Olhar para Moçambique

RODRIGO BAENA SOARES

07/08/2017

 

 

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As relações do Brasil com a África são essenciais e respondem a um sentimento profundo da sociedade brasileira. Bastaria visitar, como tenho feito ao longo de quase dois anos como embaixador em Moçambique, com uma visão aberta e sem preconceitos, muitas regiões do continente para se verificar o quanto temos em comum. Esses traços comuns formaram o alicerce a partir do qual os vínculos entre o Brasil e a África se ampliaram e possibilitaram a consolidação de diversas exitosas parcerias ao longo das últimas décadas, como a que mantemos com Moçambique.

A recente visita do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, serviu para reafirmar a condição daquele país-irmão como parceiro prioritário e dissipar temores e rumores de distanciamento do Brasil em relação à África. Reforçou áreas tradicionais do relacionamento bilateral, sobretudo a cooperação, a cultura e os investimentos, e possibilitou a abertura de novas frentes entre os dois países.

Como vários outros países, o Brasil investe em Moçambique. Os montantes ultrapassam US$ 9 bilhões e estão associados às áreas de mineração, energia e construção civil e cada vez mais à agricultura. Em sua estada em Moçambique, o ministro participou da inauguração do corredor logístico de Nacala, no centronorte do país, obra realizada pela Vale. O empreendimento foi construído para o escoamento de carvão e inclui ferrovia de 912 quilômetros, além de infraestrutura portuária, com potencial de exportar por ano até 18 milhões de toneladas de carvão, atualmente o principal item da pauta de exportações do país. Temos muito ainda a avançar em termos de investimento brasileiro em Moçambique, país de grande potencial em áreas como agricultura e indústrias como pneus, vidros e têxteis, com benefícios para empresários brasileiros e moçambicanos.

Moçambique é o maior beneficiário da cooperação brasileira no mundo todo. São mais de 40 projetos em execução, em áreas das mais diversas como educação, saúde, agricultura, desenvolvimento urbano e formação profissional. Embora com as conhecidas limitações orçamentárias, estamos conseguindo manter os programas e mesmo ampliá-los, como o projeto na área de gestão sustentável de recursos naturais, em parceria com o Banco Mundial, o primeiro do gênero assinado pelo Brasil. Apenas neste último semestre, foram realizadas 29 missões de cooperação técnica. Ainda durante a visita do chanceler brasileiro, a fortíssima identidade cultural entre os dois países foi reforçada com a reabertura do renovado espaço do Centro Cultural Brasil-Moçambique e a inauguração do auditório Vinicius de Moraes, justa homenagem ao grande poeta e diplomata.

Temos que continuar a forjar parcerias concretas com Moçambique no presente e no futuro na busca de um efetivo intercâmbio econômico, tecnológico, de cooperação e de investimentos. Estou convicto de que parcerias com países como Moçambique contribuem para a nossa projeção, emprestam visibilidade a políticas públicas exitosas e a soluções tecnológicas nacionais e impulsionam o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

 

*Rodrigo Baena Soares é embaixador do Brasil em Moçambique

O globo, n.30681 , 07/08/2017. EDITORIAL, p. 15