Vitória no plenário é certa, diz Temer

Andrei Netto / Tânia Monteiro / Julia Lindner / Isabela Bonfim / Carla Araújo / Daiene Cardoso / Daniel

21/06/2017

 

 

Em visita à Rússia, presidente convocou entrevista coletiva de última hora para relativizar derrota da reforma trabalhista em comissão

 

 

O presidente Michel Temer afirmou ontem que a vitória do governo na votação da reforma trabalhista no plenário do Senado “é certíssima”. Depois da derrota na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), o presidente convocou de última hora uma entrevista coletiva em Moscou, na Rússia, para onde viajou em missão oficial, para assegurar que vai reverter o resultado.

Temer fez questão de dizer que a derrota é “muito natural”, porque os projetos passam por várias comissões. “O que importa é o plenário”, disse. “O plenário vai decidir e lá o governo vai ganhar. É maioria simples.” A linha de raciocínio foi adotada com o mesmo padrão por pelo menos cinco ministros de Estado, além de lideranças no Congresso, que deram entrevistas ou postaram vídeos nas redes sociais minimizando a rejeição do texto pelos senadores da CAS. Mas a declaração mais contundente veio do ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, que nominou parlamentares governistas que votaram contra a medida e criticou diretamente o aliado PSDB pela derrota.

Após “lamentar” o voto contrário dos senadores Hélio José (PMDB-DF) e Eduardo Amorim (PSDB-SE), o ministro classificou como uma “surpresa” a atitude, “principalmente porque o PSDB sempre alardeou ser favorável às reformas”. “Lamento muito que essas pessoas não tenham dimensionado essa sinalização (ruim para a economia).

E mais, pessoas que se diziam compromissadas. Mas isso não nos esmorece”.

Rebatendo as críticas de Moreira, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), lembrou que a posição de Amorim era de conhecimento público e aproveitou para estocar o governo que, em sua avaliação, “falhou” ao deixar a oposição vencer a votação.

“O governo levou todo mundo para Moscou e esqueceu da votação”, provocou Tasso, questionando o fato de os principais articuladores tucanos no governo terem viajado com Temer para visita oficial à Rússia na mesma semana da votação na CAS. Citou o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), que fazem parte da comitiva.

Henrique Meirelles (Fazenda) e Eliseu Padilha (Casa Civil) postaram vídeos nas redes sociais. “Episódios como este são absolutamente corriqueiros e esperáveis dentro do processo legislativo”, afirmou Meirelles.

Padilha foi ainda mais otimista dizendo ter “plena convicção” na aprovação do texto no plenário “com margem bastante dilatada de votos”.

O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), explicou a estratégia para os próximos dias de tramitação do projeto no Senado.

“O governo tem maioria e vamos aprovar o projeto na CCJ e no plenário”, afirmou. O senador explicou que irá pedir regime de urgência para projeto no plenário.

O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou que o resultado da votação na CAS teria matado a tramitação da reforma da Previdência na Câmara. “Não tem nada morto. Estamos, do ponto de vista fiscal, quase mortos, por isso a gente precisa da reforma da Previdência”, respondeu.

 

PARA ENTENDER

 

O caminho

da reforma

 

1. Projeto da reforma trabalhista é analisado por três comissões

Comissão de Assuntos Econômicos, de Assuntos Sociais e de Constituição e Justiça

 

2. Função das comissões

Cada comissão avalia o projeto e é produzido um relatório que é votado pelos membros

 

3. Tramitação

Parecer aprovado ou não, projeto segue a tramitação até chegar ao plenário

 

4. Relatórios

No plenário, relatórios servem de referência para que senadores avaliem o projeto

 

5. Autonomia

Plenário não precisa seguir recomendação dos pareceres e senadores votam pela aprovação ou rejeição do projeto

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45172, 21/06/2017. Economia, p. B3.