Lava Jato pede sequestro de bens de filhas de Palocci

Julia Affonso e Ricardo Brandt

19/06/2017

 

 

MPF acusa ex-ministro de lavagem de dinheiro ao doar ‘elevado valor’ para a compra de dois imóveis; defesa nega irregularidades

A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu ao juiz federal Sérgio Moro o sequestro de imóveis da filha e da enteada do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda no governo Luiz Inácio Lula da Silva e Casa Civil na gestão Dilma Rousseff).

O petista é acusado pela Procuradoria da República no Paraná de “possíveis atos de lavagem de dinheiro mediante aquisição de bens imóveis em favor de suas filhas”.

A manifestação é assinada pelo procurador Januário Paludo.

Segundo ele, o ex-ministro, preso desde setembro do ano passado em Curitiba, usou recursos ilícitos movimentados em suas contas bancárias para adquirir dois imóveis “de elevado valor em benefício de Carolina Palocci e Marina Watanabe”. A defesa do ministro negou ilicitudes nas transações.

Palocci é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) em duas ações penais por corrupção e lavagem de dinheiro.

Em um dos processos, ele é suspeito de irregularidades na obtenção pela Odebrecht de contratos de afretamento de sondas para a Petrobrás. No outro, é acusado de intermediar pagamento de propina supostamente destinada pela empreiteira ao ex-presidente Lula. O ex-ministro está tentando firmar um acordo de delação premiada.

Paludo afirmou na manifestação que Palocci declarou doação de R$ 2,9 milhões à filha. “As transferências são contemporâneas à aquisição, por Carolina Palocci, em 20 de junho de 2014, de apartamento pelo valor de R$ 2.033.050,00”, disse o procurador a Moro. Para a força-tarefa, “há indícios” de que Palocci “promoveu a ocultação de patrimônio ilicitamente obtido mediante registro de doação”.

Segundo o documento, o exministro, “em operação semelhante”, adquiriu um imóvel para a enteada, filha de sua mulher.

Paludo apontou a Moro que, em 2015, Palocci fez uma doação de R$ 1,6 milhão para a enteada. Os valores, no entanto, afirmou o procurador, não chegaram às contas bancárias da enteada do petista.

Em 11 de fevereiro de 2015, de acordo com a manifestação, Palocci transferiu R$ 1,47 milhão para o proprietário de um imóvel na capital paulista. “No mesmo dia, foi lavrada escritura de venda e compra no 13.º Tabelionato de São Paulo do apartamento 32. Consta do R.06 da certidão do imóvel a venda para Marina Watanabe pelo exato valor de R$ 1,47 milhão”, afirmou o procurador.

“Havendo indícios de que os bens são produto e proveito de crimes praticados por Antonio Palocci, bem como sendo estes necessários para garantir os efeitos da condenação criminal do requerido, o Ministério Público Federal requer o sequestro dos imóveis”, escreveu Paludo.

‘Premissa indevida’. Os advogados de Palocci, Alessandro Silverio e Bruno Augusto Gonçalves Vianna, afirmaram, por meio de nota, que ainda não tiveram acesso à manifestação do procurador com o pedido de sequestros dos imóveis.

A defesa do ex-ministro negou qualquer irregularidade nas transações financeiras efetuadas em favor da filha e enteada de Palocci. “Convém destacar que as doações dos valores usados para a aquisição dos imóveis foram devidamente declaradas à Receita Federal, o que revela que ditas aquisições não tinham o intuito de ocultar qualquer vantagem obtida com um suposto crime anterior”, afirmaram Silverio e Vianna.

De acordo com os advogados, a argumentação do procurador “parte de uma indevida premissa trazida à tona recentemente, segundo a qual se presume a ilicitude de todo e qualquer comportamento”.

Investigação. Ex-ministro está preso em Curitiba desde setembro do ano passado

Doações

R$ 2,9 mi foram doados por Antonio Palocci à sua filha, em 2014, e R$ 1,6 milhão à sua enteada, em 2015. Segundo o Ministério Público Federal em Curitiba, o dinheiro foi usado para compra de imóveis.

PONTOS-CHAVE

Ex-ministro é réu em duas ações penais

Prisão

Em 26 de setembro de 2016, Palocci foi preso na Operação Omertà, sob suspeita dos crimes de corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Sondas

Em 28 de outubro de 2016, Palocci foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro em contratos de afretamento de sondas da Odebrecht para a Petrobrás.

Lula

Palocci virou réu, pela segunda vez, em dezembro de 2016, sob acusação de ter recebido propina da Odebrecht em transação imobiliária do Instituto Lula.

‘Quadrilhão’

Palocci é alvo do “inquéritomãe” da Lava Jato que investiga o chamado “quadrilhão” de políticos, ex-parlamentares e operadores de esquema de corrupção.

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Delação da Odebrecht Ambiental aponta nomes do ABC

Luiz Vassallo

19/06/2017

 

 

Ex-executivos relatam doações a Carlos Grana e Nilson Bonome em troca de edital por tratamento de água em Santo André

Ex-executivos da Odebrecht Ambiental afirmaram à força-tarefa da Operação Lava Jato ter financiado os candidatos Carlos Grana (PT) e Nilson Bonome (PMDB), nas eleições de 2012, com o propósito de vencer o processo de privatização do sistema de abastecimento de água em Santo André, no ABC paulista.

Grana, que saiu vitorioso na disputa municipal, recebeu doação legal de R$ 500 mil, enquanto Bonome, nome derrotado na eleição de 2012, recebeu R$ 400 mil via caixa 2, segundo Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental. O depoimento foi prestado em abril.

A Odebrecht venceu o edital de licitação para gerenciar o sistema de água e esgoto da cidade em março de 2016. “Foi feito estudo, audiência pública, foi realizada a licitação em 2015. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) suspendeu o edital como é de costume em São Paulo. O município acatou as recomendações e republicou o edital em 13 de janeiro de 2016. A companhia entregou a proposta em 1.º de março de 2016. Saímos vencedores”, disse Reis.

O ex-diretor regional da empresa em São Paulo Guilherme Paschoal reiterou a versão de Reis em seu depoimento. “A intenção era fomentar e estimular a privatização e queríamos fazer o projeto em Santo André.

Ele (Grana) achava interessante porque sabia quanto nos poderíamos levar de investimento ao município”, afirmou.

Os valores de Bonome teriam sido acertados diretamente com o candidato. Os encontros eram realizados em uma cafeteria perto da sede da Odebrecht na capital paulista. “Marcava a hora, e entregava pessoalmente a ele as informações. Eu sabia que ele não seria eleito, mas tinha uma influência no ABC que poderia fomentar o projeto”, disse Paschoal.

Mesmo perdedor na eleição, Bonome procurou o delator para pedir R$ 150 mil, em 2014, segundo Paschoal. “Por ser uma personalidade do PMDB, talvez, pudesse ajudar na base dele a não criar nenhum óbice (à empreiteira em Santo André).”

Caixa 2. Somente no Estado de São Paulo, executivos da companhia de saneamento e tratamento de água do grupo dizem ter pago R$ 9,1 milhões em caixa 2, para financiar eleições municipais. Eles identificaram 23 candidatos cujas campanhas foram contaminadas. Reis chamou a prática de vacina “antiachaque”.

Atualmente, há 13 petições da Procuradoria-Geral da República para investigar a empresa nos municípios paulistas no Tribunal Regional Federal da 3.ª Região.

Procurado, Grana não atendeu à reportagem. A defesa de Bonome não foi localizada.

Campanha. Carlos Grana (PT) foi prefeito de Santo André

Preço

R$ 500 mil foram doados a Carlos Grana PT), de forma legal, pela Odebrecht Ambiental, em troca de benefícios, dizem delatores.

 

O Estado de São Paulo, n. 45170, 19/06/2017. Política, p. A6