Raquel Dodge convida grupo da Lava-Jato de Brasília a permanecer

JAILTON DE CARVALHO

DIMITRIUS DANTAS

15/08/2017

 

 

 

Força-tarefa, no entanto, deve atuar sob o comando de equipe da procuradora

A futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, convidou os integrantes da Grupo de Trabalho (GT) da Lava-Jato em Brasília a permanecer na força-tarefa mesmo depois da saída do procurador-geral Rodrigo Janot, em 18 de setembro.

Raquel fez a proposta aos procuradores e promotores do grupo e, depois, falou sobre o assunto na reunião que teve com Janot ontem. A formação do GT não define, mas serve como indicador da linha de atuação da futura procuradora-geral nas investigações sobre deputados, senadores, ministros e até o presidente Michel Temer.

Raquel fez o convite aos integrantes do grupo para que permaneçam na equipe a partir de uma pergunta de Janot sobre a força-tarefa. Janot quis saber se a substituta iria ou não manter o GT. Em resposta, a futura procuradorageral chamou os investigadores a permanecerem onde estão. Observadores do caso entendem, no entanto, que o chamado é uma mera formalidade. Raquel já escolheu alguns auxiliares para coordenar as investigações. Entre eles estariam os procuradores José Alfredo e Raquel Branquinho, autores da denúncia do mensalão.

O GT é formado por sete procuradores e dois promotores. O grupo, aliás, é coordenado hoje pelo promotor Sérgio Bruno. A troca ou permanência da equipe da Lava-Jato tem sido um dos focos de maior tensão entre as equipes de Janot e Raquel. Isso porque a futura procuradora-geral fez campanha como uma anti-Janot, o que era entendido como uma crítica também aos auxiliares diretos do procurador-geral.

 

ROCHA LOURES EM AÇÃO

Também ontem, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da Lava-Jato, revelou, em Curitiba, que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures serviu como emissário para tentar marcar um encontro entre Temer, então vice-presidente, e procuradores da força-tarefa da Lava-Jato.

Loures teria procurado representantes do Ministério Público Federal de Curitiba um dia antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff. O convite foi feito, portanto, antes do flagrante de Loures com a mala com R$ 500 mil em propina, O encontro seria à noite, no Palácio do Jaburu, no que seria uma reunião fora de agenda, tal qual Temer teve recentemente com Raquel Dodge.

Segundo Carlos Fernando, os procuradores declinaram alegando que não consideravam “conveniente”.

— Estávamos recebendo um prêmio em Brasília e houve um emissário do presidente que nos convidou a ir ao Palácio. Acreditamos que não era conveniente, não havia por quê, e acreditávamos também que não haveria uma repercussão positiva para a Lava-Jato — disse Carlos Fernando.

No encontro com Rocha Loures, Carlos Fernando afirmou que os procuradores trataram de temas de interesse da operação, como a manutenção da equipe da Polícia Federal em Curitiba. (*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire).

O globo, n.30689 , 15/08/2017. PAÍS, p. 3