Temer admite ‘crise política evidente’ no País

Jamil Chade

23/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Presidente afirma que vai recorrer de decisão de juiz que rejeitou queixa-crime contra Joesley

Horas depois de chegar à capital norueguesa e falar que o Brasil está “deixando para trás uma severa crise econômica”, o presidente Michel Temer reconheceu que o País enfrenta uma turbulência política.

“Reconheço que há uma crise política evidente”, disse o presidente.

Em um encontro com 17 empresários noruegueses, Temer adotou um discurso mais otimista. “É interessante, a crise política não está invalidando a economia”, disse, sem citar os escândalos de corrupção e a incerteza política no País.

Mais tarde, ao reconhecer a crise política, ele disse que vai entrar com um recurso contra a decisão do juiz Marcos Vinícius Reis, da 12.ª Vara Federal de Brasília, de rejeitar a queixa-crime contra o empresário Joesley Batista, por difamação, calúnia e injúria.

“Vai haver recurso”, afirmou. Temer criticou o argumento da liberdade de expressão apresentado pelo juiz. “Eu poderia dizer as maiores barbaridades das pessoas da família de alguém e dizer que é liberdade de expressão e que não se pode fazer nada”, comparou. “Estou tomando as providências mais variadas para defender os aspectos, primeiro institucionais da Presidência, mas também morais.” Essa foi uma das duas ações movidas pelo presidente contra o dono do Grupo J&F, depois de Joesley afirmar que Temer era o “chefe da organização criminosa” em entrevista à revista Época. A outra ação é por danos morais.

Em São Paulo, o criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, advogado de Temer no processo que envolve as delações da JBS, afirmou que a defesa vai questionar a decisão do Supremo Tribunal Federal se o julgamento que foi interrompido ontem terminar com a manutenção da validade das delações.

“Não tenha dúvida de que vamos questionar essa decisão”, disse Mariz, ao chegar para um debate na Casa do Saber.

Família real. Sobre a parada de sua comitiva na Noruega, Temer destacou que a reunião de  ontem ocorreu “com o PIB da Noruega”, em uma referência ao peso das empresas que estavam presentes. Hoje, ele ainda vai encontrar a primeira-ministra do país e a família real. “O rei poderia me atender em meia hora e fez questão de me dar um almoço. Já soube que ele está chamando o príncipe”, afirmou o presidente.

Ao Estado, empresários afirmaram estar “preocupados” com a crise política. “O impacto é real e, em alguns setores, vemos paralisação de atividades”, disse Egil Haugsdal, presidente da Kongsberg.

Não longe dali, manifestantes brasileiros e noruegueses pediam a saída de Temer. Entre cartazes e discursos, um caixão era mostrado com uma faixa presidencial. O presidente deve ser recebido hoje, antes da reunião com a primeira-ministra, com novos protestos. Dessa vez, os manifestantes serão ativistas ambientais e líderes indígenas.

 

O Estado de São Paulo, n. 45174, 23/06/2017. Política, p. A7