PSDB paulista faz reunião para propor rompimento com Temer

Ricardo Mendonça e Fernando Taquari

01/06/2017

 

 

Sob o argumento de que o PSDB precisa ouvir suas bases a respeito de como se posicionar em relação ao governo Michel Temer, o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do diretório paulista da sigla, convocou colegas da Assembleia Legislativa, prefeitos, dirigentes partidários e vereadores tucanos de todo o Estado de São Paulo para um encontro que vem sendo chamado de "super reunião ampliada" de avaliação. O objetivo é discutir a conjuntura nacional e colocar em votação se o partido deve desembarcar do governo.

O evento, segundo os envolvidos, não partiu da iniciativa do governador Geraldo Alckmin, que é muito próximo a Tobias e que não participou da reunião entre o presidente da República, o presidente da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em um hotel em São Paulo na segunda-feira à noite. Na reunião, a cúpula tucana discutiu um acordo para manutenção provisória de apoio a Temer.

A tendência no encontro de segunda-feira, conforme observadores ouvidos pelo Valor, é de rompimento com Temer, o que deve reforçar a pressão feita pelos chamados "cabeças-pretas" da sigla, os parlamentares e dirigentes mais jovens da agremiação.

Uma reunião de deputados federais paulistas do PSDB realizada na segunda-feira em Brasília antecipou essa tendência. Dos 12 integrantes da bancada, dez votaram pelo desembarque.

"Não pode mais reunião de cinco ou seis decidir para onde vai o partido", diz Pedro Tobias. "Estou sendo massacrado [por ter convocado a reunião] porque nunca tem unanimidade. Mas eu, como presidente, não posso ser omisso numa hora dessa." O encontro está agendado para segunda-feira, dia 5, às 18h. Será sob uma tenda armada no quintal do Diretório Estadual da sigla, em São Paulo. A expectativa é de comparecimento de até duas centenas de militantes.

Segundo Tobias, será a oportunidade para tucanos paulistas discutirem e se posicionarem sobre os grandes temas nacionais: "Fica com Temer? Ou sai [do governo] imediato? Vamos fazer reformas? Ou vamos esperar?"

A reunião não tem quórum mínimo para deliberar. Ele diz que não quer algo demorado. "Coloca a tese, quatro ou cinco defendem favorável, quatro ou cinco defendem contra e então vota", explica. "Caso a maioria decida sair, não podemos obrigar ninguém [do PSDB a deixar o governo ou ir para a oposição]. Mas vamos mandar recado para [a direção] nacional. São Paulo é importante. Tem 51 milhões de pessoas. O PSDB mais consolidado é o de São Paulo. Tem governador [Geraldo Alckmin], que é liderança nacional".

No Palácio dos Bandeirantes, a ordem é não se comprometer oficialmente com a reunião ampliada. Assessores de Alckmin garantem que ele não foi consultado previamente sobre a convocação e que, como filiado, é um mero convidado do evento. Não há confirmação se participará, se só chegará no final, após a votação, ou se irá ignorar o encontro.

Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris é um dos que defendem o desembarque. Ele elogiou a iniciativa de Tobias e disse que irá à reunião defender sua posição. "Acredito que o PSDB não deveria ter qualquer tipo de cargo no governo [Temer]. Não se trata de ir para a oposição. Mas atuar e votar com independência, a favor das reformas e do Brasil", afirmou.

Um dirigente do partido que aceitou dar entrevista, mas pediu para não ter o nome identificado, disse que a reunião ampliada dos paulistas servirá como "um recado" para Tasso, que recentemente assumiu a presidência do PSDB nacional em substituição a Aécio Neves (MG), senador afastado por suspeita de corrupção. O sentimento predominante é o de que o PSDB paulista tem sido deixado de lado na hora de tomas decisões importantes de caráter nacional. Esse dirigente chegou a usar uma expressão forte para se referir a Tasso: "Ele tem cabeça de coronel".

Tasso é um dos nomes cotados em Brasília para representar o PSDB em eleição indireta à Presidência no caso de eventual queda de Temer. Para alguns defensores de Alckmin, que quer ser candidato em 2018, isso pode representar o surgimento de mais um concorrente interno

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4267, 01/06/2017. Política, p. A7.