Título: Dilma pressiona Mantega
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 07/02/2012, Economia, p. 11

Presidente quer que ministro troque todos os diretores da Casa da Moeda para afastar crise

A presidente Dilma Rousseff ordenou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que faça mudanças rápidas no comando da Casa da Moeda. No que depender dela, toda a diretoria da estatal será trocada e não somente Luiz Felipe Denucci, que foi afastado da presidência da empresa na semana passada devido a denúncias de corrupção. Para Dilma, não há por que o governo alimentar um desgaste no Congresso, que já se movimenta para convocar Mantega. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), apresentou requerimento à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para que o ministro preste esclarecimentos.

Ontem, o ministro teve um almoço sigiloso, no qual, segundo seus assessores, pode ter feito o convite para o futuro presidente da Casa da Moeda. A expectativa é de que os nomes dos futuros diretores da estatal, responsável pela fabricação de todo o dinheiro que circula no país, sejam divulgados ainda nesta semana. Mantega não esconde a irritação com a proporção tomada pela demissão de Denucci, que teria recebido US$ 25 milhões em propina.

Os recursos teriam sido depositados em contas bancárias em paraísos fiscais. O ministro resistiu o quanto pôde a comentar o assunto, apesar de o controle da Casa da Moeda ser da Fazenda. Mas, na sexta-feira, ele foi obrigado por Dilma a se posicionar, jogando a culpa da nomeação de Denucci para o PTB. O partido, no entanto, garante que apenas endossou o nome sugerido por Mantega.

O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), mantém a versão da legenda. Segundo ele, Mantega o teria procurado para que apadrinhasse Denucci. Ao Correio, o deputado ressaltou que ainda não foi acionado pelo ministro para conversar sobre o que ocorreu na Casa da Moeda e como será o processo de substituição dos diretores.

"Vamos esperar os nomes que o ministro trouxer e vamos analisá-los, como sempre fazemos", disse, lembrando que o partido havia sugerido mudanças na autarquia depois que a Receita Federal multou Denucci em R$ 3,5 milhões por lavagem de dinheiro. "No ano passado, havíamos sugerido ao ex-ministro Antonio Palocci a troca no comando da estatal", acrescentou.

Mantega escalou o seu secretário executivo, Nelson Barbosa, para selecionar os nomes dos futuros diretores da Casa da Moeda, todos técnicos, de preferência. Dessa forma, o ministro quer dividir responsabilidades. A meta é encaminhar as sugestões para a Casa Civil, que, então, as apresentará à presidente. A estratégia é escolher candidatos "fichas limpas" para os postos. Descobriu-se que a estatal, que era relegada a segundo plano, é um ótimo negócio, com faturamento anual de R$ 2,7 bilhões e lucro líquido de R$ 517 milhões.

Negociação com o Congresso A pressa do Palácio do Planalto para concluir as mudanças da Casa da Moeda o mais rapidamente possível é uma forma de evitar a convocação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo Congresso, como desejam os parlamentares da oposição. Na sexta-feira passada, a ministra da Secretaria das Relações Institucionais da Presidência, Ideli Salvatti, gastou parte do dia negociando com a base aliada uma forma de impedir a ida de Mantega ao Parlamento. O governo não quer ver o nome de seu principal ministro associado a denúncias de corrupção.