Pezão afirma que pode não concluir mandato

 

Vinicius Neder e Lucas Gayoso

23/06/2017

 

 

No mesmo dia em que o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB), elevou o tom das críticas contra o governador Luiz Fernando Pezão, seu correligionário, e apontou como caminho para a saída da crise a intervenção federal ou o impeachment, o próprio governador admitiu que pode não concluir seu mandato.

Pezão esteve reunido ontem com servidores do Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe) para tratar do pagamento de salários atrasados. Diante das cobranças, afirmou que as demandas só poderão ser atendidas caso haja a assinatura do Programa de Recuperação Fiscal com o governo federal. Em diferentes momentos, o governador disse não ter certeza de que cumpriria o seu mandato. “Nem eu sei se fico no cargo até 2018”, afirmou o peemedebista, de acordo com um dos líderes do movimento, Ramon Carrera.

O governador já havia afirmado anteriormente que não é “apegado” ao cargo. Porém, a declaração coincide agora com a sinalização de Picciani aos deputados estaduais de que está retirando seu apoio ao colega de partido. A base de Pezão na Assembleia Legislativa é inexistente e as matérias de interesse do governo estadual são votadas de acordo com o encaminhamento do presidente da Casa.

‘Despreparado’. Em mensagem enviada ao líder do governo na Assembleia, deputado estadual Edson Albertassi (PMDB), Picciani usou termos duros contra Pezão. Chegou a se referir ao governador como “despreparado”. “Esse despreparado governador levou o Rio a um nível de descontrole sem precedentes”, escreveu.

No texto, Picciani se colocou contra a criação de um teto de gastos para os Poderes. Ele chegou a sugerir que estão se aproveitando do fato de ele estar afastado da Assembleia para o tratamento de um câncer para que o projeto avance. Disse ainda que o Rio já cumpriu sua parte ao aprovar medidas que contemplam as exigências da área técnica do governo federal no plano de recuperação.

Em tom de ameaça, o presidente da Assembleia encerrou: “O que vamos votar são as contas da gestão de Luiz Fernando Pezão referentes ao ano de 2016, já rejeitadas por unanimidade em parecer prévio do TCE (Tribunal de Contas do Estado).

Fora do Plano de Recuperação Fiscal, existem apenas dois caminhos, ambos duros: intervenção federal ou votar o impedimento do presente governo. Devemos e estamos nos esforçando para não chegar a isso.” Em entrevista à rádio CBN, Picciani se referiu a Pezão como “incompetente”. “O governo federal não está cumprindo a sua parte e falta tudo no governo do Estado. O governador, como é incompetente, como não sabe argumentar, como não tem força política, quem pode ajudar a resolver isso é o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e a bancada federal. O Rio de Janeiro não pode ser tratado assim”, afirmou.

Impasse. As negociações entre o governo fluminense e a União em torno da homologação do Programa de Recuperação Fiscal estão travadas em um impasse em torno da exigência de que Pezão aprove uma lei estadual de controle de gastos. Picciani é contra um teto de gastos. Com a relutância da Assembleia em relação à proposta, Pezão também passou a ser contra, mas o governador tem enfrentado resistência no Tesouro Nacional.

“Se nada disso for suficiente para o governo federal respeitar o Rio de Janeiro, só vai restar o governo Temer ter a coragem de fazer a intervenção aqui, porque o Rio não pode ficar nesse descontrole na área da segurança e na área da saúde, ou vamos fazer o impedimento. E, para fazer o impedimento, vamos enfrentar o governo federal”, disse Picciani à CBN.

Pezão não comentou as declarações de Picciani. Albertassi, que participou da reunião com o Muspe, não se manifestou.

Cobranças. Luiz Fernando Pezão se reuniu com representantes de servidores públicos

PONTOS-CHAVE

Governador enfrenta focos de uma crise

Política

Em fevereiro, deputados estaduais do PSOL protocolaram na Assembleia do Rio pedido de impeachment contra o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Administrativa

O Estado do Rio enfrenta um colapso financeiro, com atrasos no pagamento do funcionalismo e agravamento da crise em setores como a saúde.

Jurídica

A PF apontou novos indícios de recebimento de propina por Pezão, investigado na Lava Jato, em esquema que seria liderado por Sérgio Cabral. Ele nega.

 

O Estado de São Paulo, n. 45174, 23/06/2017. Política, p. A8