Ao defender reforma, Barroso vê sistema ‘intrinsecamente desonesto’

09/08/2017

 

 

Ministro do Supremo afirma que país se perdeu na História

Ao defender a reforma política para combater a corrupção, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso disse ontem que há um “sentimento de devastação” provocado pela crise política no país.

Durante palestra em que chamou de “intrinsecamente desonesto” o sistema político do país, Barroso destacou ser “impossível não sentir vergonha” do momento atual, citando áudios, vídeos e até mesmo a movimentação de uma mala de dinheiro pelo ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, que cumpre prisão domiciliar.

— Somos um país que se perdeu na História, que se perdeu de si mesmo, que se desencontrou de sua gente, que se desencontrou de seu destino. É preciso começar a mudar a partir dessa constatação evidente — disse Barroso, ontem, durante evento promovido por uma empresa de consultoria em São Paulo.

Segundo o ministro, as acusações de corrupção que atingem os setores público e privado e colocam sob suspeição integrantes do governo são justificadas por “provas que saltam de qualquer espaço”.

O ministro foi mais longe nos ataques. Ao apontar o dedo para o Congresso, tratou como desonestas as regras atuais e disse que a reforma política é hoje uma “urgência desesperada”. Para Barroso, o sistema político brasileiro é “intrinsecamente desonesto” e, por isso, segundo ele, a “urgência” da reforma.

— Nós nos conformamos com a desonestidade, nos conformamos a ser conduzidos pelos desonestos — afirmou, destacando a necessidade de uma maior mobilização da sociedade, evitando que corruptos “saqueiem o país”.

— Temos que colocar a classe política na direção do bem. Precisamos acabar com o modelo político de pessoas que sugam, que saqueiam o país.

Diante do quadro, Barroso voltou a defender um fundo para arcar com as despesas das candidaturas políticas. O financiamento privado em campanhas eleitorais tem sido, nos últimos anos, um dos elos da corrupção envolvendo empresas privadas e políticos das mais diferentes esferas.

 

“FEIÇÃO MAFIOSA”

O fundo nacional para custeio de candidaturas — que poderia girar em torno de R$ 3,6 bilhões, segundo estimativas preliminares — está em discussão na Câmara.

— O financiamento público é melhor do que o empresarial, que nos trouxe a este quadro devastado. O financiamento empresarial tinha uma feição mafiosa, além disso era imoral e manifestamente inconstitucional — disse o ministro do Supremo.

O globo, n.30683 , 09/08/2017. PAÍS, p. 3