Título: Bolsas de valores em plena euforia
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2012, Economia, p. 12

Os principais mercados do mundo experimentam forte valorização com a melhora do cenário global. A Bovespa acumula alta de 14,9% no anoNotíciaGráfico

A melhora nos indicadores da economia norte-americana e a percepção cada vez mais clara de que os líderes europeus, aos poucos, afastam o risco de colapso no bloco deram aos mercados um fôlego adicional neste início de ano. As principais bolsas de valores acumularam, desde janeiro, ganhos expressivos (veja quadro), deixando aos mais incautos a sensação de que a crise acabou. Até ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) registrou alta de 14,9% no ano, impulsionada, especialmente, pela entrada de mais de US$ 7 bilhões em recursos estrangeiros.

A euforia se repetiu na Europa, onde o principal índice de ações da região avançou 5,4%, puxado pelas valorizações de 10,7% na bolsa alemã e de 15,1% no pregão grego, e nos Estados Unidos — o Dow Jones subiu 3,57% de janeiro até ontem. Mas, embora tenha feito muitos investidores dormirem mais aliviados, o movimento está longe de sinalizar uma recuperação consistente do mercado de ações. Mesmo sem acreditar na formação de uma bolha de preços, os analistas ouvidos pelo Correio alertaram que a aceleração nos índices está apoiada em sinais frágeis de melhora no sistema financeiro.

"A percepção de risco global mudou e a possibilidade de quebra na Europa diminuiu, mas esse sentimento positivo está pautado por um cenário muito incerto", comentou o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano. Por ora, explicou ele, a disposição dos investidores em comprar ações está baseada na expectativa de que os juros norte-americanos ficarão baixos por mais tempo — confirmada pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) — estimulando a economia. Os agentes também esperam que o Banco Central Europeu (BCE) evite, com a oferta de novas linhas de empréstimo, que os bancos da região quebrem ao aceitarem um calote da dívida grega.

Além do impacto mais favorável do cenário internacional, o respiro das bolsas está sendo sustentado pela necessidade dos administradores de fundos de investimentos e grandes carteiras de ações de recuperar as perdas acumuladas no ano passado. "Os investidores saíram de aplicações defensivas, como dólar e títulos do Tesouro dos Estados Unidos, e foram para as ações porque eles precisam gerar receita. Faz parte do jogo ter riscos para obter ganhos. Não há como ficar indefinidamente imaginando que a situação ficará pior", ponderou a economista-chefe da corretora Icap Brasil, Inês Filipa.

Para a economista Zeina Latif, contribui ainda para a valorização das bolsas o efeito calendário, pelo qual os investidores tendem a se arriscar mais no início do ano, momento em que suas metas para o período acabaram de ser definidas. "Os administradores de fundos terminaram 2011 em compasso de espera e agora voltaram a negociar. A recuperação, porém, parece muito mais transitória do que perene", afirmou.

Enquanto garante alguma recomposição para os grandes investidores, a fragilidade da alta nas bolsas pode ser uma armadilha para as pessoas físicas. O momento é bom para o pequeno aplicador, mas é preciso ter cuidado, lembrou Carlos Henrique de Oliveira, analista da corretora Gradual em Brasília. "É possível aproveitar ainda algum ganho, mas não é um bom negócio entrar na bolsa com todo o recurso disponível. Ideal é deixar de fora, na renda fixa, pelo menos 50% das reservas", avaliou.

Fed e BCE Apesar do cenário ainda incerto, alguns analistas projetam valorização na BM&FBovespa em 2012. Os mais otimistas acreditam que o Ibovespa pode chegar aos 75 mil pontos no fim do ano, enquanto os mais pessimistas não esperam queda além dos 64 mil — ontem, o índice fechou em 65.217, com alta de 0,97%. Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, porém, a concretização de um quadro favorável dependerá da manutenção das ações do Banco Central dos Estados Unidos (Fed) e do europeu (BCE). "É preciso saber se a atuação será suficiente para estabilizar definitivamente as economias. Por enquanto, acredito que não seja", destacou.