Temer apela e tucanos fazem defesa do governo

Vera Rosa, Pedro Venceslau e Daniel Weterman

31/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Presidente encontra líderes do PSDB e afirma que foi vítima de ‘armadilha’

O presidente Michel Temer disse que foi vítima de uma “armadilha” montada em várias frentes, com o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), para desestabilizar o governo. Em conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e também com o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), na noite de anteontem, Temer pediu apoio do partido para a votação das reformas trabalhista e da Previdência e disse não ter dúvidas de que provará sua inocência no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Eu não renuncio sob nenhuma hipótese”, repetiu o presidente aos tucanos, dando a entender que a batalha pode ser longa, até mesmo na Justiça. No diálogo, /Temer usou várias vezes a palavra “armadilha” e disse que o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR) – flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil – acabou caindo na “cilada” planejada pelos delatores da JBS.

Os ministros da Secretaria- Geral da Presidência, Moreira Franco, e da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, também participaram do encontro, em um hotel da capital paulista.

Apesar da pressão das bases tucanas e da bancada da sigla na Câmara dos Deputados pelo desembarque do PSDB do governo, o apelo do presidente surtiu um resultado imediato favorável ao Palácio do Planalto, que tenta emplacar a narrativa de que o pior já passou.

Durante o Fórum de Investimento Brasil 2017, evento com empresários que ocorreu ontem no mesmo hotel da reunião de cúpula, os principais quadros do partido aproveitaram as câmeras para fazer discursos solidários a Temer.

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, foi o mais enfático diante dos microfones.

Ele declarou em discurso que o governo está fazendo “profundas e audaciosas” reformas.

Temer foi chamado de “reformista” e Nunes afirmou “ter certeza” de que o peemedebista entregará ao seu sucessor em 1.º de janeiro de 2019 “um Brasil muito melhor”.

Colega de Nunes na Esplanada dos Ministérios, Imbassahy seguiu a mesma linha. “A posição (do PSDB) permanece inalterada: é a posição que o Tasso havia anunciado de apoio ao governo, às reformas e na expectativa de algo que possa melhorar a situação”, disse o ministro ao chegar para abertura do fórum.

Julgamento. Questionado sobre como ficaria a situação se o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcado para começar no dia 6 de junho, resultar em cassação de Temer, Imbassahy evitou opinar. “Aí, é especular.” Já Temer “garantiu” que o Brasil vai chegar ao fim de 2018 “com a casa em ordem”. Ao falar da crise política atual, o peemedebista disse que vai ficar até o fim de seu mandato, destacou que tem confiança no bom funcionamento das instituições e que é preciso respeitar o que estabelece a Constituição.

Nos bastidores, porém, auxiliares do presidente Temer não escondem o receio de uma delação de Rocha Loures e do possível desembarque do PSDB. Não sem motivo: até agora, o PSDB mantém a posição de “compasso de espera”.

Otimismo. Moreira Franco, que esteve na reunião com os tucanos anteontem, disse acreditar que o PSDB continua “firme” no governo Temer. “Foi uma conversa boa e proveitosa, capaz de garantir, a eles e nós, que as reformas passarão”, disse ao Estado.

O ministro-chefe da Secretaria- Geral da Presidência definiu os assuntos ali tratados como “caminhos para o futuro”.

A portas fechadas, Temer afirmou que o pedido de abertura de inquérito apresentado contra ele no Supremo pelo procurador- geral da República, Rodrigo Janot, está “cheio de falhas”.

Ele contou aos aliados que, além de seu advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, vários juristas já analisaram o caso e emitiram a mesma opinião sobre a debilidade das acusações de Janot.

Fernando Henrique observou, porém, que o PSDB tem feito um monitoramento rigoroso da crise, com todas as atenções voltadas para não deixar a economia degringolar. Ele não garantiu, no entanto, apoio incondicional ao governo Temer. A próxima reunião da bancada tucana será o termômetro da adesão ao Planalto. /COLABOROU TÂNIA MONTEIRO

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“A posição (do PSDB) permanece inalterada: é a posição que o Tasso havia anunciado de apoio ao governo, às reformas e na expectativa de algo que possa melhorar.”

Antonio Imbassahy

MINISTRO-CHEFE DA SECRETARIA DE GOVERNO

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Entrevista - Tasso Jereissati

Igor Gadelha

31/05/2017

 

 

‘A crise pode ter amenizado, mas continua’

Tasso Jereissati, senador (MG) e presidente do PSDB

Um dos nomes mais cotados para substituição do presidente Michel Temer, em uma eventual eleição indireta, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), afirmou, em entrevista ao Estado, que a crise política pode ter dado uma “amenizada”, mas continua. Veja os principais trechos:

Como o sr. avaliou a troca do ministro da Justiça?

Não conheço bem o novo ministro, Torquato Jardim. Não tenho a menor condição de julgar se foi bom ou ruim, nem se ele tem mais ou menos força sobre o TSE. No governo, troca de ministro é normal.

Se Torquato trocar o comando da PF agora seria um mau sinal?

Não acho que seja mau sinal. Acho que cada ministro tem seu pessoal de confiança. Mas nem sei se ele vai trocar.

O sr. concorda com avaliação de que crise política arrefeceu?

A crise continua. Pode ter tido uma amenizada, mas ela continua. Tem uma porção de coisas pendentes nos tribunais, até mesmo no TSE, que envolve políticos, dos três Poderes. Portanto, a crise continua. O País não ficará calmo enquanto tiver parte de lideranças importantíssimas, não só do governo, mas da oposição, envolvidas em julgamentos sobre corrupção.

Se o TSE adiar o julgamento da chapa Dilma-Temer, o PSDB também vai adiar sua decisão sobre desembarque do governo?

Não controlamos o TSE. O TSE é um órgão independente, jurídico, vamos ver o que acontece lá. No dia em que acontecer, a gente senta e resolve.

O sr. será candidato a presidente em eventual eleição indireta?

Não sou candidato. Não estou em campanha, não pretendo. Não acho construtivo colocação de nenhuma candidatura. Porque, primeiro, o presidente ainda está aí. E, segundo, qualquer coisa que aconteça tem de ser para pacificar o País.

E se o sr. for escolhido como aquele que vai “pacificar” o País?

A princípio, nunca pensei nisso, não vejo essa hipótese, não é prudente colocá-la.

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Artistas excluem partidos e sindicatos de ato na Paulista

Ricardo Galhardo

31/05/2017

 

 

Manifestação marcada em São Paulo para domingo pedirá eleições diretas com shows e bloco de carnaval

No rastro da manifestação que reuniu milhares de pessoas na Praia de Copacabana, no Rio, no domingo passado, artistas, produtores, ativistas e blocos de carnaval de São Paulo marcaram para domingo um ato pela saída do presidente Michel Temer e pela realização de eleições diretas. Ao contrário de eventos anteriores, o ato dos artistas não terá a participação de partidos políticos e sindicatos na organização.

Segundo os organizadores, a ideia é fazer um movimento independente de partidos para ampliar o leque de apoio.

“Não temos a intenção de excluir ninguém. Temos o máximo respeito pelas lutas históricas de cada segmento, mas achamos importante termos também a chance de fazer um evento com todos que queiram participar, puxado pelas diversas expressões culturais. Achamos que é uma forma de agregar, ampliar e mostrar a quantidade de gente que quer diretas-já”, diz o produtor cultural Alexandre Youssef, presidente do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta.

O ato está marcado, em princípio, para acontecer na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, corredor cultural da cidade, para reforçar a identidade com o caráter artístico da manifestação.

Além de aproximadamente 40 blocos de carnaval, estão previstas apresentações de Mano Brown, Criolo, Emicida, Tulipa Ruiz, Otto, Maria Gadú, entre outros. Artistas das áreas do cinema, teatro e literatura também serão convidados.

“Mas não é uma micareta, não. É um ato político”, avisa o produtor musical Daniel Ganjaman, que também participa da organização do evento.

Aparelhamento. Além de abrir o leque de participantes para a parcela da população que rejeita partidos de esquerda, a decisão de fazer o ato de forma independente tem o objetivo de evitar o aparelhamento do protesto.

“A manifestação não pode ser apropriada por partido nenhum. A música quer esse papel”, diz o empresário da noite Facundo Guerra.

No ato do Rio, na semana passada, organizado pelas Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, sindicatos e partidos tiveram de tirar suas bandeiras e balões da frente do palco. Até então, as frentes haviam organizado todas as grandes manifestações de rua contra Temer, mas os artistas independentes tiveram papel importante no #OcupaMinc.

“Acho legítimo que os artistas tomem iniciativa. Atraem um público que não é necessariamente o dos movimentos.

Vamos tentar dialogar para fazer com o máximo de unidade possível”, diz Guilherme Boulos, da Frente Povo Sem Medo.

Público amplo

“Achamos que é uma forma de agregar, ampliar e mostrar a quantidade de gente que quer diretas-já.”

Alexandre Youssef

PRODUTOR CULTURAL

 

O Estado de São Paulo, n. 45151, 31/05/2017. Política, p. A8