Dados contradizem promessas da equipe econômica

Fabio Graner

02/06/2017

 

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mostrou grande entusiasmo em sua nota sobre o resultado do PIB do primeiro trimestre. "Hoje é um dia histórico", classificou. Mas a nota por ele divulgada fala bastante também naquilo em que silencia. Meirelles não fez qualquer comentário sobre os dados ainda muito ruins de investimento, além de outros componentes do lado da demanda, como consumo das famílias.

A equipe econômica, desde que o governo assumiu, dizia que os investimentos iriam liderar a recuperação. Mas o que se viu nos números divulgados nesta manhã pelo IBGE foi um quadro desanimador nessa rubrica. A queda de 1,6% no indicador, na comparação com o quarto trimestre seria ruim por si só, mas ganha contornos ainda mais preocupantes quando se nota que o ritmo de recuo foi exatamente o mesmo do verificado no quarto trimestre, ou seja, não houve sequer um freio na queda.

Técnicos da área econômica sempre refutaram a tese de que não faria muito sentido esperar uma retomada puxada pelos investimentos em um ambiente de tão elevada ociosidade. A percepção de interlocutores do governo era de que a ampliação da capacidade produtiva das empresas viria primeiramente por meio da reposição do capital instalado e depreciado nos últimos anos e depois por ampliação do parque produtivo propriamente dito, mas garantiam que efetivamente isso ocorreria.

Outros aspectos sempre mencionados pelos técnicos do governo como propulsores do investimento neste e nos próximos anos foram o programa de concessões (que ainda não corre a um ritmo desejável), a queda da taxa de juros, a redução do endividamento, a própria expansão da agricultura, além dos aspectos da confiança e melhora das expectativas.

A realidade fria dos dados do trimestre passado, entretanto, mostra que este cenário ainda não se confirmou. E, junto com a crise política, que já começa a colocar um freio na confiança de empresários e até do Banco Central (que já avisou que será mais cauteloso na redução dos juros), é natural que as dúvidas sobre esse cenário de crescimento liderado por investimentos se intensifiquem.

Não se deve tirar do ministro Meirelles o direito, e até obrigação, de comemorar o primeiro crescimento trimestral depois de dois anos de quedas ininterruptas. E 1% de expansão, mesmo que concentrado em um pedaço restrito da economia (a pujante agricultura e o comércio exterior), é de fato um número bom. Talvez a recessão tenha efetivamente acabado. Mas ainda há dúvidas sobre se o crescimento voltou para ficar e se a retomada dos investimentos é algo mais que um desejo do governo.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4268, 02/06/2017. Brasil, p. A4.