SÉRGIO ROXO
TIAGO DANTAS
02/08/2017
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou réu de uma ação penal pela sexta vez ontem. O juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia contra o petista na investigação sobre crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo.
Em maio, o Ministério Público Federal acusou Lula de ser o real proprietário do imóvel e de ter sido beneficiado por reformas de cerca de R$ 1 milhão feitas pelas construtoras OAS e Odebrecht entre o fim 2010, quando ele ainda era presidente, e 2014.
A defesa de Lula afirma que ele não é o dono do sítio, que está registrado em cartório em nome de Jonas Suassuna e Fernando Bittar. Em nota, o ex-presidente disse que a aceitação da denúncia é mais uma “farsa da Lava-Jato", que, segundo ele, o persegue sem ter provas.
LULA: “GRANDE CABO ELEITORAL"
Para o MPF, Lula participou “conscientemente do esquema criminoso” montado para fraudar licitações da Petrobras em troca do pagamento de propinas a políticos.
Segundo a denúncia, a Odebrecht gastou R$ 700 mil com a reforma do sítio por ter ganho três contratos com a estatal, enquanto a OAS pagou R$ 170 mil por ter se beneficiado em outros três. Os R$ 150,5 mil restantes vieram das contas do pecuarista José Carlos Bumlai, tido como amigo do petista.
Como indícios de que o expresidente era o beneficiário das reformas no sítio, Moro citou depoimentos de quatro delatores, além de mensagens de celular e da informação de que carros utilizados por Lula estiveram 270 vezes na propriedade entre 2011 e 2016. Ainda segundo o juiz, ao longo das investigações Lula não explicou a origem do pagamento das reformas.
Em vídeo transmitido pelo Facebook, antes da decisão de Moro, Lula afirmou que pode ser um “grande cabo eleitoral" se ficar fora da eleição:
— Posso ser um bom candidato a presidente, se for candidato; posso ser um grande cabo eleitoral, se não me deixarem ser candidato; e, se morrer como mártir, serei um grande cabo eleitoral.
Os outros processos
INSTITUTO LULA: Em dezembro, Lula virou réu em ação sobre a compra, pela Odebrecht, de um terreno ao Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao dele em São Bernardo
ZELOTES: Também em dezembro, a Justiça do DF aceitou denúncia contra o petista, acusado de interferir na compra de 36 caças e de beneficiar montadoras por meio de medida provisória
JANUS: Em outubro, Lula virou réu em uma ação da Operação Janus, em Brasília. Ele é acusado de usar sua influência no BNDES para favorecer a Odebrecht em obras em Angola
OBSTRUÇÃO: Em julho do ano passado, o ex-presidente passou a responder a ação em que é acusado de comprar o silêncio de Nestor Cerveró. No mês passado, a Procuradoria pediu arquivamento da ação.
O globo, n.30676 , 02/08/2017. PAÍS, p. 5