Título: Procura-se um diretor
Autor: Campos, Ana Maria ; Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 04/02/2012, Cidades, p. 25/26

Agnelo busca delegado para comandar a Polícia Civil do Distrito Federal com experiência, passado limpo e que tenha habilidade para afastar nova crise na corporação

Um delegado com experiência em investigações, respeito dos colegas, passado limpo, leal com a cúpula do Executivo, diplomático e sem vinculações políticas. Esse é o perfil que o governador Agnelo Queiroz (PT) busca para o próximo diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal. Não basta um técnico, ou seja, que tenha qualificação para comandar a classe e tomar decisões estratégicas sobre a área de segurança pública. O número um da corporação precisa ter também um atributo essencial: a habilidade para impedir novas crises que prejudiquem os trabalhos nas delegacias, diretorias e departamentos especializados e no funcionamento do governo.

A dificuldade de encontrar alguém com essas características adiou o anúncio do sucessor de Onofre de Moraes, que ocorreria ontem. Agnelo prefere analisar com mais cautela os currículos e a ficha profissional dos concorrentes para tomar a decisão que considerar mais acertada. Ele não quer ninguém com potencial para produzir escândalos ou que se torne alvo de ataques de colegas ou de deputados da bancada da segurança pública na Câmara Legislativa. Muito menos um delegado que possa se tornar refém de seu passado. É possível que o governador nunca encontre um nome que reúna todas essas características, mas busca alguém próximo do perfil ideal.

Durante todo o dia de ontem, houve variações na bolsa de apostas sobre quem seria o escolhido, com crescimento e queda nas chances dos concorrentes. Entre os mais cotados estavam o subsecretário do Sistema Penitenciário, Cláudio Moura Magalhães, e o diretor do Departamento de Polícia Circunscricional, Eric Seba. Os dois integram uma lista tríplice eleita pela Associação dos Delegados de Polícia do DF (Adepol) e encaminhada ao Executivo como indicações da categoria para a substituição de Onofre. O mais votado nessa seleção foi o delegado Jorge Luiz Xavier, da Inteligência da Secretaria de Segurança Pública. Ele também está no páreo. Corre por fora o delegado Maurílio de Moura Lima Rocha, chefe da Segurança Institucional da Câmara Legislativa.

Minidossiê Quando um dos candidatos se fortalecia, logo aparecia um minidossiê com críticas, produzido por adversários. Agnelo decidiu se certificar de que atropelos na trajetória dos candidatos não comprometam uma nomeação que precisa ser inquestionável. O governador sabe que não pode errar. Em apenas 13 meses de governo, ele está à procura do terceiro diretor-geral da Polícia Civil, uma instituição que não pode passar por turbulência sob pena de comprometer o trabalho essencial de segurança pública na capital do país.

Na última quinta-feira, Agnelo agiu rápido para estancar a crise na Polícia Civil. Para não constranger Onofre de Moraes, ele fez chegar ao então diretor-geral que a permanência dele no cargo ficara insustentável em virtude da divulgação, na noite anterior, de um vídeo com diálogos comprometedores, gravado pelo jornalista Edson Sombra (leia Entenda o caso). Onofre, então, se encarregou de pedir demissão, medida que anunciou numa entrevista coletiva. A agilidade em tomar uma decisão sobre a saída de Onofre, no entanto, esbarrou na peneira para a seleção do sucessor. Desde a tarde de quinta-feira, o delegado João Rodrigues, diretor-geral-adjunto, está no comando da instituição interinamente. Ele chegou a ser cotado como uma solução de continuidade, para evitar novas mudanças bruscas nas delegacias e demais cargos de chefia.

Agnelo, no entanto, confidenciou a interlocutores ter ficado surpreso com a relação de amizade que Onofre mantinha com Sombra, aliado do delator da Operação Caixa de Pandora, Durval Barbosa. Por isso, o governador receia que pessoas muito próximas ao diretor-geral também tenham um vínculo com o jornalista que comprometa o trabalho na Polícia Civil. O novo chefe da instituição deve ser escolhido nesta semana, depois de muitas consultas. O secretário de Segurança, Sandro Avelar, agora terá voz na definição, o que não aconteceu na nomeação de Onofre de Moraes.

Indicação O delegado Cláudio Moura Magalhães foi uma indicação pessoal do secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, para comandar a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe). Magalhães transita bem em diferentes tendências políticas. Tem também a simpatia do vice-presidente da Câmara Legislativa, Dr. Michel (PSL).

Os mais cotados

Maurílio de Moura Rocha, chefe da Segurança Institucional da Câmara

Jorge Luiz Xavier, da inteligência da Secretaria de Segurança Pública

Cláudio Moura Magalhães, subsecretário do Sistema Penitenciário (Sesipe)

Eric Seba, chefe do Departamento de Polícia Circunscricional

Entenda o caso Vídeo divulgado

O delegado Onofre de Moraes, 55 anos, entregou o cargo na última quinta-feira, um dia depois da divulgação de um vídeo em que ele aparece fazendo pesadas críticas ao governador Agnelo Queiroz (PT). As imagens foram gravadas em junho de 2011 pelo jornalista e blogueiro Edson Sombra. Na conversa, Onofre sugere que Agnelo seria preso. "Quando seu governador tiver saindo no camburão da Polícia Federal e eu estiver aposentado e vendo, eu só vou falar: pede à diretora (Mailine Alvarenga) para tirar ele (sic)", disse Onofre a um interlocutor, a quem ele chama de "Buchinho". Na ocasião, ele demonstra ressentimento pelo fato de Agnelo ter escolhido Mailine, a quem chamou de "empregada doméstic", para o comando da Polícia Civil e não ele. "Fui o delegado que mais trabalhou na campanha do governador, pedindo votos". Em entrevista coletiva esta semana, ele disse que, na reunião entre amigos, falou "galhofas e brincadeiras". Onofre ficou menos de três meses no cargo. Disse que, agora, vai se aposentar.

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