Cabral pede acareação com doleiros que delataram fortuna de propina no exterior

JULIANA CASTRO

01/08/2017

 

 

Ex-governador admite que pediu dinheiro para Eike Batista na campanha de 2010

Em novo depoimento à Justiça Federal do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) pediu ontem ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, uma acareação com os doleiros Renato e Marcelo Chebar, que, em delação premiada, afirmaram ter ocultado no exterior US$ 100 milhões que pertenceriam ao ex-governador e a outros dois acusados de integrar o esquema. O dinheiro foi devolvido ao Ministério Público Federal (MPF).

Cabral sustentou ainda que quer ficar frente a frente com os delatores das empreiteiras, entre eles, os ex-diretores da Andrade Gutierrez que disseram que ele cobrava 5% dos contratos de obras no estado.

O depoimento faz parte do processo da Operação Eficiência, em que Cabral é acusado de receber US$ 16,5 milhões em propina no exterior pagos pelo empresário Eike Batista. Eike também foi ouvido ontem, mas se recusou a falar sobre a transação. O empresário tenta um acordo de delação premiada com o MPF.

Cabral disse que, em 2010, durante um jantar na casa de Eike, pediu a ajuda do empresário para sua campanha de reeleição. O então sócio de Eike, Flávio Godinho, que estava presente, teria dito, segundo o peemedebista, que só teria como pagar no exterior.

O ex-governador explicou que não pediu um valor específico, mas que Eike ofereceu ajudar com cerca de R$ 30 milhões. Cabral afirmou que indicou os irmãos Chebar para viabilizar o recebimento dos recursos no Brasil para a campanha, mas declarou não saber como isso foi feito e que não teve conhecimento da operação no exterior.

— Nunca estabeleci nenhum toma lá dá cá com o empresário Eike Batista — assegurou Cabral, que prestou depoimento por duas horas.

O MPF questionou Cabral sobre o motivo pelo qual o pagamento de US$ 16,5 milhões no exterior ocorreu em 2011, se a campanha foi em 2010.

— Eu sei que recebi em 2010. Essa é a verdade dos fatos — afirmou, alegando que, como os irmãos Chebar são doleiros e trabalham com outras pessoas, poderiam ter feito alguma operação para somente em 2011 receberem o crédito do dinheiro remetido à campanha.

A estratégia de defesa de Cabral tem sido atribuir o dinheiro gasto em joias e em outros luxos a sobras de caixa dois de campanha. O ex-governador afirmou que não usou os recursos de caixa dois para enriquecer:

— A quase totalidade de recursos que obtive com o caixa dois eu gastei na política, e não para enriquecer — afirmou.

O globo, n. 30675, 01/08/2017. PAÍS, p. 6