Trabalho por conta própria segura desemprego em abril

Camilla Veras Mota e Robson Sales

01/06/2017

 

 

Com geração líquida de postos de trabalho, a taxa de desemprego recuou no trimestre encerrado em abril, de 13,7% nos três meses até março para 13,6%. Descontados os efeitos sazonais, o indicador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua manteve-se estável em 13,2%, calculam economistas. O sinal é positivo, já que a expectativa do mercado era de aumento da taxa, mas frágil. A maior parte do emprego gerado no período foi o por conta própria, categoria precária, que inclui muitas vezes o trabalho informal. O volume de vagas com carteira assinada recuou pelo 27º mês consecutivo, no confronto com igual período do ano anterior.

Os salários, por sua vez, tiveram o quinto aumento real consecutivo, na mesma comparação. Ajudados pela inflação comportada, eles cresceram 2,7%, maior alta desde abril de 2014. A massa de rendimentos avançou 1,1%.

O ritmo mais brando da procura por trabalho contribuiu para o recuo da taxa de desemprego, afirma Cosmo Donato, da LCA Consultores. Depois de avançar em média 1,1% no segundo semestre de 2016, a força de trabalho aumentou 1,4% no primeiro trimestre deste ano. Em abril, a alta desacelerou para 1,2%, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado.

Assim, a taxa de participação - a proporção de pessoas empregadas ou à procura de nova vaga em relação à população em idade ativa - manteve-se estável em patamar alto, de 61,6%, nível condizente com o atual cenário de recessão. "A força de trabalho tem espaço para subir, mas em um ritmo menos intenso", pondera. O arrefecimento levou o economista a revisar a projeção preliminar para o desemprego em maio, de 14% para 13,8%, e a média prevista para o ano, de 13,7% para 13,6%.

A avaliação em relação à ocupação, que chegou a crescer 0,3% sobre o trimestre encerrado em março, é de que ela não tem fôlego para manter resultados positivos no curto prazo. O desempenho de abril, destaca o economista, foi baseado no aumento especialmente do emprego por conta própria - de onde vieram 167 mil das 291 mil vagas geradas de um trimestre móvel para outro. "O setor formal ainda está sofrendo os efeitos da crise", afirma, referindo-se à retração de 3,6% do volume de postos com carteira assinada ante igual período do ano anterior.

O diagnóstico também se aplica à indústria, que teve o primeiro resultado positivo em dois anos, alta de 1,8% em relação ao trimestre anterior - abril em relação a janeiro. "Os dados de produção e a utilização da capacidade instalada ainda não indicam uma reversão".

Sarah Bretones, economista da MCM Consultores, destaca a queda de 1,5% no total de empregados na comparação com o mesmo trimestre de 2016, menor retração em um ano - auxiliada pelo aumento do emprego por conta própria. No primeiro trimestre, a ocupação encolheu 1,9%. "Pode ser um resquício de informalidade voltando, mas é preciso ter cautela", ressalva, já que ainda não é possível afirmar se o movimento de abril foi pontual ou se é uma nova tendência.

"Isso pode ser sinal de mercado está demitindo menos", disse Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele destacou que o número de desempregados, que recuou de 14,2 milhões para 14 milhões, cresceu expressivos 23,1% sobre o trimestre até abril de 2016. A alta, contudo, foi a menor nessa comparação desde maio de 2015.

Os ganhos reais nos salários, diz Sarah, são movimento cada vez mais consistente diante das surpresas positivas trazidas pela inflação, que desacelera em ritmo mais intenso que o esperado. Assim, a MCM provavelmente revisará sua estimativa para a renda média real no ano - de queda de 0,3% para um número positivo.

Já a forte inércia inflacionária que tem mantido o avanço nominal da renda acima de 7%, na comparação com iguais intervalos do ano anterior, deve ceder nos próximos meses, acrescenta Donato, da LCA. Ainda assim, os salários devem finalizar o ano com ganhos reais, ele avalia.

Para o diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, o mercado de trabalho continuará se deteriorando nos próximos meses, já que a economia não dá sinais de que está chegando ao patamar mínimo de crescimento que absorveria a expansão natural da força de trabalho - algo entre 1,2% e 1,4% ao ano, calcula.

A expectativa é que o desemprego estabilize no segundo semestre e comece a recuperar no fim do ano. O risco nesse cenário é a nova crise política, que, ao aumentar a incerteza, pode ter impacto negativo sobre a economia e, por consequência, no mercado de trabalho.

"A crise pode postergar o início da recuperação", concorda Sarah. A expectativa inicial era que a taxa começasse a ceder a partir do segundo semestre. O prolongamento da instabilidade política, diz, pode elevar o desemprego médio de 13,1% previsto para 2018 e levá-lo para mais próximo do esperado para este ano, 13,3%.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4267, 01/06/2017. Brasil, p. A4.