Com risco maior, nota da JBS é cortada

José Roberto Gomes e Tânia Rabello

23/05/2017

 

 

Moody’s e Fitch reduziram rating da empresa, o que torna o crédito mais caro; para analistas, grupo pode ter dificuldade na venda de ativos

 

 

A crise que se abateu sobre a JBS, após o anúncio da delação premiada de seus sócios, os irmãos Joesley e Wesley Batista, já traz consequências sérias para o dia a dia da empresa. Ontem, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota da companhia de Ba2 para Ba3.

Outra agência, a Fitch, cortou a nota de BB+ para BB. Na prática, isso significa que a empresa terá um pouco mais de dificuldade para ter acesso a crédito.

“O ‘downgrade’ reflete o aumento dos riscos relacionados a potenciais processos judiciais futuros; à governança da empresa e à liquidez, nos quais, atualmente, há visibilidade limitada”, disse a agência, justificando o rebaixamento. Para ela, esses riscos, além da elevada alavancagem (endividamento) financeira da JBS, justificavam um rebaixamento imediato do rating da empresa.

Para José Carlos Hausknecht, diretor da consultoria MB Agro, a questão do crédito, principalmente para a compra de bois, pode ser a maior restrição que a JBS vai enfrentar neste momento. Ele lembrou que a empresa já teria comunicado, na semana passada, que só compraria bois a prazo, o que seria uma dificuldade adicional nas negociações com os pecuaristas fornecedores da empresa.

Ele disse também ao Broadcast Agro que, em nível internacional, a obtenção de dinheiro novo pode ser prejudicada, e lembra a estratégia da companhia de se internacionalizar cada vez mais e de sua posição como principal exportadora de carne bovina do mundo. Contra a intenção da JBS de ampliar a presença em outros países já pesavam o alto endividamento da empresa e as implicações em várias investigações da Polícia Federal, destacou Hausknecht, além das suspeitas recentes, e que serão investigadas pela CVM, de manipulação de mercado de ações.

 

Ativos. Hausknecht ressaltou também que, se a JBS firmar um acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) – que propôs uma multa de R$ 11 bilhões, valor ainda em negociação –, pode ter de vender ativos, como aconteceu com a empreiteira Odebrecht. “Ela pode vender ativos tanto aqui quanto no exterior. Se vender aqui, há possibilidade de abrir espaço para outras companhias, como Marfrig e Minerva”, disse.

Para Alcides Torres, diretorfundador da Scot Consultoria, porém, a venda de ativos pode esbarrar na falta de compradores com poder de fogo. “O Marfrig está com dificuldades, com dívidas de curto prazo e problemas de gestão. Já o Minerva é um frigorífico mais enxuto, não tem capital para fazer frente.” Torres destacou ainda que a JBS tem forte contribuição no avanço das carnes brasileiras no exterior. “Seria uma pena o Brasil perder locais de escoamento.  Seus donos devem ser punidos, mas não podemos deixar que essa empresa quebre, pois seria pior”, avaliou.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45143, 23/05/2017. Economia, p. B3.