Título: Posse com troca de farpas
Autor: Gama, Júnia ; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 07/02/2012, Política, p. 3

Aguinaldo Ribeiro assume o Ministério das Cidades em meio às alfinetadas do grupo ligado ao antecessor e promete investir em gestão para agradar Dilma » PAULO DE TARSO LYRA

O novo titular do Ministério das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP), que considerou simbólica a nomeação de um representante do semiárido nordestino para ser ministro de uma presidente com ascendência búlgara, prometeu concentrar sua atuação na gestão da pasta. "O seu governo conseguiu romper o falso dilema existente entre política e gestão. O seu governo adota a política no sentido mais amplo, de unir a política com resultados concretos e conquistas de avanços", disse o novo ministro a Dilma Rousseff, ontem, no Palácio do Planalto.

A presidente fez questão de lembrar ao novo ministro a importância do cargo que vai ocupar. "O Ministério das Cidades é uma pasta essencial para que o Brasil continue crescendo e se desenvolvendo. Até 2014, serão R$ 100 bilhões em investimentos para que possamos dar um salto na construção de um grande país", disse Dilma.

A posse, com a presença de líderes de todos os partidos e das correntes do PP que se digladiam internamente, não escondeu a disputa aberta pelos cargos no ministério. Os pepistas lutam pelo direito de emplacar o secretário executivo para substituir Roberto Muniz. Mas alguns setores do Planalto confirmam a tendência da efetivação de Inês Magalhães, atual secretária nacional de Habitação, no cargo. A medida contaria com a simpatia do PT e do PMDB.

Aguinaldo e o antecessor, Mário Negromonte (PP), chegaram juntos, no mesmo carro, ao Palácio do Planalto, em um esforço para mostrar que a situação política da legenda está pacificada. Não é bem assim. Nos diversos discursos e declarações à imprensa, era nítida a troca de farpas. "Não respondo a processo no Ministério Público, Justiça Federal, CGU ou TCU. Tenho seis mandatos e não tenho processo algum contra mim. As acusações contra o Aguinaldo precisam ser provadas. É lógico que ele precisa provar (a inocência dele), como eu provei (a minha). Eu fui à Câmara, fui ao Senado e fui ovacionado", disse Negromonte — Aguinaldo responde a dois processos no STF.

Aliados do ex-ministro Mário Negromonte que estiveram presentes à posse confirmaram que participariam de uma confraternização da legenda à noite, no Hotel Nacional. A aparente pacificação do PP tem um único motivo: não correr o risco de perder o Ministério das Cidades. Mas as mágoas ainda estão explícitas. "Na vida pública, ninguém consegue esconder nada, principalmente os defeitos. Tem que ter transparência", alfinetou o deputado Vilson Covatti (RS), questionado sobre as denúncias publicadas nos últimos dias contra Aguinaldo.

Liderança O grupo de Aguinaldo obteve outra vitória ontem. Apesar de alguns movimentos contrários, o deputado Arthur Lyra (AL) foi eleito líder do partido na Câmara. Mas aliados do novo ministro estão conscientes de que o fogo amigo vai continuar. "Sabemos que estão engrossando o caldo com denúncias, mas precisamos manter a união para não arriscar o ministério. Nossa postura agora é de cautela, não vamos chutar a canela, mas também não dá para sair abraçando", pontuou um pepista próximo ao atual ministro.

Colaborou Guilherme Amado