Título: Melhora a perspectiva da bolsa
Autor: Martins, Victor; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2012, Economia, p. 10/11
Depois de um 2011 negativo para a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa), que amargou queda de 18,1% no ano — a terceira maior, desde a estabilização da economia com o Plano Real —, a perspectiva é de ventos melhores para o mercado acionário em 2012. Mas, ainda assim, cautela é fundamental. O ano ainda deve ser de muitas oscilações. O investidor pode ter bons lucros se souber escolher companhias rentáveis, diversificar aplicações e mudar a composição da carteira na hora certa.
Especialistas ponderam que as medidas do governo para blindar o Brasil do contágio da crise externa vão se fazer sentir mais intensamente no início deste ano, o que deve incentivar o apetite pelo risco e atrair novos investidores para a bolsa. Eles aconselham, contudo, para quem nunca aplicou em ações, a busca de ajuda profissional. "O investimento tem que ser cirúrgico, bem calculado e com extrema atenção aos rumos que o governo vai dar à economia em um ano eleitoral. Se os juros se mantiverem em queda e a inflação seguir comportada, a bolsa, sem dúvida, fechará 2012 no azul", prevê Cesar Bergo, economista da Planner Corretora.
Para Harold Thau, da Técnica Assessoria de Mercado de Capitais, ações de grandes empresas, como as de petróleo, mineração, energia, bens de consumo e mineração, estão entre os papéis que prometem engordar o lucro dos acionistas. Felipe Chad, sócio-diretor da DX Investimentos, admite que, para os que entraram no mercado na euforia da alta e registraram perdas de mais de 20% do capital inicial, o melhor seria vender o que resta dos papéis e rever as estratégias. "Bolsa é investimento de longo prazo; no mínimo, cinco anos", ensina. Outros analistas acreditam que não vale a pena realizar as perdas totalmente. Pode ser interessante segurar alguns papéis por mais tempo, à espera de uma melhora no mercado, mas tudo vai depender do objetivo do investidor.
Lauro Vilares, analista técnico da XP Investimentos, tem visão semelhante. A seu ver, a estratégia de rever os ativos que compõem a carteira é necessária para quem perdeu muito, mas ele alerta que o mito de que o investidor deve comprar ações de companhias grandes e supostamente seguras, e permanecer com elas por anos, tem que ser derrubado. "É preciso ler muito e conhecer bem o mercado para fugir das armadilhas. Em 2000, por exemplo, comandavam o Ibovespa as empresas de telecomunicações. Hoje, são as de commodities (mercadorias com cotação internacional) que lideram", exemplifica.
"A composição do Ibovespa muda de quatro em quatro meses. Empresas com desempenho ruim são retiradas e as que melhoram ganham participação. Em 10 anos, a única que continuou foi a Petrobras", lembra Vilares. Ele calcula que, nos últimos 10 anos, a bolsa deu um retorno excelente para os investidores: acumulou ganhos de mais de 230%, superando, em muito, a inflação de 90% do período.
Clubes Para quem está interessado em ações, mas tem dificuldades ou falta de tempo para acompanhar as oscilações e elaborar estratégias de aplicação, existem duas opções: o clube de investimentos e o fundo de investimentos. O primeiro é a união de recursos de várias pessoas — no máximo, 150 participantes —, administrados por uma instituição credenciada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esses grupos têm que ter, no mínimo, 51% dos recursos aplicados em papéis do mercado acionário, bônus e debêntures conversíveis em ações. O site da bolsa e da CVM tem orientações de como montar ou participar de um grupo desses.
Já os fundos de investimento funcionam de maneira mais independente. O investidor escolhe o fundo e aplica o dinheiro. O administrador da carteira toma todas as decisões sobre onde os recursos serão aplicados. Atualmente, existem dois tipos de fundos de ações: os indexados, que têm a obrigação de acompanhar um índice, a exemplo do Ibovespa; e os livres, que podem reunir papéis setoriais ou de diversos ramos sem o compromisso de acompanhar qualquer índice. É um produto considerado de alto risco e mais comum entre aplicadores que buscam uma rentabilidade mais elevada. O resgate, geralmente, só ocorre quatro dias após a solicitação.
Para quem apostou nesses produtos em 2011, o resultado foi amargo, como mostra o derretimento do Ibovespa. Ainda assim, alguns fundos específicos de renda variável venceram o fantasma da crise e aproveitaram as oscilações do mercado para ganhar dinheiro, como os do Bank of New York Mellon Brasil, que obteve retorno de 21,05% com o seu melhor produto.
"Quando se discute investimento, é importante avaliar o perfil de risco de cada cliente. Se ele tem perspectiva de longo prazo, pode aplicar em renda variável, porque o tempo dilui os riscos", argumenta Osvaldo dos Nascimento, diretor executivo do Itaú Unibanco e responsável pelas operações de investimento e previdência.
Estratégia no CDB A melhor estratégia para conseguir um bom retorno ao investir em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), na avaliação de Silvio Alexandre, diretor da corretora Novinvest, é distribuir os recursos entre pequenas instituições. "Aí é possível conseguir o total do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro, negociado entre bancos). Ao mesmo tempo, funciona como uma defesa. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC, associação de bancos e instituições financeiras), em caso de falência, garante as aplicações até R$ 70 mil por CPF", explica. Isso significa que, ao se distribuir R$ 210 mil, por exemplo, entre três pequenas instituições financeiras, todo o capital está garantido. "Mas é importante lembrar que, quanto maior o poder de barganha, maior é o risco. Os pequenos são mais vulneráveis." Com os grandes bancos, no entanto, o mais difícil é conseguir um rendimento de 100% do CDI (bem próximo dos 11% da Selic).