Meirelles afirma que reformas vão avançar

Fernando Nakagawa / Isabela Bonfim / Julia Lindner / Igor Gadelha

23/05/2017

 

 

Em conversa com investidores diz, porém, que tramitação pode atrasar ‘algumas semanas’

 

 

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reconhece que a crise política pode atrasar a tramitação das reformas “em algumas semanas”. Mesmo assim, o governo tenta demonstrar normalidade e afirma pretender avançar com a agenda no Congresso.

Na Câmara, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) prevê votar a reforma da Previdência até 12 de junho.

Com o apoio do PSDB, será apresentado hoje o relatório da mudança da legislação trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Esse será o primeiro teste para medir o apoio ao governo após a delação de Joesley Batista.

No esforço para tentar conter o nervosismo do mercado financeiro, o ministro da Fazenda e vários secretários do ministério participaram ontem de duas teleconferências com analistas e investidores. Em uma delas, Meirelles reconheceu que a crise política pode atrasar a agenda de reformas “em algumas semanas”.

Na conversa com clientes do banco JP Morgan, ele minimizou eventual atraso das reformas e disse que o mais importante é aprovar os projetos, especialmente na área da Previdência.

“O ponto principal é que (as reformas) vão mostrar os resultados”, disse, ao citar que a chance de atraso de um ou dois meses não é relevante diante da aprovação do texto. “O importante é a confiança de que será aprovado.” Em inglês, o ministro afirmou que a agenda das reformas está mantida. “Tenho falado com lideranças políticas e acho que há consenso de que a agenda legislativa vai avançar. No geral, entendo que as reformas são algo além do cenário político.” Horas depois da fala de Meirelles, o governo comemorou dois sinais de que a tramitação das reformas deve continuar.

Na Câmara, o presidente Rodrigo Maia anunciou que a mudança na Previdência começará a ser votada no plenário entre os dias 5 e 12 de junho. O parlamentar disse que espera votar nesta semana matérias econômicas importantes, como a guerra fiscal entre Estados e a medida provisória do programa de refinanciamento de tributos, a MP do Refis.

 

Cargos. Diante da incerteza do apoio dos 308 deputados necessários para aprovação da reforma da Previdência, o governo Temer parece que usará de uma antiga tática para conquistar apoio no Congresso. O primeiro vice-líder do governo na Câmara, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse que o governo começará a liberar cargos para nomeação de aliados de parlamentares em troca de votos.

Pelos cálculos do deputado, o governo tem entre 260 e 270 votos “sem a caneta” para assinar essas nomeações. “Mas tem a caneta, tem os cargos”, afirmou, ao ser questionado se não seria um risco colocar a matéria em votação sem os 308 votos mínimos necessários para aprová-la.

Outro sinal de apoio veio do PSDB. O presidente do partido e da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Tasso Jereissati (CE), anunciou, com o relator da reforma trabalhista, o também tucano Ricardo Ferraço (ES), que o parecer do projeto será lido na comissão hoje e que o calendário de tramitação está mantido.

O apoio parece especialmente importante entre tucanos que têm demonstrado cautela em manter apoio a Temer. Apesar de apoiar a tramitação da reforma, Ferraço disse, em vídeo postado nas redes sociais, que a situação de Temer na presidência é “insustentável”.

A oposição se prepara para tentar atrasar a tramitação. O senador Lindbergh Farias (PTRJ) disse que a apresentação do relatório é “escândalo” e “provocação”.

“Só leem esse relatório por cima do nosso cadáver.” O PT deve elaborar estratégia para atrasar a tramitação. 

 

Confiança. ‘Entendo que as reformas são algo além do cenário político’, afirmou Meirelles

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Entidades querem manter equipe econômica

Eduardo Rodrigues

23/05/2017

 

 

Com a possibilidade da agenda de reformas ser prejudicada pela crise política, líderes de setores importantes da economia defendem a continuidade de votações no Congresso e a manutenção – qualquer que seja o cenário – da atual equipe econômica.

Para os presidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), a saída da recessão não pode ser prejudicada pela crise política.

O presidente da CNI, Robson Andrade, avaliou que o Congresso precisa continuar votando as medidas econômicas que já estão pautadas. “O Brasil não pode parar.” Andrade reconheceu que a votação da reforma da Previdência ficou mais difícil, mas lembrou que outras medidas, como as reformas trabalhista e política, ainda podem avançar.

Sobre a possibilidade de mudança de governo, Andrade disse que ainda é cedo para traçar um cenário. “Há muitas notícias desencontradas e temos de esperar que se faça uma perícia (nos áudios da conversa entre o presidente Michel Temer e o executivo da JBS) e que os fatos se desenrolem.” Independentemente de uma eventual mudança no Planalto, Andrade elogiou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e as medidas de ajuste fiscal. “O ministro Meirelles tem feito um grande trabalho de ajuste das contas, que tem de continuar.” Infraestrutura. Preocupado com o programa de concessões e com a aprovação de reformas, o presidente da CNT, Clésio Andrade, defendeu a manutenção de Temer no Planalto. “Temer tem toda condição para permanecer no cargo. Qualquer interrupção do atual governo pode prejudicar o programa de concessões de infraestrutura”, afirmou.

“O Supremo Tribunal Federal (STF) deve dar toda a oportunidade para Temer se defender das acusações.”

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45143, 23/05/2017. Economia, p. B5.