Título: BC intervém e segura dólar
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 07/02/2012, Economia, p. 10

Autoridade monetária volta a comprar a moeda norte-americana no segmento à vista após quatro meses sem operar. Em resposta, cotação reage e se valoriza em 0,59%, fechando o dia em R$ 1,727

Após quatro meses sem intervir no mercado de câmbio à vista, o Banco Central decidiu voltar à ação para segurar a queda do dólar. Ontem, realizou o primeiro leilão do tipo no ano. A instituição não divulgou o tamanho da operação, mas informou que comprou a moeda norte-americana a R$ 1,717. Para especialistas, essa foi uma das muitas intervenções que ainda estão por vir, sobretudo se a cotação continuar a beirar R$ 1,70, valor definido como piso extraoficial pelo BC, presidido por Alexandre Tombini. A dúvida, porém, é quanto fôlego e determinação a equipe econômica ainda tem para enfrentar a tendência de fortalecimento do real, que dificulta o fechamento das contas externas do país.

Na avaliação de economistas, com exceção das iniciativas tradicionais de enxugamento de dólares promovidas pelo BC, praticamente não há mais opções. "Qualquer medida que fuja desse contexto de leilões pode ser drástica demais para o mercado e aumentar os prêmios de risco", ponderou Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria. "Não acredito na possibilidade de mudanças tributárias ou outra coisa diferente dos leilões. Mudar alguma regra no meio do caminho pode ser negativo para o país", observou José Roberto Carreira, economista da Fair Corretora.

Antes da intervenção de ontem, o BC havia tentado segurar o dólar por meio do mercado futuro, mas não obteve o resultado esperado, já que a cotação continuou a derreter. Sem opção, a instituição optou por voltar aos leilões à vista. "Essa intervenção à vista vai continuar nos próximos dias", afirmou Carreira. Com a movimentação da autoridade monetária, o dólar reagiu e se valorizou 0,59%, terminando o dia cotado a R$ 1,727.

Condições No exterior, o movimento foi diferente. Tanto frente ao euro quanto ao iene (moeda japonesa), o dólar manteve-se sem variação comparado ao pregão de sexta-feira. Com a perspectiva de que os juros básicos continuem baixos pelo menos até 2014, como indicou o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), e com a crise global, a expectativa é de que a divisa norte-americana continue em baixa por um longo período. Segundo especialistas, os industriais brasileiros precisam se preparar, pois o governo não deve ter condições de manter o piso do dólar em R$ 1,70 por tempo indeterminado, o que deve favorecer as importações.

Ontem, a Secretaria de Comércio Exterior informou que, na primeira semana de fevereiro, a balança comercial registrou um superavit de US$ 196 milhões, resultado 83,6% menor do que o apurado no mesmo período de 2011. No acumulado do ano, o deficit é de US$ 1,095 bilhão, com exportações de US$ 18,746 bilhões e importações de US$ 19,841 bilhões. O mercado de juros futuros não foi afetado pelo leilão do BC. Os principais contratos se mantiveram estáveis, apostando em juros básicos (Selic) de 9,50% até o fim de 2012. Os contratos mais longos tiveram ligeiro aumento — o mais expressivo, de 0,05 ponto percentual, foi observado nos que vencem em julho de 2014.