Título: Acordo fiscal pode sair até 1º de março
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Fonte: Correio Braziliense, 10/01/2012, Economia, p. 13

Regras mais duras vão punir países que ultrapassarem limites de deficit e de endividamento

Berlim — O presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, anunciaram ontem que houve progressos nas negociações dos países da União Europeia torno de um novo tratado para impor maior disciplina fiscal na região, que poderá ser assinado até 1º de março. O acordo foi alcançado em uma reunião de cúpula europeia em dezembro, mas precisa ter seus detalhes definidos para ser colocado em prática. A ideia é estabelecer sanções automáticas contra governos que ultrapassarem os limites de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o deficit orçamentário de 60% para a dívida pública. A Grã Bretanha, no entanto, já avisou que não participará do mecanismo.

Ao fim de um encontro, na capital alemã, para discutir a crise financeira que assola a região, Merkel e Sarkozy concordaram ainda em dar prioridade a medidas que resultem em aumento de emprego e fazer os esforços necessários para que a Grécia, país mais afetado pelas turbulências, permaneça na Zona do Euro, desde que continue aplicando reformas fiscais. A divergência ficou por conta da proposta francesa de implementar uma taxa sobre transações financeiras para restringir os movimento s de capitais e a especulação financeira.

Sarkozy reiterou a determinação de agir sozinho para cobrar o imposto, conhecida como taxa Tobin, enquanto a chanceler alemã é partidária de buscar um compromisso em nível europeu. "Minha convicção é que, se não dermos exemplo, não será feito", disse Sarkozy, ao lado de Merkel. A chanceler educadamente considerou que o anúncio francês é "uma boa iniciativa", mas repetiu que, da parte alemã, "o objetivo (é) ter uma declaração de intenções dos ministros das Finanças (da União Europeia) para o início de março". O objetivo é mais que otimista, se for levada em conta a oposição frontal da Grã-Bretanha, que deseja preservar os interesses da praça financeira de Londres.

Merkel acrescentou que, "pessoalmente", pode-se "imaginar uma taxa a um nível da Zona do Euro" apenas, mas informou que esta opção não é apoiada por todo o seu governo. Tanto membros do CDU, partido conservador da própria primeira-ministra, quanto os aliados FDP (liberal e CSU, temem que a medida provoque a corrida dos investidores para a City londrina, o que acabaria esvaziando o centro financeiro de Frankfurt.

Os dois líderes também se mostraram favoráveis a acelerar a implementação do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES), que tvai apoiar os países da Zona do Euro a enfrentar a crise, em substituição ao Fundo Europeu de Estabiulidade Financeira (Feef).

Pagando para investir Os investidores da Zona do Euro estão com tanto medo de sofrer um calote que preferem manter seus recursos aplicados em bônus da Alemanha, o país mais sólido do bloco, mesmo que isso signifique perder um pouco do dinheiro investido. Ontem a agência financeira que administra a dívida alemã colocou no mercado títulos com rendimento negativo, ou seja, quem emprestou para o governo vai receber menos no final do prazo. Foram vendidos 3,9 bilhões de euros em bônus de seis meses ("Bubills") com um rendimento médio de -0,0122%, segundo comunicado do Bundesbank, o banco central alemão, que dirige as operações. A procura chegou a 7 bilhões de euros. É a primeira vez que uma emissão de títulos é feita com taxa negativa. Bancos também estão com medo de emprestar. Ontem, os depósitos por um dia no Banco Central Europeu (BCE) bateram recorde: 464 bilhões de euros.