PSDB paulista divide-se sobre governo Temer

Fernando Taquari e Marcelo Ribeiro

06/06/2017.

 

 

A divisão que existe na bancada federal do PSDB na Câmara, entre "os cabeças brancas", como são conhecidos os tucanos mais experientes, que defendem a permanência do partido no governo Michel Temer, e os "cabeças pretas", mais jovens e que são favoráveis ao desembarque imediato, se repetiu ontem na reunião do diretório estadual de São Paulo.

Sem a presença do governador Geraldo Alckmin, o encontro partidário, que não tinha caráter deliberativo, terminou sem uma posição fechada em relação aos rumos da sigla. Coube ao prefeito paulistano, João Doria, encerrar o ato com um discurso de candidato em que elegeu o PT como o principal inimigo do Brasil e o maior responsável pela crise econômica.

Potencial candidato à Presidência, a exemplo de Alckmin, Doria disse que trazia ao encontro uma mensagem do governador. Em sua fala, prestou diversas homenagens ao tucanato ao classificar os correligionários como "guerreiros". Além disso, o prefeito fez questão de ressaltar que a pecha do PSDB de ser uma sigla em "cima do muro" ficou no passado.

"O PSDB hoje toma decisões, mas é preciso saber a hora", afirmou Doria ao defender o resultado do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer pela Justiça Eleitoral para uma definição sobre os rumos do partido. "A precipitação pode condenar um exército vitorioso à derrota. Temos que ter a compreensão do momento certo de guerrear", frisou o prefeito ao manifestar preocupação com o agravamento da crise política na economia.

Em maioria, os "cabeças brancas" predominaram nos discursos. No entanto, foram os "cabeças pretas" os mais saudados pela plateia. Um dos mais aplaudidos foi o vice-presidente jurídico do PSDB, deputado federal Carlos Sampaio, que levantou os tucanos ao declarar que a sigla não pode "flexibilizar o conceito de ética".

"Não podemos manter cargos em um governo que está desabilitado. Quero a transição com as reformas", disse Sampaio ao lembrar que há um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Temer. O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, também fez um discurso duro. "Me envergonha saber que apoiamos um governo que faz reunião de madrugada, no que parece um encontro de um religioso com uma prostituta", afirmou.

Já o presidente da Assembleia Legislativa, Cauê Macris, ressaltou que os "fins não justificam os meios" e que recuperação da economia não pode ser usada como desculpa para flexibilizar a conduta ética e moral.

O encontro partidário contou com baixa adesão da bancada federal. Apenas três dos 12 deputados federais do PSDB paulista compareceram ao ato. Primeiro a falar, o presidente do PSDB paulistano, vereador Mário Covas Neto, disse que um desembarque neste momento não seria coerente e inviabilizaria o governo Temer.

Na mesma linha, o líder do governo na Assembleia Legislativa, Barros Munhoz, disse que uma decisão agora sobre o assunto é "inoportuna". "Vai sair o Temer e entrar quem, o Papa Francisco?", ironizou o parlamentar, que ainda criticou os "excessos da Lava-Jato". "É uma ditadura que está se implantado em nosso país, mais perniciosa que a ditadura militar", acrescentou Barros depois de criticar "procuradorezinhos" que prejudicam o trabalho de prefeitos.

O presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, questionou ainda o acordo de colaboração entre o Ministério Público Federal e a empresa JBS. Segundo ele, os tucanos deveriam aguardar o julgamento da chapa e desta forma garantir a continuidade das reformas necessárias ao país.

Em recentes ofensivas sobre o PSDB, Temer aparentemente conseguiu reverter a percepção de alguns caciques tucanos sobre o desfecho do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A maioria deles passou a apostar em uma eventual absolvição de Temer pelos magistrados, o que teria brecado o avanço da onda de resistência em relação ao governo pemedebista dentro do partido. Oficialmente, o partido deve tomar uma decisão final sobre a permanência ou o desembarque do governo apenas na quinta-feira.

Na semana passada, o presidente esteve com Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de garantir a permanência da sigla na base governista. Em reunião com Temer no domingo, tucanos teriam falado muito mais sobre economia do que sobre a crise política que assola o governo, revelou ao Valor o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), que participou do encontro no Palácio do Jaburu. A reunião também contou com a presença dos ministros Antonio Imbassahy (Secretária do Governo), Bruno Araújo (Cidades) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores).

"Enquanto eu estive presente, não falamos sobre desembarque ou permanência. Falei de assuntos que interessam à frente parlamentar ruralista, como Funrural e licença ambiental. Aloysio falou de mercados de exportação e da importância de fomentar mercados externos, como o Paraguai, o México e a Argentina", afirmou Leitão.

Fontes consultadas pelo Valor afirmaram, sob condição de anonimato, que, a partir da avaliação de caciques do partido de que as chances de Temer não ser cassado aumentaram, a resistência ao pemedebista parou de crescer. O movimento final, porém, será definido com o desfecho do julgamento da Corte eleitoral.

"O partido não mudou de postura em relação a semana passada. Seguimos em compasso de espera pelo resultado do TSE ou uma sinalização do que pode acontecer. As apostas dos grandes líderes do partido mudaram. Eles passaram a ver maiores chances de Temer permanecer no governo. Por isso, estão colocando panos quentes nas opiniões firmes da ala mais jovem do partido. Assim, se Temer for absolvido, não haverá constrangimento em permanecer na base", afirmou um ministro tucano.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4270, 06/06/2017. Política, p. A7.