Pesquisa de Orçamento começa este mês, diz IBGE

Camilla Veras Motta

07/06/2017

 

 

Começa ainda neste mês a coleta da nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), disse o novo presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Roberto Olinto. Ao contrário do censo agropecuário - outra pesquisa de fôlego no calendário deste ano do instituto, que teve o orçamento cortado para menos da metade, R$ 500 milhões - os recursos destinados ao levantamento estão dentro do que foi previsto. "Nós queremos fazer a POF a cada cinco anos; essa vai ser nossa briga agora", afirmou durante entrevista coletiva em São Paulo.

Só a fase de coleta da POF dura cerca de um ano. Ela é uma espécie de radiografia de como gastam as famílias brasileiras e servirá de base, por exemplo, para reponderar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação. A intenção inicial da equipe, disse Olinto, era que a POF tivesse sido atualizada "há alguns anos". A mais recente é de 2009.

Sob nova direção, o IBGE não muda sua "lógica", mas algumas "diretrizes", explicou o novo presidente, em entrevista coletiva para a imprensa ontem, em São Paulo. "O IBGE não é seu presidente, é seu corpo técnico", ressaltou. Empossado no dia 1º, Olinto substitui Paulo Rabello de Castro, que assumiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) depois da saída de Maria Silvia Bastos Marques.

Há quase 40 anos no instituto, seu principal objetivo como dirigente IBGE é modernizá-lo, integrando as informações geradas internamente com aquelas disponibilizadas por outros "produtores de estatística", como a Receita Federal e os governos estaduais, que emitem as notas fiscais eletrônicas. A ideia seria criar uma espécie de "sistema nacional de informações oficiais".

Questionado sobre as mudanças divulgadas em abril nas pesquisas mensais de comércio e serviços, que provocaram ruído no mercado e as quais acompanhou de perto como diretor de pesquisas, Olinto reforçou o discurso do IBGE de que não houve revisão metodológica, apenas uma reponderação dos pesos e um expansão da amostra, e que os dados estão "corretos".

No caso da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), cujo dado inicialmente divulgado após a atualização, uma queda de 0,7%, foi revisto dias depois para alta de 5,5%, Olinto afirmou que foi ele mesmo que achou o dado "estranho" e pediu que a equipe reavaliasse o resultado. Com base na Pesquisa Anual do Comércio (PAC), usada como base para a reponderação dos pesos da PMC, o IBGE recalculou os fatores de expansão, o que teria provocado a mudança de patamar do resultado. "Você pode dizer que é assustador [o salto], mas é verdadeiro", afirmou Olinto.

É comum haver esse tipo de "degrau" no encadeamento de séries atualizadas, ele acrescenta, e esta é a recomendação internacional. A chamada "retropolação", a revisão de toda a série "para trás", só deve ser feita quando há mudança de conceito ou de classificação, como aconteceu com o Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado - os recursos aplicados em pesquisa, antes considerados apenas gastos, passaram a ser contabilizados como investimentos na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF).

A diferença grande entre dezembro e janeiro, ele diz, é uma comparação dessazonalizada, um dado de alta frequência, especialmente em um período como o atual, em que a economia ensaia saída da recessão. Na série "original" da PMC, a variação é calculada em relação ao mesmo período do ano anterior - a partir desse número é que se obtém o dado mensal. "O ajuste sazonal é algo a mais que a gente faz. Quem não gostou do nosso ajuste sazonal pode fazer seu próprio".

Questionado sobre o momento de divulgação da mudança, em que a maior parte dos indicadores frustrava as expectativas e não dava sinais claros de retomada, Olinto ressaltou que a atualização começou há dois anos. "A definição [da divulgação] não segue critérios políticos. O dado é publicado quando ele fica pronto".

Para ele, criou-se "uma discussão exagerada" sobre a atualização, com críticas "um pouco levianas" de alguns especialistas. Sem citar nomes, Olinto referiu-se a um artigo publicado pelo economista Marcos Lisboa em que ele afirmava que o IBGE havia "quebrado o termômetro" que se usava para fazer o diagnóstico da economia. "Isso nos chateia profundamente".

A única crítica que ele disse julgar pertinente foi a de que as atualizações deveriam ter sido comunicadas com maior antecedência, não apenas de um mês. Sobre o impacto das mudanças no Produto Interno Bruto (PIB), Olinto afirmou que "se não tivesse revisão, o PIB estaria errado".

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4271, 07/06/2017. Brasil, p. A4.