Governo retalia após derrota no Senado 

Thiago Faria, Julia Lindner, Isabela Bonfim, Renan Truffi, Carla Araújo e Tânia Monteiro

22/06/2017

 

 

Planalto exonera indicados de peemedebista que votou contra texto de reforma trabalhista

O Planalto reagiu ontem à derrota na votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado ao exonerar dois indicados do senador Hélio José (PMDB-DF) de órgãos ligados ao Executivo. O peemedebista foi um dos três senadores da base que ajudaram a derrubar, anteontem, relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) a favor da reforma.

Além disso, o governo está fazendo mapeamento de outros cargos ligados ao senador – mais um deve ser exonerado hoje. Os outros dois parlamentares que votaram contra foram o tucano Eduardo Amorim (SE) e Otto Alencar (PSD-BA).

A retaliação foi interpretada por alguns senadores como uma forma de o governo tentar conter uma possível debandada de aliados em um momento em que o presidente Michel Temer atravessa grave crise política.

Embora governistas tenham minimizado a derrota na comissão, o resultado da votação mostrou que há divisões na base aliada.

Um dos pontos de preocupação está na relação com o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), que tem adotado discurso contrário às reformas e influenciado as dissidências.

A “traição” de Hélio José, por exemplo, é atribuída a Renan.

O senador do DF havia dito a governistas que não participaria da sessão até o dia anterior, alegando sentir dores na coluna.

No dia da votação, porém, apareceu “escoltado” por Renan. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), queria que Hélio José fosse substituído pelo seu suplente, Garibaldi Alves (PMDBRN), favorável à reforma.

Renan evitou falar da sua participação na derrota governista e cobrou mais diálogo do Planalto com a base. “O resultado significa que o Parlamento está dividido.

Seria a hora de o governo chamar todo mundo para discutir mudanças na medida provisória que trata da reforma.” Ontem, porém, o próprio Hélio José admitiu a influência do líder da bancada. “O Renan tem uma posição que é claro que influencia”, disse.

Após perder os cargos na Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e na Superintendência do Distrito Federal da Secretaria de Patrimônio da União (SPUDF), Hélio José cobrou a renúncia de Temer. “Nós não podemos permitir que o governo transforme votações em balcão de negócios. Esse governo está podre. Esse governo corrupto tinha de ter vergonha na cara e renunciar”, disse.

A estratégia de retaliar aliados já havia sido adotada com o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), no fim de maio, após ele adotar discurso contrário à reforma. O Planalto exonerou à época sua indicada para a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

Tucanos. Outra relação conflituosa tem sido mantida com o PSDB, que tem cinco ministérios. Mesmo com a decisão da Executiva tucana de permanecer na base, a aliança voltou a ficar estremecida após o ministro Moreira Franco (Secretaria- Geral da Presidência) culpar o partido pela derrota na comissão.

O Planalto ainda não decidiu o que fará com o PSDB, mas a ordem por enquanto é tentar minimizar o desgaste.

O atrito provocado pela derrota na CAS reforçou os argumentos de tucanos insatisfeitos.

“Quando o governo ganha dizem que Temer mostra força, quando perde colocam a culpa no PSDB. Até quando o PSDB vai aceitar ser a Geni de Temer?”, disse o deputado Daniel Coelho (PE), um dos “cabeças pretas” da Câmara, ala que defende que a sigla entregue seus cargos na gestão peemedebista.

Mesmo entre os caciques tucanos o sentimento era de insatisfação.

A avaliação de alguns parlamentares é de que foi o presidente que errou ao levar o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), e o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) para acompanhá-lo na Rússia. “O governo levou todo mundo para Moscou e esqueceu da votação”, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino da sigla.

A declaração de Moreira incomodou até mesmo Jucá, demonstrando falta de alinhamento entre os principais articuladores políticos de Temer. Outra leitura sobre o episódio é que, diante da crise no governo, os parlamentares do Nordeste estão desconfortáveis em votar a favor da reforma. Isto porque Temer tem os piores índices de aprovação na região. / THIAGO FARIA, JULIA LINDNER, ISABELA BONFIM, RENAN TRUFFI, CARLA ARAÚJO e TÂNIA MONTEIRO

Posição. O senador Hélio José (PMDB-DF) diz que voto teve influência de Renan Calheiros

Divisão

“O resultado significa que o Parlamento está dividido. Seria a hora de o governo chamar todo mundo para discutir mudanças na medida provisória que trata da reforma.”

Renan Calheiros (AL)

LÍDER DO PMDB NO SENADO

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Acordo prevê fundo eleitoral de R$ 3,5 bi

Julia Lindner, Isabela Bonfim e Tânia Monteiro

22/06/2017

 

 

Presidentes de sete partidos fecharam acordo para tentar aprovar a criação de um fundo eleitoral até setembro deste ano. O objetivo é acelerar a tramitação para que a matéria passe a valer já na eleição de 2018.

Com uma estimativa inicial de R$ 3,5 bilhões, o fundo terá como parâmetro 50% dos gastos das campanhas de 2014 para presidente, governador, senador e deputados.

A proposta é articulada por PMDB, PSDB, DEM, PSB, PP, PR e PSD e está sendo elaborada pelo presidente do PMDB e líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), que pretende apresentá-la na próxima semana e votá-la em caráter de urgência no Senado. O entendimento dos dirigentes partidários é de que a Casa terá mais facilidade para costurar um acordo pela aprovação do texto. A Câmara analisaria o texto em seguida.

Pelo acordo entre os dirigentes das siglas, o fundo eleitoral será constituído em anos eleitorais e composto por uma parte do orçamento Geral da União e também de emendas parlamentares.

Metade do “fundão” seria dividida igualmente para os 35 partidos com registro; e outra parte será dividida proporcionalmente ao tamanho das bancadas das siglas na Câmara e no Senado um ano antes da eleição.

Participaram do encontro Jucá, o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, presidente do PSD, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, o senador Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM, o senador suplente Antônio Carlos Rodrigues, presidente do PR, e o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

Tasso considera que haverá críticas da opinião pública à proposta, mas diz que não existe outra solução para o financiamento das eleições, já que o financiamento empresarial foi extinto. “Sei que vai ter uma rejeição enorme da população.

Mas sem isso não tem eleição”, afirma. 

 

O Estado de São Paulo, n. 45173, 22/06/2017. Política, p. A8