Entrevista - Antônio Claudio Mariz de Oliveira

Fausto Macedo

31/05/2017

 

 

Para advogado, Temer só pode responder a questões sobre gravação feita por Joesley após conclusão da perícia

‘O presidente não pode ser ouvido sobre o áudio’

Antônio Claudio Mariz de Oliveira, advogado do presidente Michel Temer

O criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, defensor de Michel Temer, disse em entrevista ao Estado que vai insistir junto ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, para que não autorize a Polícia Federal a incluir no interrogatório do presidente perguntas relacionadas ao áudio do empresário Joesley Batista, da JBS.

Como o sr. viu a decisão do ministro Edson Fachin de manter o presidente no mesmo inquérito do deputado flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil?

Eu pedi a desconexão do Aécio (Neves) e do deputado (afastado) porque entendo que não há nenhuma ligação entre os fatos atribuídos ao presidente e aquele atribuído ao senador (afastado) e ao Rodrigo (Rocha Loures). O ministro Fachin nos deu razão no que diz respeito ao Aécio. Sobre o Rodrigo, ele (ministro) determinou que permanecesse ao lado do presidente no mesmo inquérito. Vou examinar essa questão para concluir se peticionaremos ou não pela reconsideração.

O sr. não quer que o presidente seja interrogado pela PF sobre o áudio do Joesley da JBS? Por quê?

Estamos peticionando para que o presidente responda apenas quando o laudo vier ou que o presidente responda questões pertinentes a outros fatos, diversos dos referentes à gravação. Em relação a essas questões, ele (Temer) não poderá responder porque o áudio está sendo vistoriado. O laudo dessa perícia ainda não foi concluído. Logo, o presidente não pode ser ouvido sobre o conteúdo (do áudio).

O ministro deu prazo de dez dias para a PF encerrar o inquérito. O prazo é curto para a defesa?

O prazo é o da lei. Dez dias para terminar inquérito e cinco dias para oferecimento da denúncia nos casos em que houver investigado preso. Neste inquérito foi presa a irmã do Lúcio Funaro. O objetivo do presidente é que a verdade venha à luz do dia. Ele não terá nenhuma dificuldade em responder  aos questionamentos.

O sr. vai insistir em um inquérito autônomo para o presidente?

Com relação a esses prazos exíguos talvez a solução fosse o ministro Fachin desmembrar os inquéritos daqueles investigados presos e deixasse o inquérito do presidente isolado dos outros.

Aí não teria problemas de prazo. Mas não vamos recorrer.

O fato de o deputado Rocha Loures perder o foro privilegiado preocupa a defesa do presidente?

O deputado Rodrigo Rocha Loures não perdeu o foro. Ele está no Supremo não porque é deputado, mas porque está sendo investigado com o presidente. Como estava conexo anteriormente com o senador Aécio, agora está com o presidente. Há um engano dos que acham que o foro dele (Loures) era só em decorrência do fato de ele ser deputado. Mas é também em decorrência do fato de ele estar primeiro conexo com Aécio e agora com o presidente.

 

O Estado de São Paulo, n. 45151, 31/05/2017. Política, p. A5