Dino ‘teria mais respaldo da classe’, diz associação

Marianna Holanda

29/06/2017

 

 

PRESIDENTE ACUSADO / Representante de procuradores da República pondera que Temer manteve a tradição de escolher nome da lista tríplice e tem a prerrogativa da indicação

O presidente da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), José Robalinho, afirmou ontem que, se o presidente Michel Temer tivesse escolhido Nicolao Dino – o primeiro colocado da lista tríplice como próximo da Procuradoria- Geral da República –, “certamente, teria mais respaldo da classe”.

Robalinho, porém, disse que a escolha é legítima: “O fundamental é o respeito à lista tríplice”. Raquel Dodge foi escolhida ontem à noite para assumir a PGR a partir de setembro.

Em entrevista ao Estado, Robalinho disse que o presidente manteve sua promessa de seguir as indicações da lista. “A posição da minha classe sempre foi a favor da lista. Mas é preciso entender que o conceito de uma lista implica um rol. Nós apresentamos três nomes, mas existe, por parte da Presidência, um crivo de poder, que é democraticamente eleito, e é de maior densidade. A participação do Executivo não é um simples detalhe”, afirmou.

Para o presidente da associação, contudo, não é possível dizer que o nome mais votado não teria mais respaldo entre os procuradores. “Não é indiferente”, afirmou. Dino, aliado do atual procurador-geral Rodrigo Janot, liderou com 621 votos, e foi seguido por Raquel, com 587 votos. Em terceiro lugar, ficou Mário Bonsaglia, com 564 votos.

Lava Jato. Dentro da instituição, a subprocuradora é vista como opositora a Janot. Porém, segundo Robalinho, não existe “dicotomia” com Dino. “É óbvio que se Nicolao (Dino) fosse nomeado seria uma continuação maior, até porque ele trabalha com Janot (ele é vice-procurador- geral). Mas não existe isso de Raquel ser radicalmente contra, nem Nicolao uma continuação absoluta”.

Robalinho lembrou também que todos os candidatos, incluindo Raquel, defenderam a Lava Jato. A escolhida de Temer já disse em entrevistas que não apenas manteria o grupo de trabalho da operação na PGR, como aumentaria o efetivo. Se passar na sabatina do Senado, ela vai comandar os inquéritos da Lava Jato.

O presidente da ANPR avaliou que nunca houve uma diferença fundamental no entendimento do atual procurador-geral e Raquel na aplicação do Direito Penal. Há o que ele chamou de “diferença de estilo” entre os dois. “De fato, há uma posição de estilos diferentes na forma de gerir que acabou gerando esse reconhecimento de oposição entre os dois, mas não tem essa rivalidade que tem sido posta, não assim”, disse.

PARA LEMBRAR

Desde 2003, o 1º da lista

Cláudio Lemos Fonteles

Nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a Procuradoria- Geral da República em 30 de junho de 2003 e cumpriu um mandato de dois anos. Substituiu Geraldo Brindeiro, que ficou oito anos no comando do Ministério Público Federal. Fonteles foi o mais votado na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Antonio Fernando de Souza

Também primeiro colocado na lista tríplice da ANPR, foi nomeado por Lula em 2005 e reconduzido em 2007. Como procurador-geral, foi responsável por denunciar membros do governo do ex-presidente petista envolvidos com o escândalo do mensalão. Aposentado do MPF, atuou como advogado do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Roberto Gurgel

Em 29 de junho de 2009, Lula novamente nomeia como procurador-geral da República o mais votado na lista tríplice da ANPR. Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff o reconduziu ao cargo por mais dois anos. Em seu primeiro mandato, defendeu no STF a condenação de Antonio Palocci por violação de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Rodrigo Janot

Seguindo a tradição iniciada por Lula, Dilma também nomeia o primeiro colocado na lista da ANPR em 2013. Dois anos depois, a então presidente o reconduz para o cargo de procurador-geral, para mandato que termina em setembro. Na Procuradoria, conduziu os processos relacionados à Lava Jato. Na segunda-feira, apresentou ao STF denúncia contra o presidente Michel Temer.

 

O Estado de São Paulo, n. 45180, 29/06/2017. Política, p. A5