Direção do PSDB mantém apoio ao governo Temer

Igor Gadelha e Renan Truffi

13/06/2017

 

 

Permanência de tucanos na base é vitória de alas paulista e de Aécio; versão oficial defende avanço das reformas; partido, porém, vai esperar denúncia de Janot para nova análise

 

 

Principal fiador do governo Michel Temer no Congresso Nacional, o PSDB decidiu ontem permanecer na base aliada. O posicionamento foi tomado durante reunião da Executiva Nacional e de líderes do partido em Brasília. Os tucanos argumentaram que um rompimento, neste momento, poderia prejudicar a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista. Dirigentes discutem nos bastidores que, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolver Temer do pedido de cassação, o partido deve aguardar uma eventual denúncia contra o presidente a ser proposta pelo procurador- geral da República, Rodrigo Janot, até o fim deste mês.

Ex-ministro das Relações Exteriores de Temer, o senador José Serra (SP) foi o primeiro a anunciar a decisão, que representa uma vitória das alas paulista e da ligada ao senador afastado e presidente licenciado da sigla, Aécio Neves (MG). “Se os fatos mudarem, terão outras análises”, afirmou, em relação ao surgimento de novas implicações para o peemedebista. “É um governo que tocou adiante compromissos que assumiu conosco. Isso é visto como algo positivo”, disse.

O Estado mostrou ontem que Temer apelou ao governador paulista, Geraldo Alckmin, e ao prefeito de São Paulo, João Doria, para que eles agissem para esvaziar a reunião ampliada da Executiva. Presente ao encontro, Doria afirmou que Temer não recebeu um “cheque endossado”. “A avaliação será feita diariamente.” Aos correligionários, ele disse que o PSDB tem de ter em mente que o “principal adversário é o PT”.

Alckmin, também na reunião, afirmou que o PSDB deveria “observar” o cenário até a conclusão da votação das reformas. Conforme relatos, ele propôs antecipar a eleição para escolher novos membros da Executiva Nacional do partido, entre eles, o substituto definitivo de Aécio no comando da legenda.

A disputa interna está prevista para maio do próximo ano. O parlamentar mineiro está licenciado da presidência nacional desde 18 de maio, após ser atingido pela delação de executivos da JBS. Mesmo ausente, Aécio trabalhou, nos bastidores, para evitar o desembarque do PSDB. A avaliação de “aecistas” é a de que, se os tucanos romperem com Temer agora, o PMDB, partido do presidente e dono das maiores bancadas no Congresso, trabalhará a favor da cassação do mandato do senador mineiro no Conselho de Ética do Senado.

‘Sonhos’. O encontro foi comandado pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). “Esse não é o governo dos meus sonhos”, afirmou.

“Boa parte do PSDB entende que sem ministros no governo a coisa piora”, justificou o tucano. Participaram da reunião os quatro ministros da sigla – Bruno Araújo (Cidades), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

Jereissati afirmou ainda que o PSDB não decidiu fechar questão a favor da aceitação de eventual denúncia contra Temer enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Segundo ele, por enquanto, a orientação é que cada deputado vote como quiser.

Contra. Entre os que defendiam o desembarque, coube ao senador Ricardo Ferraço (ES) fazer a fala mais incisiva. Derrotado em seu posicionamento, ele defendeu a imediata entrega dos cargos em razão de “denúncias devastadoras” contra a gestão Temer. “A crise vivida pelo governo é insustentável”, disse.

Somaram-se a Ferraço os deputados João Gualberto (BA), Eduardo Cury (SP) e Betinho Gomes (PE). Ontem, eles disseram que vão continuar a defender a saída da gestão Temer. “Continuarei defendendo, e agora com mais convicção. A divisão de opiniões continua”, afirmou Gualberto, em entrevista à imprensa, ao deixar a reunião ampliada da Executiva Nacional e de demais líderes tucanas em que o partido decidiu permanecer na base aliada.

 

Baixa após decisão

Ex-ministro da Justiça de FHC e autor do pedido impeachment de Dilma, Miguel Reale Júnior deixou o PSDB. “Desisti diante das vacilações. Não se pode ser fraco diante da afronta a ética”, disse.

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A portas fechadas, 2018 e Aécio Neves

Vera Rosa

13/06/2017

 

 

A decisão do PSDB de permanecer no governo Michel Temer foi tomada após muitas negociações envolvendo as eleições de 2018 e a salvação do senador afastado Aécio Neves (MG). A portas fechadas, o presidente assegurou que o PMDB não terá candidato à sucessão e ofereceu como “dote” aos aliados o tempo de TV. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria – hoje os dois mais fortes nomes do PSDB para o Planalto –, apressaram- se em defender o apoio.

O discurso oficial foi a urgência das reformas da Previdência e trabalhista, mas, nos bastidores, a avaliação da ala pró-Temer é a de que manter o presidente “fraco” e “sangrando” pode ser conveniente. O aceno para a “salvação” de Aécio no Conselho de Ética do Senado – presidido pelo PMDB – também entrou nas negociações. O PSOL e a Rede pediram a cassação do mandato do senador logo após as delações da JBS.

A preocupação do Planalto era a de que a saída do PSDB “contaminasse” outros partidos da base aliada, provocando um “efeito dominó” de desembarque. Aloysio Nunes chegou a evocar até mesmo o clássico do escritor francês Gustave Flaubert para defender lealdade. “O PSDB não é Madame Bovary”, disse ele, há onze dias, em uma referência à personagem do século 19 que traiu um marido insosso e, acossada por dívidas, teve um fim trágico.

Na prática, o casamento de sobrevivência do PSDB com o PMDB continua, mas não se sabe por quanto tempo nem muito menos se vai durar até 2018. Em Brasília, nunca se viveu tanto a máxima “cada dia com sua agonia”.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45164, 13/06/2017. Política, p. A4.