Presidentes citam combate à corrupção

Andrei Netto

22/06/2017

 

 

Em declaração bilateral, Temer e Putin prometem cooperação; após denúncias de Lúcio Funaro, governante brasileiro evita imprensa

Ao fim da primeira viagem oficial de Michel Temer a Moscou como chefe de Estado, os governos da Rússia e do Brasil prometeram cooperar na luta contra a corrupção. Na declaração firmada após a reunião bilateral realizada ontem no Kremlin, sede do poder na Rússia, Temer e Vladimir Putin pediram respeito à soberania dos países e sistemas jurídicos “despolitizados”.

Ao encerrar a agenda oficial na capital russa, o governante brasileiro não falou com a imprensa. Entre os 35 objetivos destacados na declaração bilateral, um foi dedicado ao tema da corrupção.

“A Rússia e o Brasil apoiam a intensificação dos esforços internacionais na área do combate à corrupção, no contexto do papel central desempenhado pelas Nações Unidas, sobretudo no âmbito da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Uncac)”, diz o texto. “Os dois países entendem que a cooperação anticorrupção deve ter como objetivo a obtenção de resultados concretos.” Em ambos os países, entre outros casos de irregularidades, há suspeitas de desvios de verbas e de superfaturamento de obras públicas para a realização de grandes eventos esportivos.

Assim como ocorreu no Brasil em 2014, a Rússia vai ser sede da Copa do Mundo em 2018.

O documento pede que a cooperação internacional ocorra no respeito à autonomia dos países e com base em sistemas jurídicos “despolitizados”. “Essa cooperação deve ser despolitizada e isenta de pressão sobre países soberanos”, afirma. Rússia e Brasil reiteraram ainda o potencial de cooperação anticorrupção no âmbito do Brics (conjunto de países composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e do grupo de trabalho para o tema do G-20.

Funaro. Sem falar com jornalistas brasileiros, Temer não pôde ser questionado sobre as acusações feitas pelo corretor Lúcio Funaro à Polícia Federal de que o presidente teria coordenado a distribuição de R$ 20 milhões.

O esquema envolveria o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, que negou envolvimento em irregularidades. “Não conheço essa figura.

Ele terá de provar o que está dizendo”, disse o ministro. A agenda de Temer ontem foi toda ocupada por eventos no Kremlin. Ele teve encontro bilateral com o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, e, em seguida, com Putin. Nos dois encontros, Temer reiterou que o Brasil está retomando o crescimento.

Segundo o presidente, o governo equilibrou a inflação e os juros continuarão a cair. Em pronunciamento no fim da reunião, Putin ressaltou a importância da cooperação bilateral e chamou o Brasil de “um dos parceiros-chave da Rússia”.

“Apesar de uma certa queda nas trocas bilaterais no ano passado, nós conseguimos reverter o quadro no primeiro semestre deste ano”, afirmou o presidente russo. Putin disse ainda que discutirá com o governo brasileiro a participação de empresas russas na concessão de trechos da Ferrovia Norte-Sul.

Reformas. Em resposta, Temer citou o compromisso de seu governo com as reformas – sem mencionar a rejeição do relatório da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado anteontem. “Tal como a Rússia, o Brasil está voltando a crescer. Tal como a Rússia, o Brasil reconquistou o controle sobre a inflação. Agora, devemos nos aproximar cada vez mais”, disse.

Agenda oficial. Vladimir Putin cumprimenta Michel Temer em encontro realizado no Kremlin, sede do poder na Rússia

 

O Estado de São Paulo, n. 45173, 22/06/2017. Política, p. A6