‘Nada nos destruirá, nem a mim, nem aos nossos ministros’, afirma Temer

Carla Araújo / Tânia Monteiro

27/06/2017

 

 

Antes de denúncia, presidente fala em tom confiante a empresários; após pedido, Planalto reúne ministros para definir estratégia de ‘guerra’

 

 

Antes de a denúncia da Procuradoria- Geral da República ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal, o presidente Michel Temer disse ontem, para uma plateia de empresários no Palácio do Planalto, em tom confiante, que “nada” vai destruí-lo. No entanto, horas depois, a decisão de Rodrigo Janot de “fatiar” a denúncia levou preocupação ao Planalto em razão do desgaste político ao presidente.

“Nossa agenda de modernização do Brasil é a mais ambiciosa de muito tempo. Tem sido implementada com disciplina, tenacidade, com sentido de missão.

Não há plano B. Há de seguir adiante. Nada nos destruirá, nem a mim, nem aos nossos ministros”, disse Temer aos empresários no Planalto.

Durante o evento, o presidente cometeu mais uma gafe ao dizer que na semana passada conversou com empresários “soviéticos” em uma referência à sua viagem à Rússia.

À tarde, depois de participar da solenidade de apresentação de credenciais de 13 embaixadores, Temer foi questionado se seguiria o conselho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em artigo publicado ontem no jornal Folha de S.Paulo sugeriu ao peemedebista encurtar o próprio mandato e comandar a antecipação das eleições. O presidente apenas sorriu e respondeu: “Olha o sorriso”.

Auxiliares disseram que o gesto foi para mostrar que Temer não está preocupado com as declarações do tucano.

Sob a tutela do jurista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, o advogado Gustavo Guedes, responsável pela defesa de Temer no Tribunal Superior Eleitoral, foi o escalado pelo presidente para se dedicar a rebater a denúncia de Janot. Segundo auxiliares do presidente, Guedes vai tentar comprovar inconsistência da denúncia.

 

Tensão. O fato de Janot ter antecipado uma denúncia ontem, quando poderia ter apresentado uma única acusação, incomodou auxiliares de Temer. Na avaliação do Planalto, há postura “politizada” do procurador-geral.

Embora a estratégia do Planalto seja a de criticar Janot, interlocutores do presidente reconhecem que a apresentação da denúncia pode afetar a governabilidade e ampliar o desgaste de Temer, expondo-o ainda mais.

No momento da divulgação da denúncia, Temer estava reunido com a ministra-chefe da Advocacia-Geral da União, Grace Mendonça, que tem dito que não interfere na defesa do presidente.

A Secretaria de Imprensa foi orientada a deixar sob a responsabilidade de Mariz de Oliveira qualquer pronunciamento sobre o caso.

O presidente reuniu ministros do núcleo político logo após a apresentação da denúncia.

Estiveram no Planalto Torquato Jardim (Justiça), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Moreira Franco (Secretaria- Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Participou do encontro também o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Interlocutores de Temer disseram que foram debatidas estratégias da “guerra” contra Janot. Temer só deixou o Planalto às 23h20.

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Líderes governistas pressionam por escolha de relator de denúncia 

Daiene Cardoso / Carla Araújo

27/06/2017

 

 

Aliados articulam com presidente da CCJ decisão sobre relatoria; Maia diz que cada deputado votará com sua ‘consciência’

 

 

Líderes governistas pressionam o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para influenciar na escolha do deputado que vai relatar a denúncia da Procuradoria- Geral da República contra o presidente Michel Temer.

Os governistas querem não só uma tramitação rápida do pedido, como esperam a indicação de um parlamentar alinhado com o Palácio do Planalto.

Ontem, no entanto, antes da apresentação da denúncia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou, em evento em São Paulo, que cada deputado vai votar de acordo com sua consciência e é preciso ter “paciência”. Ele disse também que não sabe qual será a decisão da Câmara. “Cada deputado vai votar com a sua consciência”, afirmou. O deputado disse que Temer tem maioria no Congresso, mas que é preciso esperar e ainda admitiu que as acusações são “graves”.

Na Câmara, as movimentações já começaram. Uma troca na CCJ foi realizada ontem, quando o Solidariedade decidiu tirar o deputado Major Olímpio (SP) da vaga de titular. Com um forte discurso de oposição, Major Olímpio foi substituído pelo líder da bancada, Áureo (RJ).

A CCJ é o colegiado responsável por votar a admissibilidade da denúncia na Câmara dos Deputados.

Pacheco, que vem demonstrando independência em relação ao governo na condução dos trabalhos, avisou que quer um perfil técnico, com conhecimento jurídico e assíduo na comissão. “Minha posição é de independência, de não permitir influência do governo, nem de ninguém”, disse Pacheco ao Estado/Broadcast.

Fontes relatam que Pacheco já foi procurado por líderes partidários e que o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, se dispôs a assumir as conversas para que seja escolhido um parlamentar com perfil “chapabranca”.

Os governistas não querem ter “surpresas” na relatoria da denúncia. Padilha negou a interferência, mas o favorito dos governistas hoje para a função é Jones Martins (PMDB-RS), ex-prefeito de Gravataí e suplente do deputado licenciado Osmar Terra (PMDB-RS), hoje ministro de Desenvolvimento Social e Agrário.

Martins é um nome próximo de Padilha e apontado por alguns aliados como afilhado político do ministro da Casa Civil.

“Jones é um constitucionalista.

Seria uma boa escolha”, disse o vice-líder da bancada do PMDB, Carlos Marun (MS). O deputado, que já sondou Pacheco e ouviu dele que fará uma escolha “meticulosa”, disse confiar na responsabilidade do presidente da CCJ. “Não é o momento para fazer pirotecnia.”

 

Trocas. Com a mudança, Major Olímpio vai para a suplência e não poderá ter seu voto contabilizado na análise da admissibilidade, a menos que um titular da bancada falte na sessão. Major Olímpio não só vinha fazendo críticas pesadas ao governo, como já havia anunciado que votará à favor da denúncia.

Segundo a bancada, o pedido de troca foi protocolado no dia 14 deste mês. O partido negou que a mudança esteja relacionada à denúncia. “O deputado Major Olímpio continua sendo membro da comissão e contribuindo efetivamente com as discussões do colegiado”, disse nota da bancada.

Já o PSB não deve fazer alterações nos quadros da comissão, mas a direção do partido estuda fechar questão a favor da denúncia contra Temer. Como Danilo Forte (PSB-CE) e Fábio Garcia (PSB-MT) são governistas, a direção deve pedir para que eles deixem de votar. / COLABORARAM DANIEL WETERMAN, ANDRÉ ÍTALO ROCHA e PEDRO VENCESLAU

 

2018

Rodrigo Pacheco, da CCJ, tem pretensão de ser candidato a governador de Minas e, segundo aliados, não deve desgastar sua imagem.

 

Gravidade. Em evento em SP, Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse que é preciso ter paciência na análise de denúncia

 

‘Independência’

“Minha posição é de independência, de não permitir influência do governo, nem de ninguém.”

Rodrigo Pacheco (PMDB-MG)

PRESIDENTE DA CCJ

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45178, 27/06/2017. Política, p. A6.