Mônica Scaramuzzo
20/06/2017
Em meio às investigações de corrupção em curso no País, desencadeadas a partir da Operação Lava Jato - que colocou no olho do furacão grandes grupos brasileiros -, gestoras de investimentos nacionais e estrangeiras estão mais cautelosas para fechar negócios. Mesmo com ativos mais baratos, até investidores mais dispostos a riscos estão recorrendo a salvaguardas jurídicas antes de fechar uma transação.
À frente do JB Investimentos, José Luiz Osorio, redobrou a preocupação na hora de avaliar um negócio. “Já tínhamos como critério não investir em empresas de capital misto (com participação de estatal), por exemplo”, diz. Segundo ele, há muitas empresas estatais com bons ativos sob gestão, mas ações de companhias com boas práticas de governança corporativa oferecem menor risco aos investidores.
Ex-executivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o sócio-gestor da Jardim Botânico Investimentos tem R$ 300 milhões sob gestão. Osorio também foge de empresas que são minimamente reguladas pelo governo, mesmo correndo o risco de sobrar poucas opções no cardápio para investir. “Nunca fizemos investimentos, por exemplo, em empresas do Grupo X, de Eike Batista.”
O cenário atual, com novas delações, mais do que reforça a cautela das gestoras, diz Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, que tem R$ 500 milhões sob gestão e também é atuante em conselhos de empresas nas quais costuma investir. “Ter conselheiros independentes é um bom sinalizador para o mercado”, diz Rudge.
‘Efeito Lava Jato’. Com deflagração da Lava Jato, muitas empresas que foram alvo da operação tiveram de colocar boa parte de seus negócios à venda para ganhar maior liquidez. Mesmo diante de um leque maior de ativos de empresas investigadas à disposição e da crise econômica, que deixaram as empresas mais baratas, muitos gestores só estão fechando negócios com respaldo jurídico. Foi o caso da canadense Brookfield, que condicionou a compra de 70% da Odebrecht Ambiental ao acordo de leniência da companhia, apurou o Estado com fontes a par do assunto. A Brookfield não comenta.
A gestora canadense não é a única que busca retaguarda jurídica para concluir uma transação. Após as delações dos donos da JBS, controlada pela holding J&F, importantes companhias do grupo foram colocadas à venda. A Alpargatas, por exemplo, já é alvo de cobiça de fundos de investimentos que já chegaram a olhar o negócio que pertencia ao grupo Camargo Corrêa, como Tarpon e Carlyle, apurou o Estado. Tarpon, Carlyle não comentam. J&F confirma a contratação de bancos para a venda da Vigor e negociações sobre Eldorado.
Antes de fazer uma oferta por esse negócio, os fundos deverão consultar seus advogados. Pessoas familiarizadas com esses dois fundos, mas que preferiram não se identificar, dizem que esse ativo é interessante, mas querem entender se ele poderá ser “contaminado” mesmo com o acordo de leniência assinado no Brasil ou se aguardam a assinatura de uma acordo nos Estados Unidos.
Para o advogado e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luís André de Moura Azevedo, na falta de uma proteção contratual adequada, os fundos que têm mais pressa e não podem aguardar acordo leniência, podem correr riscos mais para frente. O ideal seria esperar pelo acordo.
Um importante gestor de grande fundo americano com atuação no País diz que um acordo ratificado pelo Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, uma vez que já é público, dá mais segurança ao comprar um ativo da Lava Jato. Mas, na dúvida, diz esse gestor, está em busca de negócios de menor risco no Brasil./ COLABOROU CÁTIA LUZ
Movimento bilionário
As transações de fusões e aquisições no Brasil movimentam por ano cerca de R$ 150 bilhões, afirmam executivos de grandes bancos de investimentos com atuação n o Brasil
O Estado de São Paulo, n. 45171, 20/06/2017. Economia, p. B7