Título: Choque e ordem
Autor: Mariz, Renata ; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 07/02/2012, Política, p. 2

Tropas federais dão demonstração de força e cercam policiais grevistas ampliando a tensão provocada pela greve na Bahia. Planalto avalia aumentar o contingente de homens e diz que não vai negociar piso salarial

Uma coisa é a reivindicação, que é um direito legítimo e constitucional. A outra é buscar o vandalismo, provocar pânico na população, o que é intolerável" José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça

O agravamento da tensão na Bahia provocada pela greve geral de policiais militares e a ameaça de outros estados replicarem o movimento fez o governo federal endurecer ainda mais as ações contra a paralisação que completa oito dias hoje. De um lado da mesa, o Palácio do Planalto já fala em ampliar o atual contingente das tropas federais no estado, atualmente em 4 mil homens. Do outro, corporações de outras partes do país tentam intensificar a reivindicação por aumento salarial ensaiando ações semelhantes. Ontem, os grevistas chegaram a entrar em confronto com o Exército durante operação que cercou a Assembleia Legislativa baiana, utilizada como bunker pelos PMs. O conflito teve tumultos, disparos de balas de borracha, bombas de efeito moral e gente machucada.

Embora a tropa federal seja a maior já encaminhada a um estado em crise, o número de homicídios chega a 93 na região metropolitana de Salvador desde o início da paralisação. A presença dos policiais federais, da Força Nacional e das Forças Armadas não foi suficiente para diminuir um dos principais problemas no estado: o vandalismo. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, prometeu rigor na identificação dos responsáveis. "Uma coisa é a reivindicação, que é um direito legítimo e constitucional. A outra é buscar o vandalismo, provocar pânico na população, o que é intolerável", afirmou Cardozo.

A presidente Dilma Rousseff determinou ontem que o ministro faça tudo para manter a ordem na Bahia. O temor de que o movimento seja replicado pelo país é real. Na sexta-feira e no sábado, representantes de sindicatos e associações de policiais civis de vários estados se reunirão em Brasília, convocados pela Confederação Brasileira de Policiais Civis (Cobrapol). Policiais militares e civis do Rio de Janeiro farão uma assembleia na capital fluminense também na sexta. Nos dois encontros, a pauta é uma proposta de greve geral.

Presidente da Cobrapol, João Bosco Gandra não descarta a adesão ao movimento baiano, mas sem as cenas de violência. "Pode ser a greve mesmo ou alguns dias de paralisação, mas faremos as coisas com organização", adiantou Granda. Na Bahia, os grevistas prepararam uma contraproposta ao governo, depois de recusarem o reajuste de 6,5% retroativo a 1º de janeiro. O grupo quer anistia aos policiais e revogação dos 11 mandados de prisão expedidos, além do pagamento de uma gratificação que aumentaria o contracheque em R$ 600.

O governador Jaques Wagner afirmou que o estado não tem brecha no orçamento. Segundo ele, ao longo de cinco anos, o governo fez um processo de recuperação salarial de 30%, colocando a remuneração inicial de bombeiros e PMs em R$ 2,3 mil. Ele insistiu na punição de policiais que tenham cometido infrações.

Carnaval em risco A proximidade do carnaval, a festa mais importante do estado economicamente, é outro problema. Com a greve,10% dos pacotes turísticos com destino à Bahia foram cancelados, segundo Pedro Galvão, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) no estado. O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Claúdio Tinoco, é mais enfático. "Sem Polícia Militar não dá para fazer carnaval", diz. A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou alerta recomendando que cidadãos norte-americanos adiem "viagens não essenciais" à Bahia até que a situação seja normalizada.

Pela manhã, o tumulto se intensificou, quando 40 homens do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal e cerca de mil agentes do Exército isolaram a área da Assembleia Legislativa. O cerco foi feito para garantir o livre trânsito de funcionários, mas a ação terminou em confronto e dois feridos. Filhos pequenos dos grevistas que estavam no local participando de uma corrente para barrar a entrada das tropas federais terão de ser retirados, de acordo com liminar do Tribunal de Justiça da Bahia. A presença deles, segundo as autoridades, infringe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Colaboraram Júnia Gama, Paula Filizola, Gabriel Mascarenhas, Juliana Braga e Paulo de Tarso Lyra

Ecos no Distrito Federal Os policiais militares e os bombeiros do Distrito Federal ameaçam cruzar os braços caso reivindicações não sejam atendidas. A principal delas diz respeito à reposição salarial de 52%. Associações articulam para dar início a um movimento grevista. No próximo dia 15, em assembleia na Praça do Relógio, em Taguatinga, os cerca de 20 mil PMs e bombeiros decidirão se vão paralisar as atividades. O porta-voz do GDF, Ugo Braga, afirmou que o movimento é orquestrado por um pequeno grupo político que pretende jogar os militares contra o GDF. "A PM e os Bombeiros recebem tratamento especial do governador Agnelo. Podemos citar o investimento de R$ 100 milhões em equipamentos", afirmou. Os PMs do DF têm os maiores salários do país. Recebem cerca de R$ 4,5 mil.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 07/02/2012 02:15