistema de segurança fechou automaticamente o poço, conforme anunciou a companhia. Em menos de três meses, é o terceiro problema envolvendo retirada e transporte de petróleo no mar.

Em novembro passado, a norte-americana Chevron borrou a Bacia de Campos, no Rio, com uma quantidade de óleo até hoje não definida claramente. Enquanto a empresa falou em 330 barris por dia, especialistas estimaram uma vazão 10 vezes superior. Na semana passada, foi a vez de Tramandaí, no litoral norte do Rio Grande do Sul, onde um navio da Petrobras deixou escapar óleo, causando uma mancha de aproximadamente 800m que chegou a atingir praias. Para especialistas e leigos, os episódios trazem uma dúvida perturbadora sobre o nível de segurança do setor em um país que vislumbra se tornar um gigante do petróleo.

"O vazamento na Bacia de Santos, depois de outras ocorrências graves, significa não mais que a confirmação de uma profecia. De um lado, temos uma indústria de alto risco; e, de outro, a falta de um Plano Nacional de Contingência, com regras mínimas de como proceder em caso de acidentes", afirma a bióloga Leandra Gonçalves, coordenadora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace. Para Carlos Jorge Abreu, professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília que atuou na Petrobras por 20 anos, embora os acidentes recentes não signifiquem necessidade de mudar o projeto de exploração do pré-sal, a segurança deve ser reforçada. "O ambiente em águas profundas é mais hostil e as companhias precisam ser cobradas."

O navio-plataforma FPWSO, onde houve o vazamento, está localizado a cerca de 250km de Ilhabela, em local onde a profundidade é 2.140m. Ele fazia o Teste de Longa Duração (TLD) de um poço batizado de Carioca Nordeste. Nessa etapa, a companhia fica durante meses estudando a vazão do local para ter informações técnicas, como por quantos anos o poço fornecerá óleo.

Segundo a Petrobras, o poço está fechado, em condições seguras. A companhia informou também que acionou o plano de emergência para recolher o óleo do mar e a parte residual depositada perto da coluna que se rompeu. Além da ANP, a Marinha e o Ibama foram comunicados.

Para Carlos Bittencourt, coordenador do Observatório do Petróleo, independentemente da quantidade vazada, é preciso saber quais serão os impactos. "Mas, no Brasil, as análises de impacto ambiental, tanto pré quanto pós-acidentes, são meramente um protocolo formal. São as próprias companhias que contratam uma consultoria para fazer os estudos, que se tornam totalmente duvidosos", critica.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 01/02/2012 02:19