Aécio cobrou chefe da PF por acesso a inquérito

Luiz Vassallo e Julia Affonso

31/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Interceptação mostra que senador afastado ligou para Leandro Daiello e disse que seu advogado iria procurá-lo sobre investigação em Furnas

Uma interceptação telefônica da Operação Patmos mostra que o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) tentou pressionar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, para ter acesso a depoimentos que o implicam nas apurações sobre esquema de corrupção em Furnas.

Aécio é investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na estatal mineira e responde a cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Irritado por não ter acesso a depoimentos, Aécio ligou para Daiello e pediu um encontro.

“Uma hora que você… que eu pudesse dar um pulo aí. Pelo seguinte, contudo é... é... na verdade...

pela Súmula 14 (do STF) que faculta a defesa ao acesso, né? Ao processo, aos autos, aos depoimentos, o delegado se negou a entregar à defesa, ontem, a cópia do depoimento que ele já tinha colhido, tá?”, queixouse Aécio ao diretor-geral.

A conversa entre o tucano e Daiello, em 26 de abril, foi gravada pela PF. Aécio disse que seu advogado, Alberto Toron, iria procurá-lo na instituição.

‘Bronca’. A PF também capturou uma “bronca” de Aécio em seu colega Zezé Perrella (PMDB-MG). No diálogo divulgado pelo jornal Hoje em Dia, o tucano cobra “lealdade” de Zezé, após declaração do aliado.

Zezé teria se vangloriado de não estar na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, revelada quando da divulgação das delações da Odebrecht. O áudio foi captado em 13 de abril.

“Vou te falar aqui como amigo, com a liberdade de amigo.

Eu achei, olhe, poucas vezes eu vi uma declaração tão escrota, Zezé”, afirmou Aécio. “A não ser, Zezé, que a sua campanha foi financiada na lua ou pela quentinha”, disse o tucano.

Conforme Aécio, era hora de “separar o joio do trigo”. “Porque tem uma bandidada que assaltou o Brasil e tem gente que fez campanha, né? Como é que você acha que você chegou no Senado? Sua campanha foi financiada do mesmo jeito que a minha”, disse o tucano.

A assessoria de Aécio negou qualquer tentativa de pressionar Daiello. “O diretor da PF não se sujeitaria a qualquer tipo de pressão. O senador considera que o diálogo foi republicano.” Informou ainda que “as campanhas foram feitas em absoluto respeito à legislação”.

Perrella disse que está “constrangido, porque Aécio interpretou uma fala como uma crítica”.

Afastado. Aécio responde a inquéritos no Supremo

___________________________________________________________________________________________

Pedrinho na defesa de tucano

Isadora Peron e Breno Pires

31/05/2017

 

 

Advocacia

A equipe de advogados do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) é formada por um nome que ficou famoso em Brasília nos anos 1980: Pedro Júnior Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho. Ele foi sequestrado de uma maternidade na capital federal poucas horas depois de nascer.

Pedrinho trabalha há cerca de dez anos no escritório do advogado José Eduardo Alckmin. Aos 31 anos, começou como estagiário e hoje atua na área criminal. Ele também faz parte da banca de defesa do senador Jader Barbalho (PMDB-PA).

A informação foi antecipada ontem pelo jornal O Globo. Ao Estado, Pedrinho afirmou que não conhece Aécio pessoalmente e os contatos com os clientes do escritório são feitos pelo “doutor Zé Eduardo”. “Sou muito coadjuvante nesses casos”, afirmou.

Em sua foto do WhatsApp, o advogado aparece segurando o filho, João Pedro, de 5 anos, em uma manifestação na Esplanada dos Ministérios contra a corrupção. Ele afirmou que votou em Aécio, mas não quis responder se estava decepcionado com o tucano após a divulgação das delações da JBS. “Eu não posso responder a uma pergunta dessas, até pela questão profissional.”

Sequestro. Pedrinho foi sequestrado em 1986, na Maternidade Santa Lucia, em Brasília, e foi levado para Goiânia, onde viveu 16 anos como filho de Vilma Martins Costa, com o nome Osvaldo Martins Borges. Em 2002, os pais biológicos encontraram o menino, e o episódio ficou conhecido como “caso Pedrinho”.

Ele ainda mantém contato com Vilma, que chegou a ser presa.

ESTADÃO ACERVO

De 1986 a 2002, a história de Pedrinho esteve nas páginas do jornal.

 

O Estado de São Paulo, n. 45151, 31/05/2017. Político, p. A7