‘Estava sofrível. Não estava bom não, vou ser sincero’

01/08/2017

 

 

BRETAS E O INGLÊS DE CABRAL - Juiz e ex-governador tiveram momento de tensão em audiência

 

Na mesma audiência na qual negou liderar esquema de desvio de dinheiro público, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) foi repreendido pelo juiz federal Marcelo Bretas e se viu confrontado com a falta de habilidade na fala da língua inglesa, classificada como “sofrível” pelo magistrado.

No início da audiência, o juiz disse a Cabral que faria um esclarecimento a ele sobre uma entrevista que o magistrado concedeu ao jornal “Valor Econômico”.

— O acusado tem o direito de saber que está sendo processado por um juiz imparcial — afirmou Bretas.

A defesa de Cabral entrou com pedido de suspeição do juiz, alegando que, na entrevista, ele demonstrou parcialidade ao falar que, com relação às joias, ainda não decidiu se era propina e ostentação ou lavagem de dinheiro. Cabral disse no depoimento que lhe “causou espécie” o conteúdo da entrevista e que pareceu que Bretas já o tinha condenado e estava apenas esperando para ver a tipificação do crime.

O depoimento seguiu e Cabral voltou a comentar o assunto. Leu trecho da decisão de Bretas sobre o pedido de seus advogados para que o magistrado se declarasse suspeito. Foi quando Bretas subiu o tom.

— Eu não lhe dou autoridade para discutir a minha decisão comigo — declarou o juiz. — As questões técnicas são dirigidas aos seus advogados.

Mais tarde, com menor tensão, houve espaço até para um momento de “sinceridade” de Bretas, quando tratava da relação entre Cabral e Eike Batista.

Cabral explicava que pediu a Eike para contribuir com diversas atividades no Rio.

— Até para a fundação da Madonna, eu pedi recursos para o Eike — afirmou o ex-governador, referindo-se a uma ação com a pop star, na sua visita ao Rio, em 2010, quando Cabral deu entrevista ao lado da cantora.

Bretas disse ter visto o vídeo da entrevista em inglês, ao lado de Madonna, e emendou um comentário sobre o inglês de Cabral:

— Estava sofrível. Não estava bom não, vou ser sincero — disse o juiz da Calicute.

— Naquele dia, eu estava animado — respondeu Cabral, antes de complementar: — Era festa, o carnaval carioca, estava recebendo a Madonna...

O globo, n.30675 , 01/08/2017. PAÍS, p. 6