Sinais positivos do setor externo dão algum alento para PIB do ano

Marta Watanabe

02/06/2017

 

 

Diante da incerteza do cenário econômico e com a divulgação dos dados do primeiro trimestre, o setor externo é um dos poucos para o qual analistas convergem expectativas de contribuição positiva para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2017. A magnitude da contribuição, porém, é alvo de controvérsias. Para alguns analistas depende da evolução ainda incerta da taxa de câmbio e da recuperação da demanda doméstica.

As exportações de bens e serviços dentro do PIB, que caíram sistematicamente ao longo de 2016 devido principalmente à apreciação cambial, voltaram a crescer no início deste ano, com alta de 4,8% no primeiro trimestre contra o trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. A expansão foi superior às importações, que cresceram 1,8% no mesmo critério de comparação. A contribuição positiva do setor externo ajudou a compensar a retração da demanda doméstica, aponta boletim do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

"A relevância do setor externo para o resultado do primeiro trimestre de 2017 ficou bastante nítida no primeiro trimestre", avalia Rafael Cagnin, economista do Iedi. Na comparação anualizada, as exportações, depois de levar um tombo de 7,6% no último trimestre do ano passado, voltaram a crescer, com alta de 1,9% nos primeiros três meses de 2017, compensando parcialmente a forte elevação das importações, de 9,8% na mesma comparação. A taxa de crescimento dos desembarques, diz boletim do Iedi, reflete tanto bases muito baixas de comparação, como um estágio menos agudo da crise, favorecendo a importação de alguns bens, como de intermediários.

Para Cagnin, há todos os elementos para que o setor externo traga contribuição positiva para o ano dada a reação das exportações no primeiro trimestre. Ele pondera, porém, que o resultado depende do que vai acontecer com o preço das commodities, que alavanca o volume no embarque de básicos, e com o câmbio e seus efeitos no esforço do setor manufaturado em ocupar a capacidade ociosa com produção para exportação.

Em 2015 o setor externo contribuiu de forma positiva com 2,6 pontos percentuais para o total da riqueza produzida no país. No ano passado essa ajuda foi positiva ainda, mas caiu para 1,7 ponto percentual.

Para Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), as importações e exportações caminharam conforme esperado no primeiro trimestre, mas o "imbróglio político" resultante das denúncias envolvendo o presidente Michel Temer pode tornar a contribuição do setor externo maior que a esperada anteriormente. Isso porque, diz ele, a crise deflagrada em maio pode ter efeitos ainda incertos na taxa de câmbio e na absorção doméstica.

O que se esperava para 2017 antes das denúncias era uma contribuição para o PIB do setor externo bem menor do que a do ano passado e tendendo a zero. A evolução no primeiro trimestre, diz ele, contribuiu para reforçar a avaliação. A perspectiva era de que as taxas de exportação e de importação não seriam mantidas no nível do primeiro trimestre, explica Ribeiro, mas o vetor que alavancava a importação parecia mais forte do que o que puxava as exportações.

A crise política, porém, diz ele, pode afetar a taxa de câmbio e a absorção doméstica. "Abre-se agora nova incerteza nesses dois vetores que impactam exportações e importações." Com isso, explica, é possível que o setor externo tenha contribuição maior que a esperada inicialmente, mas ainda não é possível avaliar quanto. Até meados de maio, diz, o cenário era de recuperação lenta e gradual da atividade e de câmbio mais apreciado do que o passado recente. "Não é mais possível saber para onde vai o câmbio, afetado primordialmente pelo cenário doméstico. E também não se sabe que impacto a crise terá sobre a atividade."

Fabio Silveira, sócio da MacroSector Consultores, diz que as importações do primeiro trimestre vieram bem mais fortes do que se imaginava, por conta da reativação de alguns setores no mercado doméstico que demandam insumos e do câmbio valorizado. Para ele, as exportações devem manter bom ritmo agora com câmbio mais depreciado. Os preços das commodities, diz ele, apesar da queda na evolução dos últimos meses, ainda devem ter ganho em relação ao ano passado. Ele estima preços médios do petróleo e do minério de ferro neste ano 13% e 17% maiores, respectivamente, que a média de 2016, o que deve favorecer aumento de volume de embarques. A MacroSector projeta para 2017 alta de 6,5% nas exportações de bens e serviços dentro do PIB. Para as importações, a alta estimada é de 3,5%.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4268, 02/06/2017. Brasil, p. A5.