Maia pede ao STF suspensão de depoimento à PF

ANDRÉ DE SOUZA

CAROLINA BRÍGIDO

05/08/2017

 

 

Presidente da Câmara é suspeito de ter recebido pagamento por MPs

 

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de seu depoimento à Polícia Federal (PF), marcado para terça-feira da semana que vem. Ele vê irregularidades no ato da PF que determinou a data.
Maia também solicitou que um dos inquéritos da Operação Lava-Jato abertos no STF em razão da delação de executivos da Odebrecht — e no qual está previsto seu depoimento — seja dividido em dois. Em um deles, Maia ficaria sozinho. No outro, continuariam na lista de investigados os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), além do o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Num dos inquéritos abertos no STF após a delação da Odebrecht, os cinco parlamentares são acusados de receber pagamentos em decorrência da aprovação de medidas provisórias (MPs) que beneficiariam a empresa. Mas a defesa de Maia argumenta que um dos delatores, o executivo Cláudio Melo Filho, disse que o atual presidente da Câmara nada fez para ajudá-lo. A decisão de aceitar ou não os pedidos caberá ao ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no STF.

— Tenho certeza absoluta que ele nada fez. Acho até porque não era do estado dele. Não dizia respeito a ele. Era setor petroquímico. Mas depois, em uma conversa, como eu sabia que podia contar com ele em outra oportunidade, ele perguntou: “Cláudio, você tem como me ajudar? Ficou ainda um resto de campanha para pagar no Rio de Janeiro”. Ele tinha sido candidato a prefeito em 2012. Eu aí falei com a empresa, e dentro desse pacote acabou se estabelecendo .... A gente fez uma contribuição no valor de R$ 100 mil a ele — disse Cláudio Melo Filho em trecho do depoimento de sua delação citado pela defesa de Maia.

“Destaque-se que não há nos autos qualquer outra menção ao nome do requerente. O fato narrado pelo colaborador é isolado e adveio de uma conversa fortuita e informal no Congresso Nacional, que, segundo palavras do próprio colaborador, ocorreu por ‘absoluta coincidência’”, acrescentou a defesa, em documento assinado pelos advogados Ary Bergher, Raphael Mattos, Bianca Ales e Danilo Bonfim.

REPASSES DE R$ 4 MILHÕES

“Assim, os fatos objeto da presente investigação são totalmente estranhos ao requerente, que sequer participou de qualquer reunião, ou mesmo teve interferência nos assuntos relativos às citadas medidas provisórias, que iriam hipoteticamente beneficiar empresas em questão, já que, repita-se, a votação ocorreu no Senado Federal e não na Câmara dos Deputados”, concluem os advogados.

O depoimento de Maia à PF, previsto para o dia 8 de agosto, foi marcado no mês de julho, no recesso do STF. Na avaliação dos advogados, isso prejudicou o exercício do direito de defesa. O pedido é que o depoimento fique suspenso até que haja uma decisão sobre o desmembramento da investigação.

No Congresso, segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas delações da Odebrecht, a aprovação das medidas provisórias teria resultado no pagamento de R$ 4 milhões destinados a Jucá e Renan. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, é acusado de ter recebido R$ 2 milhões. Rodrigo Maia e Lúcio Vieira Lima são apontados como beneficiários de pagamentos de R$ 100 mil cada.

O globo, n.30679 , 05/08/2017. PAÍS, p. 4