TEMER RESISTE - GOVERNO BARRA DENÚNCIA NA CÂMARA

03/08/2017

 

 

Com negociações de emendas até o último minuto, peemedebista tem 91 votos a mais que o necessário

Depois de 34 dias de intensas negociações - marcadas por encontros diários com dezenas de deputados, liberações de bilhões de reais em emendas parlamentares, distribuição de cargos a aliados e um jogo pesado de pressões nos bastidores -, o presidente Michel Temer conseguiu barrar a denúncia que pesava contra ele por corrupção passiva que havia chegado à Câmara dos Deputados no dia 29 de junho. O Palácio do Planalto obteve 91 votos a mais do que os 172 necessários para impedir que o caso seguisse para o Supremo Tribunal Federal (STF) - uma vitória, mas não de lavada. Se o caso tivesse ido adiante, e a Corte houvesse recebido a denúncia e tornado Temer réu, isso levaria a seu afastamento por 180 dias.

A sessão não teve tantos momentos folclóricos quanto a do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. No lugar das dedicatórias a familiares e afins, deputados justificaram votos pró-Temer com a defesa da retomada da economia ou até mesmo com o argumento de que ele deve ser investigado, mas só após o seu mandato.

Depois de concluída a votação, o presidente fez pronunciamento, à noite, em que classificou a sua vitória como uma "conquista doEstado Democrático de Direito': O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que a decisão da Câmara foi "política e não contamina o trabalho técnico e jurídico" do Ministério Púbico.

Janot decidiu incluir Temer no inquérito do chamado "quadrilhão" e mantém o plano de denunciá- lo mais uma vez, ainda antes de deixar o cargo, em setembro- agora por obstrução à Justiça, por tentar comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do operador Lúcio Funaro. Nas ruas, o dia histórico do primeiro julgamento de um presidente por corrupção no exercício do mandato não despertou reações. Brasília, Rio e São Paulo, que reuniram centenas de milhares contra Dilma, não registraram manifestações expressivas. Pivô da denúncia contra Temer, o empresário e delator Joesley Batista, dono da JBS, disse a interlocutores que a data ficaria marcada como o "dia da vergonha': •

O globo, n.30677 , 03/08/2017. PAÍS, p. 3