Temer apela a Alckmin e Doria para manter PSDB

Alberto Bombig e Pedro Venceslau

12/06/2017

 

 

Presidente telefonou para os dois líderes paulistas para que reunião ampliada da Executiva do principal partido aliado do governo no Congresso termine sem decisão

 

 

O presidente Michel Temer apelou ao governador do Estado, Geraldo Alckmin, e ao prefeito de São Paulo, João Doria, para que eles trabalhem no sentido de esvaziar o caráter deliberativo da reunião da Executiva ampliada do PSDB marcada para hoje e que pode definir a saída dos tucanos da base aliada ao Palácio do Planalto. Após a vitória de Temer no julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na sexta-feira, o presidente, por meio de aliados e ministros do PSDB, pediu a Doria e a Alckmin que deem mais tempo a ele para reorganizar sua base e mostrar que o governo ainda tem força para aprovar as reformas defendidas pelo prefeito e pelo governador, principalmente a da Previdência. Dentro do próprio PSDB é dado como certo que Temer não conseguirá fazer as reformas sem o apoio dos tucanos.

O medo de Temer é de que a saída do PSDB do governo crie um “efeito manada”, na expressão de um senador do PMDB próximo a Temer, às vésperas de a Câmara dos Deputados analisar uma eventual denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente. Ou seja, a saída dos tucanos pode motivar outros partidos a seguir o mesmo caminho.

Na avaliação do Planalto, se os dois tucanos paulistas trabalharem para esvaziar a reunião de hoje ou para cabalar votos pela permanência do PSDB na base, a vitória de Temer estará garantida na Executiva, que tem 17 membros, caso haja uma votação deliberativa.

Rumo a 2018. Para auxiliares de Temer, as pretensões eleitorais de Alckmin e Doria favorecem um entendimento deles com o Planalto neste momento. A dupla também receia que a saída do PSDB da base governista leve o partido automaticamente para a oposição, o que favoreceria o PT e deixaria o governador numa posição de isolamento político para 2018. A ambos ainda interessaria manter Temer no cargo, ainda que com baixa popularidade, até 2018, quando um dos dois poderá ser o candidato a presidente.

No PSDB, a compreensão é de que a substituição de Temer, via eleição indireta no Congresso, poderia abrir caminho para Rodrigo Maia (DEM-RJ) ser candidato e permanecer no cargo de presidente, o que elevaria o cacife eleitoral do partido dele para 2018 e dificultaria um entendimento com os tucanos.

Até ontem à noite, Doria e Alckmin trabalhavam fortemente pelas pretensões de Temer dentro do PSDB. Porém, ambos não querem tomar o carimbo de “fiador” de um presidente prestes a ser denunciado no Supremo Tribunal Federal. Por isso, a dupla aceita dar mais um crédito a Temer, mas com prazo de validade definido e sujeito a uma mudança de rumos, na dependência de eventuais “fatos novos” e decisões da Justiça. Ontem, Alckmin manteve seu discurso: “O importante é que o PSDB vai apoiar as reformas.

Se vai preservar os ministérios, não importa”. O Planalto já tem apoios do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na Executiva, além dos quatro ministros tucanos – Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

Os governistas esperam aprovar neste mês a reforma trabalhista no Senado, enquanto reorganizam as forças na Câmara.

O Planalto receia que uma decisão desfavorável a Temer no PSDB, somada à repercussão da reportagem da revista Veja de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) espionou o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, desmobilize o Congresso.

Crise de identidade. A reunião de hoje ocorre num momento difícil na história do PSDB, fundado em 1988. Um tucano experiente lembrou uma frase do Manifesto ao Povo Brasileiro, feito pela sigla no ano da fundação: “Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, nasce o novo partido”. Para ele, este é o momento de o partido decidir de qual desses lados quer chegar até o ano que vem.

Hoje, o partido deve adiar mais uma vez a decisão. “A ideia é não tomar uma decisão. É muito curto o tempo entre a decisão do TSE e a reunião”, disse o secretário-geral do PSDB, deputado federal Silvio Torres (SP). / COLABORARAM IGOR GADELHA e GILBERTO AMENDOLA

 

IMPASSE

Tucanos se reúnem hoje para discutir a manutenção da aliança com o governo Temer

 

Permanência

No Senado

Tasso Jereissati (CE)

PRESIDENTE INTERINO DO PARTIDO

 

José Serra (SP)

EX-MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

 

Aécio Neves (MG)

(PARLAMENTAR ESTÁ AFASTADO)

 

Paulo Bauer (SC)

LÍDER DO PARTIDO NA CASA

 

Governadores

Geraldo Alckmin

SÃO PAULO

 

Marconi Perilo

GOIÁS

 

Ministros

Aloysio Nunes Ferreira

RELAÇÕES EXTERIORES

 

Antonio Imbassahy

SECRETARIA DE GOVERNO

 

Bruno Araújo

CIDADES

 

Luis linda Valois

DIREITOS HUMANOS

 

 

Desembarque

Na Câmara

Carlos Sampaio (SP)

VICE-PRESIDENTE DO PARTIDO

 

Daniel Coelho (PE)

LÍDER DO ‘CABEÇAS PRETAS’

 

Mara Gabrilli (SP)

 

Otávio Leite (RJ)

 

Prefeitos

Nelson Marchezan

PORTO ALEGRE

 

Orlando Morando

SÃO BERNARDO DO CAMPO

 

Diretórios

São Paulo

Rio Grande do Sul

Rio de Janeiro

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45163, 12/06/2017. Política, p. A4.