Sítio em Atibaia leva Lula à 6ª denúncia

Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fausto Macedo / Luiz Vassallo

23/05/2017

 

 

Ex-presidente é acusado de ter recebido propina da OAS e Odebrecht em forma de benfeitorias em propriedade rural usada por sua família

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado ontem pela sexta vez – a terceira na Operação Lava Jato. O Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba, acusou o petista dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no inquérito que apura recebimento de propina da Odebrecht e OAS em troca de benfeitorias no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, interior de São Paulo.

Lula já é réu em cinco ações penais – duas delas na Lava Jato.

Ontem, a força-tarefa acusou também o ex-presidente de estruturar, orientar e comandar esquema ilícito de pagamento de propina em benefício de partidos, políticos e funcionários públicos na Petrobrás. A defesa do petista afirmou que a denúncia contém “acusações frívolas e com objetivo de perseguição política”.

O petista também é apontado como o responsável por chefiar uma estrutura de captação de apoio parlamentar em troca de distribuição de cargos quando era presidente, entre 2003 e 2010. Segundo o MPF, o esquema foi organizado por Lula na Petrobrás com as nomeações de Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró nas diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional, respectivamente.

A acusação apontou o pagamento de propina de R$ 128 milhões pela Odebrecht, em quatro contratos assinados com a estatal, e R$ 27 milhões pela OAS, em três contratos. Segundo os procuradores, os repasses ilícitos foram feitos a partidos e políticos da base de Lula, como PT, PP e PMDB. Para o MPF, parte do valor, estimado em R$ 870 mil, foi usado no sítio de Atibaia para atender a pedidos do ex-presidente.

O MPF acusou o petista de usar o dinheiro para realizar reformas, construir anexos e efetuar outras benfeitorias no sítio de Atibaia, para adequá-lo às necessidades de sua família. A denúncia tratou também da realização de melhorias na cozinha do sítio e a aquisição de móveis.

 

Lavagem. De acordo com a denúncia, também houve lavagem de dinheiro em uma parte dos valores de propina oriunda dos crimes de gestão fraudulenta, fraude à licitação e corrupção na contratação da Sonda Vitória 10000 da Schahin pela Petrobrás.

Com esses recursos ilícitos, segundo o MPF, por intermédio de José Carlos Bumlai, foram realizadas reformas estruturais e de acabamento no sítio de Atibaia.

“A denúncia é mais um efeito da corrupção espraiada em todo o espectro do sistema político.

Os últimos acontecimentos, aliás, levam a força-tarefa da Lava Jato a manifestar seu estarrecimento diante da gravidade dos crimes que se tornaram públicos”, escreveram os procuradores.

Também foram denunciados José Adelmário Pinheiro Filho, o Leo Pinheiro, pela prática dos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro; Marcelo Odebrecht e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, pelo crime de corrupção ativa; José Carlos da Costa Marques Bumlai, Rogério Aurélio Pimentel, Emílio Odebrecht, Alexandrino Alencar, Carlos Armando Guedes Paschoal, Emyr Diniz Costa Júnior, Roberto Teixeira, Fernando Bittar e Paulo Gordilho, acusados da prática do crime de lavagem de dinheiro.

 

Defesa. O advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou, em nota, que a denúncia “buscou dar vida à tese política exposta no Power- Point de Deltan Dallagnol, par, sem qualquer prova, atribuir a Lula a participação em atos ilícitos, envolvendo a Petrobrás, que eles jamais cometeu”. Zanin voltou a negar que Lula seja proprietário do sítio.

Advogado de Lula e também denunciado, Roberto Teixeira, em nota, afirmou que a ação do MPF é “um ato de intimidação e de desrespeito às garantias fundamentais”.

Ele é acusado de praticar crime de lavagem de dinheiro em benefício do ex-presidente. 

 

Acusação. Procuradores da República em Curitiba afirmam que o Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, é do ex-presidente

 

Valores

R$ 870 mil foram usados, segundo o Ministério Público Federal (MPF), no Sítio de Atibaia para atender a demandas da família do ex-presidente Lula. São investigadas reformas na propriedade, construção de anexos e compra de móveis.

 

 

PONTOS-CHAVE

Petista já é réu em duas ações na Lava Jato

Triplex e OAS

Lula é acusado de receber R$ 3,7 mi da OAS por meio de um triplex no Guarujá (SP) e do armazenamento do acervo presidencial. Petista nega ser dono do imóvel.

 

Terrenos e Odebrecht

Ex-presidente é acusado de receber propina da Odebrecht por meio de um terreno para o Instituto Lula e de imóvel em São Bernardo. Ele nega irregularidades.

 

Sítio e empreiteiras

Denúncia de ontem cita propina de R$ 128 mi (Odebrecht) e de R$ 27 mi (OAS) – parte do valor teria beneficiado Lula por meio de um sítio em Atibaia (SP).

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45143, 23/05/2017. Política, p. A12.