Presidente defende Constituição e diz que não há plano B

Cristiane Agostine e Ricardo Mendonça

31/05/2017

 

 

A uma plateia repleta de investidores nacionais e estrangeiros, o presidente da República, Michel Temer, afirmou ontem que não há um plano B para o país. Ele reafirmou a intenção de ficar no cargo até o fim de 2018 e defendeu a Constituição Federal, em alusão aos que pregam a substituição da atual Carta.

Ao falar da Constituição, Temer lamentou o surgimento de movimentos que reivindicam "uma nova forma do Estado brasileiro", classificando a reincidência desse tipo de ocorrência, "de 30 em 30 anos", como algo "trágico na história brasileira".

"Não precisamos, não [de uma nova forma de Estado]. Nós precisamos é cumprir aquilo que a Constituição brasileira estabeleceu com muita sabedoria, [...] uma separação muito adequada dos Poderes".

Na sequência, emendou: "Mas não uma separação que gera independência total, porque antes de falar de independência de Poderes, o texto constitucional fala em harmonia dos Poderes".

As declarações foram dadas na abertura do Fórum de Investimentos Brasil 2017, em São Paulo, evento que também contou com as presenças de ministros, dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito da capital, João Doria, ambos tucanos, entre outros.

No início de seu discurso, Temer afirmou que seu governo "devolveu ao Brasil o caminho do desenvolvimento". Aproveitou então para fazer uma menção velada à antecessora, a petista Dilma Rousseff, de quem era vice: "Houve momentos de medidas simplesmente populistas", disse. "Nós não permitiremos que voltem a colocar em risco o presente e o futuro dos brasileiros".

Em meio à grave crise política que abate seu governo, Temer procurou exaltar a "segurança jurídica" para os investimentos. Segundo o pemedebista, sua gestão deixou para trás "a maior recessão" da história do país.

O presidente disse que seu governo tem sido guiado pela responsabilidade fiscal. "E se de fato nós queremos um futuro melhor, eu digo sem medo de errar, não há plano B. Afinal, a responsabilidade rende frutos", disse.

Na sequência, afirmou que deu "uma injeção de profissionalismo" nas estatais, colocou fim "ao equívoco da política dos chamados campeões nacionais" no BNDES e introduziu "racionalidade econômica" em "setores-chave, como o petróleo e o do gás".

Exaltou então alguns números recentes, como o crescimento de 1,12% nos primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2016 e a abertura de 60 mil vagas formais em abril.

Depois de afirmar que seu governo prima pelo diálogo, Temer fez comentários sobre o protestos liderado por centrais sindicais contra as reformas na semana passada, com vários registros de violência por parte de manifestantes e policiais.

"É claro que você terá divergências programáticas, divergências ideológicas, mas cujos argumentos não poderão ser físicos", disse. "Quando forem físicos, como aconteceu em Brasília, nós não titubiaremos. Nosso lema é o lema da bandeira: 'Ordem e Progresso'. Quando há depredação e coisas dessa natureza, nós tomamos medidas saneadoras, embora por pouquíssimo tempo, para que se restabeleça a ordem no nosso país", disse.

Embora não tenha citado de forma explícita, ele se referia ao decreto que convocou a atuação das Forças Armadas contra os manifestantes, iniciativa que gerou muita crítica e foi logo revogada.

O presidente lamentou que haja hoje o que ele chamou de "brasileiro contra brasileiro", algo que, segundo seu entendimento, não existia no passado.

Em outro trecho, ele ressaltou que pretende continuar no governo, apesar da crise política e das denúncias. "Estamos no rumo certo. Nós pusemos o país nos trilhos. Quem apanhar a locomotiva em 2018, encontrará os trilhos no seu devido lugar", afirmou. "Chegaremos ao fim de 2018 com a casa em ordem", reforçou.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4266, 31/05/2017. Política, p. A5.