Rabello e ministros afagam e acenam à indústria

Francisco Góes, André Ramalho e Juliana Schincariol

02/06/2017

 

 

No dia em que foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a recuperação do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre do ano - mas ainda com um alerta dos analistas em relação à falta de reação dos investimentos -, a posse, ontem, do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, deu sinais do novo papel que o banco de fomento deverá desempenhar. Nessa nova etapa, depois da saída de Maria Silvia Bastos Marques, que pediu demissão há uma semana, Rabello indicou que buscará uma pacificação com a indústria e com os empregados do banco, ambos críticos da gestão anterior.

Ele também afirmou que pretende tratar o caso JBS "com rigor" que os controladores merecem e observou que empresas que "hoje estão envolvidas em malfeitos eram até ontem consideradas princesinhas da economia".

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, presente à posse de Rabello na sede do BNDES, no Rio, disse que o economista indicado pelo presidente Michel Temer chega ao banco no momento certo para a instituição. É um momento em que o país, segundo Meirelles, tem mais condições de voltar a investir. No seu discurso, Rabello fez afagos a diversos setores. "Já me reuni com a indústria, representada pela Abimaq, antes da posse. A indústria representa nossa preocupação", afirmou. Ele também disse que não há desenvolvimento se não houver mercado de capitais pujante. "O abraço do banco com o mercado de capitais tem que ser total", disse Rabello.

Representantes de diversas entidades de classe estavam no auditório prestigiando a posse de Rabello, assim como os diretores do banco na gestão anterior, que Rabello deve manter. Funcionários do banco encheram o auditório da instituição.

"Com as mudanças nas taxas de longo prazo, o BNDES não vai mais precisar se preocupar com o Tesouro", disse Meirelles. Nos últimos anos, o BNDES recebeu aportes do Tesouro e, na gestão de Maria Silvia, o banco começou a devolver parte desse dinheiro. Foi também na gestão dela que o empresariado e os empregados reclamaram de o BNDES estar travando financiamentos, embora o banco tenha caixa superior a R$ 150 bilhões. Rabello elogiou sua antecessora e a eximiu de responsabilidades na queda dos indicadores do banco. Em sua análise, o recuo dos desembolsos ainda está "na conta" da administração anterior à de Maria Silvia. Ele disse que a preocupação no momento neste "novo ciclo de alta da economia" é o apoio ao investimento industrial.

Também presente à cerimônia, em um evento conjunto com a posse do novo presidente do IBGE, Roberto Olinto, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, disse que o BNDES é o principal instrumento de indução do investimento no Brasil. O ministro também elogiou o trabalho feito por Maria Silvia e disse que o BNDES é especialmente relevante para os projetos de infraestrutura no país e fonte confiável de crédito a longo prazo para atender a demanda não coberta pelo crédito privado.

"O Brasil não é um país que submerge, mas que cresce e vai continuar crescendo porque tem uma economia diversificada e um conjunto de empresários e investidores competentes", disse Oliveira. Ele salientou que o BNDES tem papel crucial no apoio às micro, pequenas e médias empresas. E afirmou que coube a Maria Silvia o trabalho de transição mais difícil. Previu que o banco vai passar por grande transformação a partir da adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP). Oliveira citou diretrizes que considera importantes na gestão de Rabello, incluindo simplificação e maior agilidade nos trâmites, e indicou o caminho a ser seguido pelo novo presidente do BNDES: "Temos que nos conter naquela sanha que todo servidor público tem de estabelecer o máximo de segurança para si. Os controles e a segurança [das operações do banco] serão reforçados, mas precisa fazer isso sem prejuízo ao cliente, que é o agente de transformação."

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4268, 02/06/2017. Brasil, p. A6.