Temer sugeriu amigo em briga judicial, diz Joesley

Fabio Serapião, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Valmar Hupsel Filho

22/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Empresário relata à PF que intermediação de acordo renderia R$ 50 mi a ex-assessor especial do presidente; negociação, porém, não foi adiante

O empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, dono da JBS, relatou à Polícia Federal, em depoimento na Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, que o presidente Michel Temer tentou indicar o advogado José Yunes “para intermediar um acordo com uma empresa em disputa judicial em andamento contra o Grupo J&F”. Segundo Joesley, o negócio renderia R$ 50 milhões a Yunes.

O empresário afirmou, porém, que o “acordo” para o qual Yunes teria sido indicado não foi adiante e que quem foi designado para conduzir a ação judicial foi Francisco de Assis, do Departamento Jurídico da J&F.

“Este (Assis), no entanto, não sabia que se tratava de um pedido do presidente Michel Temer”, relatou o empresário, que não informou detalhes sobre a disputa na Justiça em questão. Joesley depôs no dia 16 deste mês. O depoimento foi anexado ao relatório parcial da PF do inquérito que investiga Temer.

Yunes foi assessor especial de Temer na Presidência. Deixou o cargo depois de ser citado na delação da Odebrecht, em dezembro do ano passado. O advogado José Luís de Oliveira Lima, defensor de Yunes, disse que seu cliente “jamais necessitou de qualquer interferência para atuar em demandas judiciais e nunca atuou em processo envolvendo a J&F ou a JBS”. Antônio Claudio Mariz de Oliveira, advogado de Temer, criticou o relatório. “Autoridade policial não acusa, investiga.”

Geddel. Apontado como operador do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o corretor Lúcio Funaro entregou à PF reproduções de diálogos entre sua mulher, Raquel Funaro, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima, aliado de Temer.

As correspondências via WhatsApp, que também integram o inquérito contra o presidente, reforçam a suspeita de que Geddel estaria preocupado com uma possível delação de Funaro e teria procurado Raquel, segundo os investigadores. Por meio de seu advogado, Bruno Espiñeira, Funaro, que está preso, fez chegar à PF “impressos de ligações” recebidas por Raquel de “Carainho”, que seria Geddel. Os telefonemas são datados de 17, 18, 20, 23, 24, 29 e 31 de maio e de dia 1.º deste mês.

Em 18 de maio, a PF deflagrou a Operação Patmos, com base na delação da JBS, que cita Temer. O advogado Gamil Föppel, que defende Geddel, disse ontem que “rechaça a prática de qualquer ilicitude” por parte do ex-ministro.

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Loures citou ‘mala de amigo’, afirma taxista

Fabio Serapião e Julia Affonso

22/06/2017

 

 

O taxista Daniel Rosa Pile, que transportou o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) em São Paulo, em 28 de abril, relatou à Polícia Federal que o exassessor do presidente Michel Temer afirmou ter ido a uma pizzaria pegar “a mala de um amigo”.

Naquela noite, Loures foi filmado pela PF saindo do estacionamento do estabelecimento nos Jardins carregando uma mala com R$ 500 mil – o dinheiro seria propina paga pela JBS.

O taxista disse que o destino de Loures era o Aeroporto de Congonhas, mas que antes fez duas paradas. Segundo o relato, o ex-deputado desceu do táxi nas proximidades da pizzaria e “retornou com uma mala de viagem, colocada no porta-malas do táxi pelo próprio cliente”.

“Na sequência, o cliente pediu para ir a um segundo endereço para buscar sua própria mala”, disse Pile. “Nesta segunda parada, o cliente pegou a mala no porta-malas, entrou no prédio e pediu para esperar; depois de alguns minutos o cliente retornou com outra mala. Na sequência foram rumo ao aeroporto”, consta do depoimento prestado pelo taxista.

Loures está preso desde 3 de junho. Ele nega que tenha recebido propina.

 

O Estado de São Paulo, n. 45173, 22/06/2017. Política, p. A5