Título: Como nos países desenvolvidos
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2012, Economia, p. 8/9
O Brasil que envelhece a passos largos ficará cada vez mais parecido com os países desenvolvidos, que veem a sua pirâmide demográfica se inverter, com menos jovens e mais velhos, fruto de taxas de natalidade menores e de expectativas de vida elevadas. Hoje, a esperança de vida do brasileiro ao nascer é de 73,5 anos. Em meio século, será de 82,3 anos, a mesma dos japoneses hoje.
Assim como ocorreu em países como a Rússia, o processo de envelhecimento no Brasil é irreversível, mas há uma grande diferença: enquanto países europeus, a exemplo da França, levaram mais de um século para ver a quantidade de idosos saltar de 7% para 14% da população, em solo nacional esse processo se dará em 20 anos. "É uma transição que acontecerá de forma muito mais rápida, o que significa que os desafios também serão maiores. Todas as mudanças institucionais, sobretudo a da Previdência Social, e de financiamento público devem ser aceleradas", diz Magnus Lindelow, coordenador de educação, saúde e proteção social do Banco Mundial no Brasil.
O governo Dilma Rousseff carrega sobre os ombros uma enorme responsabilidade e, se não quiser fazer feio, precisa promover reformas nada populares, como instituir idade mínima para a aposentadoria (60 anos para as mulheres e 65 para os homens), botar freio nas pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social e instituir o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos.
A experiência internacional revela que, quanto mais se adiam as mudanças, mais drásticas elas têm de ser no fim. "Estamos deixando o problema estourar. Já temos uma tributação alta e a sociedade dá sinais de que não quer aumento de impostos para bancar um sistema previdenciário insustentável. Ou ela aceita alterações, ou terá de pagar mais para bancar uma fatura maior", avalia o economista Marcelo Abi-Ramia.
Ele observa que, de um lado, a alteração da pirâmide demográfica aliviará os gastos com educação, já que haverá menos jovens matriculados nas escolas públicas. De outro, o sistema de saúde e a Previdência serão mais demandados. "As despesas dos idosos caem no que diz respeito aos filhos, ao ensino e ao lazer, já que eles podem viajar em baixa temporada. No entanto, os custos com saúde são altíssimos", observa.
Pelos dados do estudo Envelhecendo em um Brasil Mais Velho, do Banco Mundial, em 2050, será necessário o quíntuplo do número de profissionais que atualmente cuidam dos idosos. Além disso, governo e sociedade terão de dar suas cotas de sacrifício para melhorar os hospitais e toda a infraestrutura necessária para atendê-los. No Brasil, os gastos públicos equivalem a 45% do total investido na saúde. Na Bélgica e no Canadá, os governos garantem 70% dos desembolsos e, na Inglaterra, 85%.