Joesley diz que Temer viajou em seu jatinho

Fabio Serapião

07/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Segundo empresário, presidente e a mulher usaram aeronave em 2011; Planalto nega

O dono da JBS, Joesley Batista, entregou à Procuradoria- Geral da República um diário de voo de seu jatinho com informações sobre viagens do presidente Michel Temer.

O caso foi revelado pelo site O Antagonista e confirmado pelo Estado. De acordo com os documentos do Learjet PR-JBS entregues pelo acionista do grupo J&F, Temer teria viajado com a mulher, Marcela, em 2011 em pelo menos duas oportunidades – na época, o peemedebista era vice de Dilma Rousseff.

Uma das viagens do casal relatadas no diário foi entre Comandatuba, na Bahia, e São Paulo. A outra foi para Porto Alegre. No diário de bordo consta a anotação “Família sr. Michel Temer”.

A equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai analisar as informações relativas ao jatinho para confirmar se as viagens foram realmente realizadas. A apuração, que servirá apenas como prova de corroboração sobre a relação de Temer com Joesley, será feita dentro do inquérito já instaurado contra o presidente.

O empresário entregou as informações sobre os voos para reforçar sua versão apresentada no acordo de colaboração premiada de que mantinha “estreita relação” com Temer.

Gravação. O empresário foi recebido por Temer na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu e gravou o encontro, no qual relatou a prática ilícitos ao presidente. Quando o teor do áudio veio a público, Temer disse que Joesley tentou três vez procurá-lo e que, após duas recusas, ficou “sem graça de não atendê-lo”.

Afirmou ainda que não sabia que o delator era investigado e que foi “ingênuo”.

Ainda segundo relato do dono da JBS, o ex-assessor de Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) teria sido indicado como intermediário com quem Joesley deveria tratar sobre assuntos de seu interesse.

Loures está preso na Superintendência da Polícia Federal de Brasília desde sábado passado.

Ele foi filmado correndo com uma mala de R$ 500 mil entregue por executivos da JBS.

Em nota, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto negou o uso do jato. “O então vice-presidente Michel Temer não foi a Comandatuba em janeiro de 2011. Ele foi no mês de abril para compromisso com o grupo Lide e utilizou aeronave da FAB para seu deslocamento.

Michel Temer também usou avião da FAB para deslocamento a Porto Alegre, no mês de janeiro”, informou a secretaria.

Avião da FAB

“(Temer) foi (para Comandatuba) no mês de abril para compromisso com o grupo Lide e utilizou aeronave da FAB.”

Palácio do Planalto

EM NOTA OFICIAL

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Lewandowski nega habeas corpus a Loures

Julia Lindner e Breno Pires

 

07/06/2017

 

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski indeferiu, ontem, o pedido de habeas corpus do ex-assessor do presidente Michel Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR), preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, desde sábado passado.

Lewandowski afirmou que a Corte não admite habeas corpus contra decisão monocrática de qualquer ministro e rejeitou analisar o pedido da defesa, que julgou “incabível”.

Loures é alvo, com Temer, de um inquérito aberto no STF por crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. Ele foi filmado carregando uma mala com R$ 500 mil, em uma das ações controladas feitas pela PF com delatores do grupo J&F.

Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o valor recebido era propina que pode ter Temer como destinatário.

Para a defesa de Loures, não houve flagrante. “Uma ação controlada não amplia a situação de flagrância, por isso, passada essa situação, não mais será possível a prisão por esse fundamento, porque de flagrante não mais se trata”, afirmou a defesa do ex-deputado.

Decisão. A prisão preventiva de Loures foi decretada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, no segundo pedido feito pela Procuradoria- Geral da República – o primeiro fora negado porque ele tinha a prerrogativa de parlamentar de ser preso apenas em caso de flagrante.

A decisão de Fachin foi tomada na noite de sexta-feira passada, um dia depois de Loures perder o mandato de deputado.

Até quinta-feira, ele era suplente de Osmar Serraglio (PMDB-PR), então titular do Ministério da Justiça. A saída de Serraglio da pasta, após a indicação de Torquato Jardim para o posto, e o retorno à Câmara dos Deputados deixaram o ex-assessor de Temer sem mandato e sem foro privilegiado no Supremo.

Loures é investigado por supostamente agir na condição de “homem de confiança” de Temer e interceder na diretoria do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em benefício da JBS. Em áudio gravado pelo empresário Joesley Batista, da J&F, Temer indica Loures como seu interlocutor.

Hoje, Loures deve ser transferido da carceragem da Polícia Federal para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília/

 

O Estado de São Paulo, n. 45158, 07/06/2017. Política, p. A7