Temer grava vídeio para pedir punição a criminosos
Tânia Monteiro e Daiene Cardoso
19/06/2017
Antes de embarcar para a Rússia e a Noruega e à espera de uma denúncia do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, ainda nesta semana, o presidente Michel Temer gravou ontem um vídeo para ser postado em redes sociais hoje no qual afirma que criminosos não ficarão impunes no País. Ele, no entanto, não cita diretamente o empresário Joesley Batista, da JBS, que colocou, após sua delação premiada, o governo federal em crise.
Temer aproveitou o vídeo para explicar sua viagem para a Europa, que começa hoje e termina na sexta-feira, e para se defender das acusações de Joesley.
Em entrevista à revista Época deste fim de semana, o empresário disse que o presidente é chefe de uma organização criminosa. Joesley obteve da Procuradoria- Geral da República (PGR) imunidade de seus crimes.
Na gravação, Temer diz, sem citar o PT, que não foi em seu governo que Joesley obteve benefícios junto ao poder público. O presidente destaca que questões políticas têm atravancado o avanço da economia. Na Rússia e na Noruega, ele vai tratar de acordos comerciais.
A avaliação do governo é a de que as afirmações de Joesley contra Temer na entrevista não surtiram efeito negativo na base parlamentar. Hoje, Temer apresentará à Justiça as ações cível e penal contra o empresário por “desfiar mentiras”.
A mensagem foi filmada ontem no Palácio do Alvorada após o presidente se reunir à tarde, no Palácio do Jaburu, com seus principais ministros para tratar da viagem internacional e desenhar a estratégia de ação enquanto estiver fora do País.
Compareceram ao encontro na residência oficial de Temer os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Secretaria-Geral, Moreira Franco, da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen.
No encontro ficou acertado que Moreira Franco não viajará com Temer, como estava previsto, e ficará em Brasília para ajudar na recomposição da base.
Com uma semana mais curta no Congresso por causa das festas juninas e com a ausência de Temer, o presidente em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ministros do núcleo político vão retomar o trabalho de reaglutinação da base para tentar barrar uma eventual denúncia de Janot contra o presidente por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. A justificativa oficial é de que atuarão pelas reformas trabalhista e da Previdência.
Ainda hoje, a Polícia Federal encerra o inquérito em que Temer e o ex-assessor da Presidência e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) são investigados.
Os agentes federais também devem incluir o resultado da perícia nos áudios gravados por Joesley da conversa com Temer.
Estratégia. O Planalto e aliados têm adotado a estratégia de desqualificar as acusações de Joesley. Ontem, o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), afirmou que a entrevista não trouxe nenhuma novidade. “Ele é um bandido confesso que tem credibilidade zero”, afirmou Mansur. “Não podemos ficar presos a essa agenda de denúncias”, disse.
Para o vice-líder do PMDB na Câmara, Carlos Marun (MS), agora “é um bom momento para retomar os votos para aprovar a reforma da Previdência”. Aliados esperam que Maia, mesmo no Palácio do Planalto, reassuma o papel de articulador do governo e coordene amanhã a reunião de líderes da Câmara.
Os encontros estão esvaziados há cerca de um mês, desde a divulgação da delação de Joesley. “Esse ritual tem de voltar”, afirmou Mansur.
Defesa. O presidente Michel Temer tem mobilizado aliados para assegurar derrota de pedido de denúncia na Câmara
QUEM ASSUME
Presidência da República
Rodrigo Maia (DEM-RJ): aliado do Palácio do Planalto, assumirá interinamente o cargo pela sexta vez em nove meses. Ele é potencial candidato à sucessão em caso de vacância do cargo.
Presidência da Câmara
Fábio Ramalho (PMDB-MG): avesso ao comando das sessões plenárias, o peemedebista terá nesta semana seu período mais longo na presidência da Casa: cinco dias.
O Estado de São Paulo, n. 45170, 19/06/2017. Política, p. A4