Título: Caderneta, a preferida
Autor: Martins, Victor; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2012, Economia, p. 10/11

Pela segurança que oferece, a caderneta de poupança continua a preferida da maioria da população brasileira. Além de não sofrer qualquer tributação, o dinheiro pode ser retirado a qualquer momento, de forma fácil e rápida. Dados do Banco Central comprovam que a captação da aplicação cresceu mês a mês no ano passado — o saldo ficou em R$ 418,6 bilhões até 27 de dezembro. Do ponto de vista do rendimento, contudo, ela mal repôs a corrosão do custo de vida. Descontada a inflação, garantiu um ganho real de apenas 0,87% em 2011, conforme projeções.

Desde 1994, início do Plano Real, a caderneta rendeu, em termos reais, 96,36%, contra inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Ampliado (IPCA) de 173,58%. A aplicação sequer dobrou o valor do capital inicial, segundo cálculos do economista, matemático e professor José Dutra Vieira Sobrinho. "Para quem nada entende sobre mercado financeiro, não tem tempo de acompanhar diariamente e não está atualizado sobre questões globais de impacto direto na economia brasileira, a poupança, sem dúvida, é a melhor aplicação. É totalmente segura", indica.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a poupança funciona como reserva de valor. "Garante, às vezes, a manutenção do poder de compra", diz. Dutra lembra que ela já apresentou resultado negativo. "A perda real histórica foi em 2002. A inflação chegou a 12,53% e a rentabilidade da poupança, a 9,14%. Menos 3,01%", lembra. Apesar das facilidades, o cálculo para o retorno líquido requer domínio de matemática financeira. O rendimento bruto da aplicação, em 2011, é de 7,45%, ao passo que IPCA deve ficar em torno de 6,5%.

"Maior a inflação, menor o ganho na poupança, que, aliás, já vai ser inferior ao registrado em 2010, de 0,93%", compara Dutra. O investidor tem que ficar atento também ao que o governo vai fazer com a caderneta, cujo rendimento é calculado com base na Taxa Referencial (TR), mais 6% anuais. "Toda vez que a Taxa Básica de Juros (Selic) cai, os técnicos do Banco Central mudam o critério de cálculo da TR para impedir que a poupança renda mais que os fundos de investimentos", alerta. A situação tende a se complicar, na visão de Cesar Bergo, da Planner Corretora. Para ele, não há dúvidas de que serão feitas alterações para reduzir o retorno aos poupadores, em 2012.

Renda fixa Concorrente diretos da poupança, o investimento em fundos de renda fixa também caiu no gosto do brasileiro em 2011. Com o recrudescimento da crise financeira, esses produtos também consolidaram o status de porto seguro, mas com uma taxa de retorno mais expressiva que a da caderneta — obtiveram, em média, 11,7% no ano passado.

Mas, sobre o valor, é descontado o Imposto de Renda. "Quem aplicou em mais risco sofreu mais. Os produtos de renda fixa, pelo contrário, renderam muito bem", observa Osvaldo do Nascimento, diretor executivo e responsável pelas operações de investimento e previdência do Itaú Unibanco.

A vantagem desses fundos é a liquidez diária e a possibilidade de iniciar as aplicações com valores baixos, a partir de R$ 50, em alguns casos. "O cenário de 2011 foi bastante positivo para renda fixa em um ano de juros altos. Apenas no fim, com os cortes na Selic, esse retorno se reduziu um pouco, mas, na média, o desempenho foi muito bom", diz Nascimento. (VB e VM)

Custos variados Os fundos de renda fixa são organizados em forma de condomínio e o patrimônio, dividido em cotas. São seguros porque, no mínimo, 80% de seus recursos devem ser aplicados em títulos de renda fixa públicos ou privados, pré ou pós-fixados, de acordo com as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os custos da aplicação são os mais variados, a depender de cada instituição ou fundo e vão de 0,5% a 4% ao ano. Para especialistas em educação financeira, se essa taxa superar 1,5% no ano, o investimento fica desinteressante frente à poupança e à compra direta de títulos do Tesouro Nacional.