Ministro da Cultura sai, e Marta rejeita pasta

Andreza Matais, Isadora Peron e Sonia Racy

17/06/2017

 

 
Interino vê ‘deterioração’ política e cita falta de respeito do governo; senadora foi sondada

Em carta enviada ao presidente Michel Temer, o ministro interino da Cultura, João Batista de Andrade, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, 16, alegando que a pasta ficou “inviável” e que há uma “deterioração” do ambiente político. Ele é o terceiro a deixar o comando do Ministério da Cultura em um ano de governo Temer.

O Palácio do Planalto já não tinha a intenção de efetivá-lo no cargo, em retaliação ao fato de Roberto Freire, titular anterior, ter saído e cobrado a renúncia de Temer, após a delação do empresário Joesley Batista, um dos acionistas da J&F. Os dois são filiados ao PPS.

A pasta poderia ser oferecida à base aliada na negociação por apoio político no Congresso assim como o Ministério da Transparência, que também está com ministro interino.

Andrade disse que decidiu deixar o cargo após perceber que o posto estava sendo negociado com outros partidos da base. “Eu não vim aqui atrás de cargo, vim fazer política cultural”, afirmou Andrade, alegando que não quer ficar no meio “dessa roda de disputa”. O interino afirmou que o corte de mais de 40% do orçamento da pasta tornou o funcionamento “inviável”. “Os governantes não ligam muito para o Ministério da Cultura”, disse.

Ele lembrou que sua indicação para ocupar o cargo de presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Debora Ivanov, foi ignorada, e que Temer preferiu outra pessoa. “Se como ministro não posso indicar os nomes das agências que estão ligadas à pasta, o que eu estou fazendo aqui? É um grau de desprestígio muito grande. Isso vai desgastando”, afirmou.

Andrade é escritor, roteirista e cineasta. Antes do ministério, foi nomeado secretário de Cultura do Estado de São Paulo em 2005 e, entre 2012 e 2016, exerceu a função de presidente da Fundação Memorial da América Latina (SP). O governo deve efetivar a troca na Cultura quando Temer retornar da viagem para Rússia e Noruega na sexta-feira, 23. Um dos cotados é o deputado André Amaral (PMDB-PB).

Marta recusa. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), ex-ministra da Cultura no governo Dilma Rousseff, foi sondada semanas atrás para reassumir a pasta, mas rejeitou o convite. Seria uma tentativa de fazer agrado ao PMDB, que quer mais um ministério depois da demissão de Osmar Serraglio da Justiça para dar lugar a Torquato Jardim.

Segundo pessoas próximas à Marta, os motivos da recusa são os mesmos usados por Andrade para pedir demissão: redução de pessoal e corte de verbas.

De acordo com interlocutores de Marta, o sucateamento da pasta com o corte de pessoal feito ainda na gestão de Marcelo Calero e o contingenciamento de 43% do orçamento da Cultura inviabilizaram a gestão da pasta. / COLABOROU RICARDO GALHARDO

____________________________________________________________________________________________

Após nota de FHC, PT buscará apoio de PSDB para diretas

Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau

17/06/2017

 

 

Declaração de tucano sobre antecipação da eleição agradou à oposição; debate interno no PSDB ficou acirrado

 

A declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pedindo que o presidente Michel Temer tenha um “gesto de grandeza” e antecipe as eleições presidenciais animou a oposição ao governo do PMDB no Congresso.

O líder do PT na Câmara, Carlos Zaratini (PT-SP), disse que vai procurar os deputados descontentes do PSDB para uma conversa sobre a antecipação das eleições presidenciais de 2018. “Vamos tentar falar com eles (tucanos) para um acordo sobre eleições diretas. Nosso objetivo é tirar o Temer”, afirmou Zaratini.

Em carta ao jornal O Globo, publicada anteontem, FHC disse que “não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto”.

Diretas. A declaração foi interpretada pela oposição como a senha para que parlamentares tucanos possam embarcar no movimento pelas “diretas-já”.

Segundo Zaratini, a estratégia é incentivar as manifestações de rua para pressionar deputados a votarem pela aceitação de uma possível denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito que investiga Temer por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. O objetivo é buscar o apoio de deputados descontentes em partidos que integram a base de Temer.

“A ideia é fazer uma grande mobilização popular para ampliar o nosso campo. Se olharmos os números de hoje não temos (votos para afastar Temer e fazer uma nova eleição) mas os números de hoje não são os de amanhã”, disse o petista.

PSDB. Os tucanos foram pegos de surpresa com as declarações do ex-presidente. Integrantes da executiva avaliam que FHC “foi além do ponto”, classificaram como “ininteligível” a nota divulgada e preveem um acirramento ainda maior do debate interno.

“A ideia de eleições gerais é inaplicável e contraria a Constituição em vigor”, disse o ex-governador José Aníbal, vice-presidente do PSDB.

Para os “cabeças pretas”, porém, a posição do ex-presidente fortalece a ala que prega o desembarque.

A ala mais jovem do partido entende que a bandeira da antecipação pode ser adotada pelo PSDB em caso d deterioração da situação de Temer. A avaliação também é feita por integrantes do alto clero tucano.

“Se acontecer uma situação de ingovernabilidade, a antecipação da eleição direta é uma hipótese. Mas conversa com o PT é especulação”, afirmou o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal.

 

O Estado de São Paulo, n. 45168, 17/06/2017. Política, p. A6