Câmara notifica Temer e avalia rito de denúncia

Isadora Peron / Daiene Cardoso

30/06/2017

 

 

PRESIDENTE ACUSADO / Presidente é informado sobre acusação por corrupção passiva e deputado Rodrigo Maia, do DEM, afirma que vai adotar postura ‘republicana’; Planalto revê estratégia para trâmite

 

 

O presidente Michel Temer foi notificado ontem à tarde para que apresente sua defesa na denúncia contra ele por corrupção passiva encaminhada pela Procuradoria-Geral da República. A peça chegou à Câmara dos Deputados pela manhã, foi lida em sessão esvaziada e agora começa a contar o prazo de dez sessões plenárias para que o peemedebista entregue a defesa.

Coube ao primeiro-secretário da Mesa, deputado Fernando Giacobo (PR-PR), notificar o Palácio do Planalto do início da tramitação. Inicialmente, a intenção do governo era acelerar a votação, já que acredita ter o apoio necessário para derrubar o processo.

Agora, no entanto, avalia jogar com o tempo para fazer com que todas as denúncias que eventualmente forem apresentadas contra ele pela PGR tramitem em conjunto.

Em seu primeiro pronunciamento público sobre o assunto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse acreditar não ser possível votar todas as denúncias juntas. Segundo ele, se o procurador-geral Rodrigo Janot decidiu “fatiar” as acusações, não caberia à Câmara reuni-las. “Eu não estou tratando do apensamento. Eu estou tratando da denúncia que tem.

Eu acredito que Janot vai encaminhar outra peça. Se fosse a mesma peça, não viria separado. Como Janot é um homem preparado, ele não vai copiar e colar, ele vai apresentar outros argumentos”, disse.

Janot ainda pode apresentar outras denúncias contra o presidente, por obstrução da Justiça e organização criminosa, com base nas delações de executivos do Grupo J&F, controlador da JBS, entre elas a do empresário Joesley Batista. No documento que chegou ontem à Câmara, Temer e seu ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) – filmado ao receber uma mala com R$ 500 mil em São Paulo – são acusados de corrupção passiva.

Maia disse também que, embora ainda vá discutir o tema com os demais parlamentares da Casa, caberia ao ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), decidir pelo apensamento, caso considere que as denúncias devam tramitar em conjunto.

 

‘Republicana’. Visivelmente desconfortável, Maia abriu a sessão em que foi lida a denúncia de 60 páginas, mas deixou o plenário antes de concluída a leitura para se encontrar com Temer.

Em sua declaração a jornalistas, fez questão de ressaltar que, apesar de aliado do presidente, vai adotar uma postura “republicana” e discutir a tramitação da denúncia com deputados da base e da oposição.

“Eu estou discutindo tudo, com todos os líderes, inclusive da oposição, apesar de o meu partido ser da base. Isso aqui vai ser um debate republicano, a instituição precisa ser preservada, aqui não é para defender nem a posição do presidente, nem a posição da oposição, nem da PGR”, afirmou.

 

Comissão. Após Temer ser notificado, a denúncia foi encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde se dará a primeira etapa da tramitação na Casa. Caberá ao presidente do colegiado, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), escolher o relator do processo, que deve ser um dos 66 membros da CCJ. O nome será anunciado na próxima terça-feira para evitar pressão antecipada sobre o relator.

Após o prazo regimental de dez sessões plenárias para a apresentação da defesa, que pode ser encurtado caso os advogados de Temer desejem, haverá mais cinco sessões para que o relatório seja votado na CCJ.

Independentemente do resultado, a denúncia segue para o plenário. Para que o processo prossiga no STF, são necessários os votos de 342 deputados. Se isso ocorrer, Temer será afastado da Presidência por 180 dias. Primeiro na linha sucessória, Maia assumiria o cargo até a conclusão do processo.

Incomodado com as especulações de aliados do Planalto de que sua “rebeldia” se deve à intenção de concorrer ao governo mineiro em 2018, Pacheco avisou que não vai escolher um relator abertamente governista.

Alceu Moreira (PMDB-RS) e Jones Martins (PMDB-RS) estão praticamente fora do páreo. Figuram como possíveis relatores Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), Esperidião Amin (PP-SC), José Fogaça (PMDB-RS) e os tucanos Betinho Gomes (PE) e Fábio Sousa (GO).

 

Planalto. Deputado Giacobo (PR) chega com notificação

 

Janot

O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) protocolou requerimento para que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vá à CCJ explicar a acusação por crime de corrupção passiva.

 

RITO DA DENÚNCIA

Regimento da Câmara

1 A Câmara recebeu ontem a denúncia e notificou Temer. Agora cabe ao presidente da Casa encaminhar o processo para a CCJ

2 Notificada, a defesa tem até 10 sessões de plenário para se manifestar. Na contagem, vale apenas uma sessão por dia

3 Após as alegações dos advogados de Temer, CCJ terá até cinco sessões para emitir um parecer. Em seguida, a denúncia segue para o plenário

4 Independentemente da decisão da CCJ, o caso será apreciado no plenário da Casa. Temer precisaria de 172 deputados para impedir que a Câmara autorize o STF a julgar a denúncia

 

O PRESIDENTE DA CÂMARA, RODRIGO MAIA (DEM-RJ), É ALIADO DE TEMER E O PRIMEIRO DA LINHA SUCESSÓRIA DA PRESIDÊNCIA

 

CORRELIGIONÁRIO DE TEMER, O PRESIDENTE DA COMISSÃO, RODRIGO PACHECO (PMDB-MG) DEVE INDICAR O RELATOR NA PRÓXIMA SEMANA

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Com plenário esvaziado, acusação é lida na Casa

Daiene Cardoso / Isadora Peron

30/06/2017

 

 

Em uma sessão esvaziada, com pouco mais de dez deputados, a segunda-secretária da Mesa Diretora da Câmara, Mariana Carvalho (PSDB-RO), leu a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, protocolada ontem pela manhã na Casa.

Parlamentares governistas e da oposição acompanharam a leitura da acusação.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abriu a sessão não deliberativa e, sem fazer nenhum comentário sobre o tema dos trabalhos, iniciou o procedimento regimental de dar ciência ao plenário do recebimento da denúncia.

Mariana levou uma hora e 40 minutos para concluir a leitura das 63 páginas da denúncia. A tucana leu não só o documento encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como reproduziu as transcrições das gravações do empresário Joesley Batista, sem perder nem sequer os palavrões da conversa entre Temer e o dono da JBS. A deputada concluiu a leitura com o termo de notificação do presidente.

A sessão foi aberta com 60 deputados na Casa, mas pouco mais de dez acompanharam toda a sessão. Entre os governistas presentes estavam o líder do PP, Arthur Lira (AL), os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA), Hildo Rocha (PMDB-MA), Mauro Pereira (PMDB-RS), e no grupo da oposição estavam Miro Teixeira (Rede-RJ), JHC (PSB-AL), Chico Alencar (PSOL- RJ), Érika Kokay (PT-DF) e Paulo Teixeira (PT-SP). O petista fez questão de fazer uma selfie no plenário durante a leitura da denúncia.

Maia acompanhou parte da leitura, trocando mensagens no celular. Em seguida, deixou a Mesa e seguiu para o Palácio do Planalto. Na saída, Maia negou que Temer estivesse desanimado, mas que possivelmente estava preocupado com a gravidade da situação.

Após a leitura, o primeiro-secretário, Fernando Giacobo (PR-PR), foi ao Palácio do Planalto fazer a notificação à Presidência. 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45181, 30/06/2017. Política, p. A4.